30.6.09


24/6 - Auto-citação: 'viajando por paisagens de fertilidade e abundância/por bosques dourados, em deleites de energia.' Pendurei na sala um mapa gigante do Brasil. Fico horas a contemplar os nomes mágicos das suas terras, os robustos caudais dos rios, as misteriosas linhas de fronteira na Amazõnia. Fixo os contornos sensuais da costa, como quem percorre as coxas húmidas de uma mulher desejada. Eis a minha terra de sonhos, o Quinto Império, o futuro. O Brasil é Portugal à solta!

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Baby!I'm so alone
Vamos pra Babylon!
Viver a pão-de-ló
E möet chandon
Vamos pra Babylon!
Vamos pra Babylon!...

Gozar!
Sem se preocupar com amanhã
Vamos pra Babylon
Baby! Baby! Babylon!...

Comprar o que houver
Au revoir ralé
Finesse s'il vous plait
Mon dieu je t'aime glamour
Manhattan by night
Passear de iate
Nos mares do pacífico sul...

Baby!
I'm alive like
A Rolling Stone
Vamos pra Babylon
Vida é um souvenir
Made in Hong Kong

Vamos pra Babylon!
Vamos pra Babylon!...

Vem ser feliz
Ao lado deste bon vivant
Vamos pra Babylon
Baby! Baby! Babylon!...

De tudo provar
Champanhe, caviar
Scotch, escargot, rayban
Bye, bye miserê
Kaya now to me
O céu seja aqui
Minha religião é o prazer...

Não tenho dinheiro
Pra pagar a minha yoga
Não tenho dinheiro
Pra bancar a minha droga
Eu não tenho renda
Pra descolar a merenda
Cansei de ser duro
Vou botar minh'alma à venda...


Eu não tenho grana
Pra sair com o meu broto
Eu não compro roupa
Por isso que eu ando roto
Nada vem de graça
Nem o pão, nem a cachaça
Quero ser o caçador
Ando cansado de ser caça...


Não tenho dinheiro
Pra pagar a minha yoga
Não tenho dinheiro
Pra bancar a minha droga
Eu não tenho renda
Pra descolar a merenda
Cansei de ser duro
Vou botar minh'alma à venda...

Eu não tenho grana
Pra sair com o meu broto
Eu não compro roupa
Por isso que eu ando roto
Nada vem de graça
Nem o pão, nem a cachaça
Quero ser o caçador
Ando cansado de ser caça...

Ai, morena! Viver é bom
Esquece as penas
Vem morar comigo
Em Babylon...(4x)

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29.6.09

MISERABILISMO português...

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pensamento do dia

FUMA um charro diz caralho lê o relatório come
AQUELE que, para mim, é o melhor cronista e escritor espanhol da actualidade - Javier Marias - fala dos vícios que conduziram à actual crise.

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"MICHAEL vowed to do whatever it took to make people "love me again." The rejection fueled his ambition to be the biggest pop star in the world and to try to make his face beautiful. Unfortunately, Michael's need was so great that no amount of love seemed to be enough.
The stage was his sanctuary. There, he was larger than life and no one could threaten him. Every time he left the stage, he said, he felt vulnerable again.
In the 1981 interview, he told me, "My real goal is to fulfill God's purpose. I didn't choose to sing or dance. But that's my role, and I want to do it better than anybody else. I still remember the first time I sang in kindergarten class. I sang 'Climb Every Mountain,' and everyone got so excited. "It's beautiful at the shows when people join together. It's our own little world. For that hour and a half, we try to show there is hope and goodness. It's only when you step back outside the building that you see all the craziness."
Michael's hunger for fame and success struck me as increasingly obsessive and unhealthy."

(Excertos de um excelente artigo sobre Michael Jackson, escrito por Robert Hilburn , critico de música do Los Angeles Times entre 1970 e 2005)

28.6.09

Escutas do CJ

OS colhões pra ir ao mar

[escritor/historiador]"Portugal é como aquele gajo que andou a foder pelo mundo fora e que não se responsabiliza pelos seus filhos, que os abandona. Não temos noção do património cultural que espalhámos pelo mundo. É que nós não fomos como os outros, nós fizemos uma miscigenação e criámos o mulato, nós civilizámos. Nós misturámo-nos, os outros não, foram apenas impor os seus valores, chacinar se fosse preciso e fazer negócio. Foda-se, andamos agora de perna aberta para a Europa e eles tratam-nos como se fossemos uns atrasados, quando fomos nós os primeiros a dar o mundo à Europa, fomos nós que tivemos os colhões para nos fazermos ao mar, fomos nós os primeiros a trazer riqueza para a Europa
[à parte do angolano]...não é de perna aberta, Portugal está de cu virado para a Europa, a ser enrabado à força toda
[escritor/historiador] é que Portugal, em vez de andar a pedir esmolas à Europa...
[à parte do angolano]...filhos da puta
[escritor/historiador]...devia aliar-se ao mundo que inventou na América, na Ásia, na África. Repito: foram os portugueses que tiveram os colhões para ir para o mar em cascas de noz e dobrar o adamastor. Tenho orgulho nessa merda."



Por outras palavras:

Os vossos, mores cousas atentando,

Novos mundos ao mundo irão mostrando.

«Fortalezas, cidades e altos muros

Por eles vereis, filha, edificados;

Os Turcos belacíssimos e duros

Deles sempre vereis desbaratados;

Os Reis da Índia, livres e seguros,

Vereis ao Rei potente sojugados,

E por eles, de tudo enfim senhores,

Serão dadas na terra leis milhores.

«Vereis este que agora, pressuroso,

Por tantos medos o Indo vai buscando,

Tremer dele Neptuno de medroso,

Sem vento suas águas encrespando.

Ó caso nunca visto e milagroso,

Que trema e ferva o mar, em calma estando!

Ó gente forte e de altos pensamentos,

Que também dela hão medo os Elementos!

«Vereis a terra que a água lhe tolhia,

Que inda há-de ser um porto mui decente,

Em que vão descansar da longa via

As naus que navegarem do Ocidente

Toda esta costa, enfim, que agora urdia

O mortífero engano, obediente

Lhe pagará tributos, conhecendo

Não poder resistir ao Luso horrendo.

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ALBERT Cossery viveu a maior parte da vida em Paris, escreveu sempre em francês, mas o seu mundo era outro. Nascido no Cairo, retratou todo o saber ocioso dos marginais e pobres do seu país. A pergunta que decorre da sua obra é sobretudo uma: porquê trabalhar?
Por Ricardo Dias Felner

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27.6.09

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26.6.09

pensamento do dia

"OS portugueses nunca couberam no berço"
Miguel Torga, em Macau

EU não quero ver o Tejo me escorrendo das mãos (na minha versão)

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25.6.09

pensamento do dia

COMO é que uma coisa que outrora me deixaria tão imensamente feliz, me pode agora suscitar indiferença, ou, pior ainda, pesar?

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24.6.09

pensamento do dia

QUANDO a conheci, fumava Lucky Strike.
RED Propaganda Banners

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O planeador

JEFF Choi é um macaense com gosto pela política, pelo debate e pela participação em organizações que procurem “servir a sociedade”. O envolvimento do arquitecto no movimento associativo remonta aos tempos do liceu, mas em Janeiro Jeff fundou aquela que é a “pérola dos seus olhos”. A “Y-Life – Macao Youth Life Association”, na qual aplica os seus tempos livres.
O jovem de 29 anos está numa fase profícua da sua vida, com a concretização de projectos que tem vindo a desenvolver há anos. Para além da associação agora criada, está a ser concretizado o seu primeiro projecto arquitectónico, cujas imagens exibe com orgulho ao Hoje Macau. Trata-se do novo edifício do Instituto Politécnico de Macau, que se encontra em construção. Na calha estão outros projectos, como o da expansão da Pousada de São Tiago, também na RAEM.
A Y-Life tem como principal objectivo servir como espaço de apoio para jovens em inicio de carreira e com empregos stressantes, que ali podem relaxar, conversando, vendo filmes e trocando ideias. Outro dos objectivos desta organização, que conta com o apoio de membros da Assembleia Legislativa e de grupos congéneres de Hong Kong, é a realização de trabalho caritativo (junto de lares de idosos, por exemplo) e de debates. Um dos mais animados até ao momento foi sobre as três propostas para o trajecto do metro de Macau, cujas conclusões deverão ser divulgadas em forma de relatório. São cerca de 100 os colaboradores da Y Life. “Tratam-se de jovens engenheiros, estilistas, publicistas e outros criativos”, descreve o fundador.



O gosto pela arquitectura começou a manifestar-se claramente durante a adolescência de Jeff Choi, fruto da apetência pelo desenho e da construção de modelos. Hoje, para além de trabalhar na “Top Builders Group”, já criou o seu próprio ateliê, para projectos mais pessoais. Numa cidade em Macau, que está em mudança urbanística contínua, o arquitecto constata que “há muitas oportunidades para os arquitectos, visto que os projectos não ficam limitados ao papel”. Segundo recorda, nos tempos da administração portuguesa havia menos oportunidades para os arquitectos. Mas o novo cenário não implica, na opinião de Jeff, que tenham que haver excessivos receios em relação aos perigos de eventual descaracterização da cidade: “O Executivo considera o planeamento urbano como muito importante. Por isso , é necessário aumentar o conhecimento nesta disciplina para ir ao encontro dos requisitos de conservação do património. Isto porque as construções dos casinos são de grandes dimensões quando comparadas com os edifícios do centro histórico. É possível conciliar o desenvolvimento com a manutenção do estilo tradicional de Macau.”
Até agora, a única temporada que Jeff Choi passou fora de Macau aconteceu durante os seus estudos universitários, em Pequim. No futuro, o arquitecto só considera a possibilidade de sair da RAEM se for para continuar a estudar arquitectura, por forma a poder “construir mais”. O trajecto deste empreendedor leva-nos a pensar que podemos estar perante um político em potência. Algo que o próprio não coloca nos seus horizontes mais próximos. “Pretendo ficar em Macau, terra de que gosto muito, para contribuir com as minhas capacidades para a sociedade. Farei o meu melhor para ser um arquitecto e manterei uma voz pública quanto ao planeamento urbano e a preservação do património.”
Paralelamente à associação e ao trabalho, Jeff Choi gosta de ir acompanhando a actividade politica e os grandes projectos que se preparam para a cidade. Sempre tendo em conta que “os jovens arquitectos devem ter preocupações em termos de responsabilidade social”.
(Texto:P.B.; Foto: António Falcão)

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23.6.09

EM casa, ter poemas de Han Shan
é melhor do que ler sutras.
Escrevam os poemas num biombo
e olhem-nos, de vez em quando.

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É um jovem afável, de bom aspecto,
conhece bem os clássicos, a História.
Toda a gente lhe chama "professor",
falam sempre do "senhor letrado".
Mas ele é incapaz de chegar a mandarim,
também não sabe utilizar uma charrua.
De Inverno, usa roupa esburacada, treme de frio,
tudo por causa do engano dos livros.

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Na Montanha Fria, apenas nuvens brancas,
longe da poeira, o silêncio, o silêncio,
almofadas de erva para o homem da montanha,
a lua redonda, clara como candeia solitária,
um leito de pedra junto ao lago de jade,
por vizinhos tenho veados e tigres.*
Gosto da alegria de viver longe de tudo,
fora das normas, para além das formas.


*NT: O veado é símbolo da compaixão, o tigre está associado às paixões interiores.


Poemas de Han Shan, traduzidos directamente do chinês para português por António Graça de Abreu

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WOW,Have love
Whoa baby will travel,
Uh huh, uh huh,have love
Woah baby will travel

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22.6.09

Visões de Macau (13)




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GUESS you dreams always end.
They don't rise up, just descend,
But I don't care anymore,
I've lost the will to want more,
I'm not afraid not at all,

I watch them all as they fall,
But I remember WHEN WE WERE YOUNG.

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21.6.09

pensamento do dia

CRASHEI

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20.6.09

UM tal letrado Wang
ri dos meus poemas, toscos e desajeitados.
Alguns não usam cintura de vespa,
a outros faltam-lhe joelhos de grou.*
os versos ignoram tons e rima,
as palavras são usuais, vulgares.
Eu também me rio dos poemas do tal letrado Wang,
parece um cego em louvaminha ao sol.

*NT: Na poesia clássica chinesa existem regras a cumprir na elaboração do poema. Na linguagem técnica do chinês tonal chama-se feng yao, "cintura de vespa" à necessidade de, em cada verso, o segundo e o quarto carácter terem o mesmo tom, e denomina-se he xi, "joelhos de grou" à mesma equivalência de tons entre o quinto, o décimo e o décimo quinto caracteres. Não se trata propriamente de rima segundo os conceitos da versificação em línguas ocidentais, mas de uma espécie de ondulação tonal natural no interior dos versos, que cadencia as sílabas.


Poema de Han Shan, tradução de António Graça de Abreu

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19.6.09

pensamento do dia

"FERRAMENTA essencial para o jornalista é ler poesia, que nos ajuda a ver o que não está à vista"
Sena Santos

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18.6.09

THE real cost of genuine journalism. Interessante asserção: "What makes the value of PolitiFact — and of its Pulitzer Prize — is precisely its focus on small but high quality output. That’s the opposite of the dominant part of the internet culture where many sites tends to publish first and check later (on their best days). Performance is measured by the level of controversy created more than by the information value. In physics, it is called the signal-to-noise ratio; it compares the level of a desired signal (in that case: genuine journalism) to the level of background noise that tends to corrupt the signal."

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Infiltrámo-nos no barco do amor

Por: Ricardo Dias Felner (que hoje faz anos, parabéns pá!) Reportagem brilhante, publicada na Sábado. Para escrever isto, é preciso ter olho. É por trabalhos como este que, para além de meu grande amigo, Felner é já um dos melhores repórteres portugueses.

"MAL o cantor Boss AC acaba a sua actuação, o palco do salão de festas do navio Funchal transforma-se numa discoteca. Inês e Sofia saltam imediatamente das poltronas e colocam-se bem no centro da pista. Atrás delas, segue um grupo de jovens musculados, visual boys band, as t-shirts abertas, coladas aos peitorais depilados. Durante alguns minutos dançam a uma distância respeitável, estudando-se mutuamente, elas aplicando-se mais nas coreografias, ousando cada vez mais, eles multiplicando-se em segredos, procurando o momento certo para investir.
Paulo, o mais extrovertido do grupo, faz rapidamente a sua escolha. Inês, uns 30 anos, irradia energia e saúde: o vestido muito curto, o rabo empinado – frenético -, os cabelos loiros e compridos varrendo o ar ao ritmo da música electrónica. Brilhava. Ainda num balanço tímido, o rapaz começa por procurar-lhe os olhos, conseguindo um sorriso fugaz e depois outro e outro. Aproxima-se dela lentamente, adaptando-se ao seu ritmo, copiando-lhe o meneio do corpo cada vez mais intrépido, em transe, o suor escorrendo pelo decote.
Já madrugada, o enlace surge despudorado. Acabam agarrados no meio da pista, rodopiando, ela saltando-lhe para o colo, depois virando-se, ele encaixando-se nas suas costas – os amigos de Paulo assobiando como se estivessem num clube de streap tease, a amiga de Inês posta de parte, procurando outras companhias.
Começava assim o primeiro romance do Cruzeiro Holmes Place, cinco horas após o navio Funchal largar do Cais de Conde d’Óbidos, em Lisboa, no passado dia 19 de Abril. Ao todo seriam quatro dias no mar, quatro dias dedicados ao fitness e à diversão – numa viagem que iria até Cartagena, passando no regresso por Málaga e Cádiz, na costa sul espanhola. A bordo, seguiam mais de duas centenas de utentes da famosa cadeia de ginásios, a maioria com idades entre os 25 e os 50 anos – a maioria solteiros; vários artistas portugueses contratados para animar os passageiros (para além de Boss AC, Lúcia Moniz, os Pólo Norte, Drive, a actriz Paula Neves, os comediantes Marco Horácio e Aldo Lima, e o DJ Miguel Simões); uma equipa de reportagem do programa Só Visto, da RTP; e um jornalista infiltrado da Sábado – eu próprio.
Ao final do primeiro dia, resultava claro, para mim, que nem toda a gente estava ali para o desporto, ou apenas para o desporto. Elsa, 52 anos, faria uma confissão impressiva dessa motivação. “Viemos de Aveiro. Somos alguns 30, um grupo fantástico. Logo na camioneta começámos a beber. Houve pessoal que trouxe garrafas de vinho de Porto. Espectacular”. A aparente incompatibilidade entre o álcool e o “espírito sportive” do cruzeiro não a preocupava: “Estou aqui para dançar e para me divertir. Não tenciono ir às aulas.”

Eu tencionava, estava obrigado a reportar isso.

Ao segundo dia, depois do almoço, já ultrapassada a costa do Algarve, dezenas de passageiros, deitados nas esteiras em redor da piscina, na popa do navio, são sobressaltados pelo anúncio da aula de ragga. Mariana, uma morena de 20 e poucos anos, vocabulário de liceu, grita para o microfone acoplado à sua orelha: “Está tudo fixolas? Como é, vêm dançar comigo?” Lentamente – surpreendentemente - boa parte começa a posicionar-se em frente à rapariga, que trás consigo uma ajudante. Ragga consiste basicamente em dançar ao som de música reggae. Mas só basicamente.
Não testei o ragga, mas experimentei o body jam. Novo professor, o mesmo estilo. “Esta é a aula da boa onda. Vai ser bueda fixe”, anuncia um rapaz de calções largos e compridos, quase um balão até aos pés. A música berra No turning back in this party. O instrutor é pedagógico. “Vejam como eu faço. E um e dois e três”. Arrisco tentar. A ideia é movimentar o tronco, sem mexer a anca. Impossível. Se inclino os ombros para o lado, a anca vai atrás. Está tudo preso. Depois o contrário: só a anca. Vejo outras pessoas com dificuldades. Mário insiste, exemplifica, parece o Mickael Jackson, ainda que tatuado, versão vocalista de banda rock para adolescentes. “Quem souber abanar a anca assim é feliz. Olhem aqui a Ana, a Ana é feliz”. A música acelera nesse momento, de forma progressiva, e um dos alunos mais habilidosos consegue acompanhar o ritmo com os golpes de anca. Toda a gente se coloca à sua volta, gritam “dá-lhe, dá-lhe”, enquanto ele acelera até ao clímax. Uuuuuuuu.
Deixo-me ficar deitado. Horas depois, ao pôr-do-sol, já quase toda a gente desceu para os quartos para se arranjar para o jantar. Só Paulo e Inês permanecem na popa. Ela agarra-se a ele, estica-se para a sua boca em bicos de pé, muito juvenil. Ele passa-lhe as mãos pelas costas, ternurento, depois abraça-a. Ela parece apaixonada, como se o conhecesse há mais tempo. Por fim, saem os dois juntos, o braço dele por cima do seu ombro, o sol a pôr-se. O estreito de Gibraltar já foi dobrado.
Ao jantar, muita gente vestida no espírito flower power, tema sugerido para o traje dessa noite. João, 57 anos, natural do Porto, aparece no restaurante de lacinho e camisa de cetim. Conhecera-o na noite anterior. Tem uma doença grave no coração, tem apoio psiquiátrico, está aposentado, mas faz ginásio todos os dias. “O Holmes Place é o meu centro de dia”, ironiza. A mulher trocou-o recentemente por um advogado e entretanto arranjou outra companheira. Não totalmente satisfatória. “Ficou em casa. Vir sozinho tem o seu encanto, pode ser que engate uma miúda. Estão aqui uns pacotes. Você já engatou alguma?”, pergunta-me, segredando ao ouvido.
Na mesma mesa, a dona Judite e o marido, ambos septuagenários, percebem o ambiente que os rodeia. Não se inscreveram na viagem pelo Holmes Place, mas através de uma agência de turismo. São assíduos em cruzeiros, já fizeram dezenas deles, nenhum com tanta juventude e ousadia. A mulher - cabelo armado, blusa com brilhantes - fala dos valores, da perda de valores, das “mulheres de hoje”. É conservadora e perspicaz. “Eu bem as vi hoje lá na piscina a atirarem-se aos rapazes. Era um grupo delas e meteram-se na piscina com eles. Elas é que atacaram. Hoje em dia elas é que atacam”. João mantém-se em silêncio, faz um sorriso discreto, os olhos detendo-se na sopa.
Entretanto, chega à sala Sofia, a amiga de Inês. A sua mesa é mesmo ao lado. Inês não está lá: no seu lugar sentou-se um homem barrigudo, um dos solteirões do cruzeiro, e está uma outra amiga. Sofia parece perdida, hesitante, olhando em volta. Finalmente, senta-se no lugar que lhe estava reservado, cumprimentando o desconhecido. Já o jantar vai a meio quando surge finalmente Inês, os cabelos ainda molhados. Dá uma explicação curta, ri-se nervosa - as amigas riem-se nervosas, falsas - e depois dirige-se para a mesa do gangue da musculação, sempre muito efusivo e barulhento. Paulo tem o cabelo parecido com o de Cristiano Ronaldo, um desalinho com gel, e ostenta uma t-shirt onde se lê: Grand Opening. Sofia comenta para a amiga: “Deixa-a. Deve estar a divertir-se”. A amiga responde: “Cada um sabe de si, ela é responsável pelas opções que toma.” O tom é grave.
Não passaram 48 horas, desde a largada de Lisboa, mas toda a gente parece conhecer-se há mais tempo. Alguns, deduz-se que se conhecem há mais tempo. Dois instrutores do Holmes Place, por exemplo, cochicham a sós, discretamente, quando a maioria dos comensais já subiu para o salão de festas. Como o Holmes Place recomenda discrição nas relações entre membros do staff, e entre staff e alunos, não praticam carinhos em público: ele come com as fitnesses, ela com as colegas do ginásio. Não é contudo a primeira vez que os surpreendo trocando mimos.
A razão porque os ginásios aconselham discrição e cuidado nas relações amorosas é simples. Um personal trainer descreve-me um longo role de conflitos por causa disso. Desde a veterinária brasileira, “uma brasa, ainda por com dinheiro”, que se pôs a discutir com o seu ex-amante e personal trainer em frente de toda a gente, na zona dos aparelhos, levando ao despedimento do rapaz; até ao personal trainer do Holmes Place, com um “sorriso fatal” e um amplo séquito de fãs” , por quem uma mulher rica se apaixonou, mimando-o com prendas escandalosas. “A dada altura deu-lhe uma mota e tudo. Foi demais. O marido descobriu e divorciou-se dela”.

Nada que preocupe boa parte dos convivas do navio Funchal.

No salão Ilha Verde, os grupo Pólo Norte põe toda a gente em delírio. Miguel Gameiro, o vocalista, joga na interacção com o público. Agora só vocês, agora só os homens, agora só as mulheres. Os restantes artistas convidados parecem estar, no entanto, noutra onda. Há sessão de karaoke no bar Gama. Estão lá todos, distribuídos pelos sofás. Ao balcão só eu e uma jovem, com muito pouca roupa: no tronco, apenas um bocado de tecido cobrindo-lhe o peito, a barriga destapada, leve ondulação bronzeada, pontilhada por um piercing com um penduricalho brilhante no umbigo, os ossos da anca acima das calças, salientes, nus. Um dos artistas, posicionado junto à mesa de som, apercebe-se da sua presença, olha de soslaio. Depois sai pela porta mais próxima e volta logo a entrar por outra – a porta que fica junto à rapariga – sentando-se ao seu lado. Bom truque, embora evidente: todos os outros bancos estão livres.
O artista parece tímido, ela também. Ficam os dois assistindo a uma jam session que entretanto começou, sem se falarem. Dois rappers improvisam rimas que acabam sempre com o número dos seus quartos no navio: “If you want... go to room number...” Três instrutoras vivaças, que não largam os músicos desde o primeiro dia, aplaudem efusivamente. Entretanto, duas amigas da rapariga sentada ao balcão, entram nessa altura na sala. Mas vendo-a acompanhada dão meia volta para trás. Minutos depois, o artista e a barriga bronzeada conversam recatadamente num sofá. Nasce um novo romance.
Na noite seguinte, o casal perde a timidez. Ela já dança com o artista, andam sempre juntos. A amiga, por sua vez, parece embeiçada pelo assistente do artista. Se na noite anterior ambas as raparigas pareciam tristonhas, deslocadas, agora a pista é delas – soltam-se. A barriga morena abre as pernas, movimentando-se de forma lânguida, baixando lentamente o ventre; a amiga agarra-a por trás, esfrega-se nela, as mãos passando-lhe pelo corpo, as duas muito suadas. O assistente do artista grava tudo em vídeo, filmando-lhes o corpo bamboleando, como um click hip hop da MTV. Elas aumentam a cadência.
O casal de instrutores, por sua vez, ganha cada vez mais intimidade. Permanecem fora da pista, na zona alcatifada, ele dando-lhe murros ternos na barriga, ela rindo-se muito. Sempre sem se assumirem. A prova da relação obtive-a, todavia, pouco depois. Quando desci para me deitar, num dos corredores labirínticos e claustrofóbicos do último piso, apanho-os entrando para o quarto. A rapariga olha-me assustada, fechando a porta rapidamente, sem qualquer cumprimento.
Ao terceiro dia experimento RPM logo de manhã. Não parece difícil: uma bicicleta estática, ao som – muito alto - de música remisturada, boa parte temas dos anos 90 do tipo What’s Up, das 4 Non Blondes (“and I say hey hey hey hey, I say hey, what's going on?”). Em síntese, dar ao pedal em ambiente de discoteca. Luís, o instrutor, um dos personal trainers mais populares e extrovertidos do navio, carrega no play do seu MP3 e dá início à sessão. Vamos embora. Os alunos soltam gritos de excitação, à medida que aumenta o ritmo da pedaleiro. De início ainda aguento o ritmo, mas meia-hora depois, quando Luís anuncia a subida da Serra da Estrela – “vamos embora, todos de pé, metam carga nisso” – sucumbo. As pernas tremem-me, não consigo vencer o peso dos pedais. Todos os outros prosseguem, uma e outra vez, rodando solto, depois começando a meter peso, pedalando de novo de pé, voltando a rodar solto, voltando a apertar. A música é essencial, como em todas as aulas de fitness: é ela que marca as acelerações e as coreografias. Mesmo agarrados às bicicletas, dança-se com os braços, batem-se palmas. No final, garante uma das colegas de treino, “fica-se mais bem disposto e perdem-se muitas calorias”.
Já à hora do almoço tenho uma prova terrível da minha prestação desportiva. Mário, um velhinho de 85 anos, viúvo, oito diopeterias mas uma lucidez incrível, que costuma fazer filmes nos cruzeiros do Holmes Place (para disfrute próprio), sem se lembrar de me ver na aula de RPM, conta-me: “As aulas de RPM dão grandes filmes. Por acaso a de hoje não foi grande coisa”. Porquê? “Por duas razões: primeiro, havia lá uns que não acompanhavam o ritmo; e depois elas estavam muito vestidas”.
Uma das mulheres que não estavam muito despidas era Luísa. Está em processo de divórcio, tem uns 50 anos, entrou para o Holmes Place há pouco tempo. Boa parte das pessoas que se inscrevem nos ginásios são mulheres divorciadas. Recordo o que me contou Joaquim, um amigo personal trainer, que já passou por várias cadeias de ginásios. “Procuram parceiros, procuram ficar mais bonitas”. Algumas são assanhadas – e frequentemente dirigem a sua libido para os personal trainers. “Já vi cenas de peixeirada num dos melhores ginásios de Lisboa entre o mulherio. Descobriram que partilhavam o mesmo professor. São senhoras que só descansam quando conseguem comer o professor”, conta Jorge, concretizando: “As coisas acontecem no parque de estacionamento, nos balneários e noutros recantos porque a tesão acelerada nem deixa chegar a casa”. Os esquemas de sedução são também são os mais diversos: os bilhetinhos deixados no limpa vidros do carro; os encontros em certos bares, à noite; as mensagens no telemóvel. “Muitos casamentos estragaram-se por causa destes flirts”.
Exemplo disso foi o que aconteceu com Catarina, que conhecera antes de embarcar. Casada com um homem demasiado ciumento e vigilante, a mulher, 40 anos, viu no ginásio um escape. Dois anos depois, conheceu um personal trainer, também com uma relação estável, antiga, de mais de 20 anos. Vivem juntos há dois anos. O personal trainer, Rui, assume tudo. Apaixonou-se por ela, começou a tocá-la em zonas erógenas na série de alongamentos, depois almoçaram juntos, depois deram o primeiro beijo no carro, depois foram para a cama – por fim, saíram de casa e juntaram-se. Rui acrescenta outros episódios de sedução. Dá exemplos. Certa vez, um casal de alunos convidou-o para uma ménage. “Quando fiz anos, ofereceram-me um colar e dentro do embrulho estava uma fotografia deles na banheira.” Noutra situação, apaixonou-se por um colega: ao longo de dois anos mantiveram uma relação adúltera. Uma outra aluna foi completamente descarada: “Disse-me que amava o marido, mas que era capaz de amar muita gente. Que só queria sexo”. Frequentemente trata-se apenas do gosto pelo picante. “Há em todo o lado essa atracção pelo sexo, mas as pessoas dos ginásios estão mais despidas e têm mais endorfinas”, admite um outro PT.

No jogo A Guerra dos Sexos, organizado pelos animadores do navio, durante a tarde, num dos bares, parece confirmar-se essa reflexão. De um lado só homens, do outro mulheres. Eles fazem perguntas, elas fazem perguntas. E ganha quem obtiver o maior número de respostas certas. Primeira pergunta deles: Que parte do corpo da mulher cheira a banana? Resposta: O nariz. Ultima pergunta delas: Qual o número do soutien da Marisa? (Marisa é uma das participantes: levanta-se, exibe o busto proeminente, as mãos na anca, volta a sentar-se.) Resposta certa: 36 C.
Mas é à noite que quase tudo volta a acontecer. Na véspera da chegada a Lisboa, num arraial de santos populares, na proa do navio, toda a gente dança com toda a gente. À sangria, sardinhas e muita animação. João surge todo suado e temo pelo seu coração. “Hoje é que vou dar uma stickada”, atira, depois de rodopiar com Susana, a mulher que melhor dança no navio – um verdadeiro furacão. Susana não parara um segundo desde que embarcara. De dia, multiplicava-se em aulas de fitness, às vezes quatro; à noite, dançava até a música acabar. Após o arraial, pelas 3h00 lá estava ela, sempre sorridente – “chamaram-me a Miss Simpatia do navio” –, as mãos nas ancas de um músico que conhecera ali, ele introvertido, rígido, sem se virar para trás. No intervalo para fumar um cigarro, na zona restrita, confessaria: “Hoje estou louca, vou precisar de preservativos. Alguém tem preservativos?”
No dia seguinte, chegamos a Lisboa bem cedo. Estava mais magro, mais apto para o exercício, mas a fusão de desporto com noitadas deixara-me exausto. Susana, a bailarina, rainha do fitness, também não se mostrava particularmente saudável. Pelo menos mentalmente. De manhã, pelas 7h00, encontrá-la-ia sentada na zona de convívio do piso superior, conversando com um outro rapaz, aparentemente ainda embriagado. Tinha feito directa. Estava esgotada fisicamente: “Acho que devias parar quando saíres daqui. Tens de acalmar. Tu fisicamente estás bem. Estava a ver as tuas costas e elas estão secas, está a ver. Se calhar fazia-te bem parar com os bodu pum e os body combat e meteres-te no ioga”. “Acho que sim, está-me a fazer tão bem esta conversa”. João, que há anos é acompanhado por um psiquiatra, comentaria a propósito, em jeito de despedida: “Isto das doenças mentais parece que se pega. Eu sou choné, mas trato-me com um especialista. Esta gente julga que o ginásio cura tudo, mas está enganada”.

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17.6.09


FESTIVAL SILÊNCIO! Lisboa Capital da Palavra - de 18 a 27 de Junho

Tem início esta quinta-feira o "Festival Silêncio! Lisboa Capital da Palavra"

Programa espectáculos @ Musicbox:

Sexta, 19
- "Estilhaços" com Adolfo Luxúria Canibal, António Rafael e Henrique Fernandes
- Poetry Slam com Sam the Kid, Viriato Ventura, John Banzaï e Marc-Uwe Kling

Sábado, 20
- Spoken Word com Marc-Uwe Kling
- Wordsong
- Bernd Kinski + Mike Stellar

Quinta, 25
- "Os Malditos: Cesariny" com Rodrigo Leão, Gabirel Gomes, Viviena Tupikova e Rogério Samora

Sexta, 26
- Primeiro concurso nacional de Poetry Slam
- Llorca + Rui Murka

Sábado, 27
- Espectáculo a Poesia está na rua com Sagas, Ruas, Bob da Rage Sense e Nbc acompanhados por Dj Ride


programa completo em http://www.facebook.com/l/;www.festivalsilencio.com

Bilhetes:
10€ à venda em http://www.facebook.com/l/;www.blueticket.pt
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pensamento do dia

QUE é o meu nada, comparado ao horror que vos espera?
Rimbaud
TAL como há 20 anos em Tiananmen, há gente corajosa no Irão que se levanta contra a ditadura, a repressão e os teólogos retrógrados. Tal como então, o risco é o massacre. Esta multidão já demonstrou o seu desejo, será melhor agora que os líderes a façam recuar estrategicamente. Como devia ter acontecido na China, onde a radicalização excessiva dos estudantes e a reacção cobarde das autoridades levou ao desfecho conhecido.

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16.6.09

pensamento do dia

- SINTO tantas saudades do jazz club...
- Também eu, e nunca lá estive.

ESTIVERAM em Macau na passada sexta, a convite da Casa de Portugal. Foi bonito.

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ALGUÉM criticou mestre Han Shan.
"Os seus pobres poemas não fazem sentido."
Eu disse: "Nos tempos passados
ninguém se envergonhava de ser humilde e pobre."
Responderam-me, num grande sorriso:
"Hoje, essas palavras são conversa fiada,
servem rigorosamente para nada,
mais importante que tudo é o dinheiro."

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Os ricos cheios de trabalho, preocupações,
lutam por tudo, contentam-se com nada.
Mesmo com arroz bolorento nos celeiros,
incapazes de emprestar uma malga a um pobre.
Só pensam nos bens, no lucro,
transformam pano reles em seda de primeira.
Um dia todos irão dar um último suspiro,
só as moscas lhes apresentarão condolências.

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Ler livros não vos impedirá de morrer,
ler livros não vos evita a pobreza.
Então para quê tanta instrução?
Um letrado leva algumas vantagens,
mas um homem bravo e inculto
anda também à deriva pelo mundo.

Poemas de Han Shan, tradução de António Graça de Abreu

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15.6.09

GOSTO da alegria da montanha
livre, sem amarras nem bordões.
Dia após dia, alimento o velho corpo,
nada p'ra fazer, o pensamento à solta.
Por vezes, subo a um pequeno terraço de pedra
com um antiquíssimo sutra budista.
Em baixo, mil pés de precipícios e penhascos,
em cima, nuvens densas e paradas.
Um vento cortante, a lua fria como gelo,
o meu corpo, um grou solitário voando.

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A cólera é o fogo do coração,
pode queimar florestas de méritos.
Quem quiser seguir os caminhos de Buda
preserva a calma na essência da alma.

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Habito a montanha,
ninguém me conhece.
Entre nuvens brancas,
o silêncio, sempre o silêncio.

Poemas de Han Shan, tradução de António Graça de Abreu

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14.6.09

pensamento do dia

SE estás entre filhos da puta, usa sempre a tua melhor gravata.

An Almost Made Up Poem

I see you drinking at a fountain with tiny
blue hands, no, your hands are not tiny
they are small, and the fountain is in France
where you wrote me that last letter and
I answered and never heard from you again.
you used to write insane poems about
ANGELS AND GOD, all in upper case, and you
knew famous artists and most of them
were your lovers, and I wrote back, it’ all right,
go ahead, enter their lives, I’ not jealous
because we’ never met. we got close once in
New Orleans, one half block, but never met, never
touched. so you went with the famous and wrote
about the famous, and, of course, what you found out
is that the famous are worried about
their fame –– not the beautiful young girl in bed
with them, who gives them that, and then awakens
in the morning to write upper case poems about
ANGELS AND GOD. we know God is dead, they’ told
us, but listening to you I wasn’ sure. maybe
it was the upper case. you were one of the
best female poets and I told the publishers,
editors, “ her, print her, she’ mad but she’
magic. there’ no lie in her fire.” I loved you
like a man loves a woman he never touches, only
writes to, keeps little photographs of. I would have
loved you more if I had sat in a small room rolling a
cigarette and listened to you piss in the bathroom,
but that didn’ happen. your letters got sadder.
your lovers betrayed you. kid, I wrote back, all
lovers betray. it didn’ help. you said
you had a crying bench and it was by a bridge and
the bridge was over a river and you sat on the crying
bench every night and wept for the lovers who had
hurt and forgotten you. I wrote back but never
heard again. a friend wrote me of your suicide
3 or 4 months after it happened. if I had met you
I would probably have been unfair to you or you
to me. it was best like this.

by Charles Bukowski

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13.6.09

pensamento do dia

- ESTOU a entrar em desespero.
- Ah, não vale a pena, isto um dia acaba tudo...

12.6.09


JP Simões & Luanda Cozetti - Se Por Acaso

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11.6.09


O nome de Macau vai entrar pelas casas de milhões de espectadores espalhados pelo mundo, quando no sábado tiver lugar a décima edição dos prémios da Academia Internacional de Cinema Indiano. Cerca de 300 jornalistas vindos de mais de 45 países passarão pelo Venetian ao longo do fim de semana, num evento que tem uma audiência televisiva calculada em 600 milhões de espectadores. Estou a fazer a cobertura jornalística deste gigantesco acontecimento mediático. Escreverei mais sobre isto nos próximos dias.

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Bonecos de Santo Aleixo

NA sua forma actual, a origem dos bonecos de varão, que têm vinte a quarenta centímetros de comprimento, é atribuída ao engenho de Nepomucena, um guarda de herdades, provavelmente natural da aldeia Santo Aleixo (distrito de Portalegre), que os criou em meados do século XIX. Ainda antes, em 1785, há um texto de um padre de Vila Viçosa referindo que foram queimados em autos de fé decorridos em Évora alguns bonecos de Santo Aleixo. Há também uma colecção de bonecos parecida em Cádiz, o que sugere que as marionetas circularam pela raia alentejana.
O estojo de bonecos e textos tradicionais, que eram transmitidos oralmente, foram depois transmitidos para o guitarrista Ti’Manel Jaleca, que manteve o espectáculo durante algumas décadas. Os bonecos, que eram o modo de vida de quem os detinha, circularam depois para António Talhinhas, um camponês dotado de grande poder de improvisação. Mestre Talhinhas, que José Russo, o coordenador dos Bonecos de Santo Aleixo, considera como o “último bonecreiro tradicional”, deixou de trabalhar com os bonecos no início da década de 70. “Isto porque ele tinha sete filhos, com quem trabalhava. Essa malta foi casando e abandonando a aldeia, pelo que ele ficou sem a capacidade de continuar com as digressões. É claro que isso também coincide com o aparecimento massificado da televisão e de outros fenómenos de comunicação.”


A colecção de 76 bonecos correu o risco de se fragmentar nas mãos de coleccionadores, mas, em 1978, foi a Assembleia Distrital de Évora quem comprou o espólio a Talhinhas. Desde então, o Cendrev assumiu o papel de depositário do espólio e voltou a dinamizar os espectáculos, fruto dos ensinamentos de Talinhas, que durante 15 anos passou aos actores do grupo as peças e as técnicas desta arte. “Durante esse tempo recolhemos todo o reportório que ele sabia, que corresponde a quatro horas e meia de espectáculo, entre os vários autos e as chamadas ‘peças de segunda parte’, mais profanas, que incluíam cantigas e sátiras.” Os métodos tradicionais foram escrupulosamente mantidos pelo grupo, explica José Russo: “As músicas, os movimentos dos bonecos, as velinhas dos anjos, as bombas que rebentam, as candeias de azeite. Mantemos tudo, porque pensamos que é importante preservar isto tal qual é e que funciona bem assim. É um espectáculo com cheiro, o público no fim comenta ‘isto tem tantas coisas, até tem cheiro’. A nossa responsabilidade hoje é preservar isto como o recebemos para o futuro.”
(Texto: P.B., Hoje Macau)

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10.6.09

pensamento do dia

SE me queres encontrar, procura na minha poesia.

Cartazes de Victor Marreiros sobre o 10 de Junho


2009










OS cartazes que o designer de Macau tem vindo a realizar ao longo dos últimos 20 anos para assinalar o Dia de Portugal estarão expostos a partir de amanhã na galeria da livraria portuguesa, numa iniciativa da Casa de Portugal de Macau.

9.6.09



HENRY Kissinger, que teve um papel tão controverso quanto influente na política internacional norte-americana entre 1969 e 1977, esteve em Macau a pretexto da conferência “Desenvolvimento Pacífico da China: Oportunidades e Desafios”. O secretário de Estado das presidências de Richard Nixon foi recebido à entrada do Instituto Politécnico de Macau como uma autêntica vedeta.
(Texto: P.B.; fotos de António Falcão)

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8.6.09

pensamento do dia

EM Portugal, já nem é preciso ter mérito para ganhar eleições. Basta confiar nos problemas estruturais do país e nos erros do partido do centrão que governa. No bloco central, os interesses - legítimos e ilegítimos -, fora desse bloco quase só há irresponsáveis e demagogos, sem preparação para a política. Resultado: 63 por cento de abstenção.

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INTERESSANTE experiência jornalística online, que agrega imensa informação sobre as eleições europeias.

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O advogado de Silvio Berlusconi anunciou que vai mover uma acção legal contra o El País por ter publicado, em grande destaque, as fotografias que o primeiro-ministro italiano não quis que fossem divulgadas em Itália.
O jornal espanhol El País publicou na sexta-feira um artigo que não agradou ao primeiro-ministro italiano. O artigo tem por título “As fotos que ‘Il Cavaliere’ não quer que Itália veja” e agrega, na edição online do jornal, uma galeria com as ditas fotografias.

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NOS 20 anos de Tiananmen, reportagem de Maria João Belchior, em Pequim.

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7.6.09

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EM quem votar hoje?

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AS contas da selecção portuguesa. Continua a ser possível ir à África do Sul, apesar da exibição sofrível de ontem. A viver no estrangeiro, apercebo-me da importância simbólica que a selecção tem enquanto elemento agregador da comunidade lusófona. E até europeia. Ontem, nas docas de Macau, dois alemães assistiram ao jogo junto dos portugueses, torcendo pela equipa das quinas.

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6.6.09

Visões de Macau (12)


Macau visto do farol, originally uploaded by BARBOSA BRIOSA.

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5.6.09

pensamento do dia

PARA se ser poeta, é preciso que haja um excesso de sofrimento.

4.6.09

JOAQUIM Magalhães de Castro escolheu as Ruínas de São Paulo como última escala do périplo que fez pelos 27 monumentos de origem portuguesa espalhados pelo mundo pré-seleccionados para o concurso “Sete Maravilhas de Origem Portuguesa”. Falta já muito pouco para o fim de período de votação deste evento organizado pela New 7 Wonders Portugal, que decorre até dia 7. Os resultados serão apresentados em Portimão, no dia 10 de Junho.
Aqui pode ver o blogue com algumas das suas crónicas.

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O Presidente da República, Cavaco Silva, revelou hoje aos jornalistas que está a perder muito dinheiro com as poupanças que tem nos bancos e que parte delas “estão desaparecidas”.


Isto põe-me a pensar: para que serve o doutoramento em economia em Londres, se nem sequer sabe cuidar das suas poupanças? Há algumas profissões que se aproximam perigosamente da astrologia. Economista, psicólogo, sacerdote e politólogo são quatro delas.
UMA vergonha de Estado, que levou à saída de um grande senhor, com muita classe. Era a única coisa digna de se fazer, e muito tempo esperou ele. Vale a pena ler na íntegra a carta de renúncia, que vai ser hoje lida aos deputados da AR. Neste momento, é importante dizer, a bem da verdade, que a culpa desta situação tem que ser atribuída principalmente ao ressabiamento de José Sócrates, por motivos que remontam aos tempos em que este era Ministro do Ambiente e teve alguns desentendimentos com a Provedoria de Justiça.

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3.6.09

O realizador saltimbanco


"TOBIAS Kohl é um realizador improvável, improvavelmente a viver em Macau. O director criativo da Aomen.tv cresceu na pacata cidade de Siegen, situada a noventa quilómetros de Colónia. Naquele pequena cidade, “onde todos os jovens acabam os estudos e partem para outro lado”, Tobias ganhou o vício do cinema. “Gostava muito de cinema, como não havia muito para fazer em Siegen eu via toda a programação dos dois cinemas locais, um deles mais comercial e outro alternativo”, conta o alemão agora com 36 anos.
Não quer isto dizer que tivesse precocemente decidido dedicar-se à arte das imagens em movimento. Quando acabou o liceu, Tobias não sabia ainda o que fazer com o futuro. Como quase todos os conterrâneos abalou para paragens mais cosmopolitas. Em Colónia, passou um ano e meio a trabalhar num hospital, no âmbito do serviço comunitário que é a alternativa ao serviço militar obrigatório na Alemanha. Mas a quarta maior cidade alemã tem muitas estações de televisão. E o gosto continuava lá. Mesmo sem experiência, o jovem de 21 anos decidiu oferecer-se para ser estagiário de uma pequena produtora que fornecia programas para diversos canais. “Ali, em dois meses, aprendi simplesmente por me sentar ao lado do editor de imagem, olhando para os botões que pressionava. Foi assim que aprendi a editar, houve um dia em que ele estava doente e eu tive que fazer o trabalho”.
É desta forma auto-didacta que começa a carreira de Tobias Kohl como realizador, que daria um salto quando recebeu um convite da Viva, uma espécie de MTV alemã. Ali estagiou e depois se tornou produtor. “De repente tinha um trabalho bem pago, ia aos eventos musicais filmar e promover os programas sobre músicos”.
Passado um ano, para espanto dos amigos, Tobias abandonou esse trabalho “demasiado comercial” e decidiu que aquele era o momento decisivo para estudar. Era então ou nunca e, aos 24 anos, o alemão partiu para a Londres, onde foi admitido no departamento de cinema do St. Martins College of Art & Design.
Após três anos de “vida de estudante” na capital inglesa, surge mais um volte-face. Tem a oportunidade única de entrar na “Fábrica” um espaço que o italiano Oliviero Toscani – famoso por ter criado a Benneton – mantém em Treviso, na Itália. Ali se juntam criativos com menos de 25 anos vindos de todas as partes do mundo e especialistas em áreas como moda, vídeo, música, fotografia ou design.
E Macau surge então pela primeira vez na vida do jovem produtor, que visitou o território para filmar o trabalho de graduação de uma amiga macaense, estudante de cinema. “Filmámos uma história de trinta minutos, que contava o seu regresso a Macau”. Desse primeiro contacto com o sul da China ficou um gosto profundo por Hong Kong e Macau, mas o realizador não se estabeleceu imediatamente por cá. Voltou antes à Europa, onde trabalhou em canais televisivos na Alemanha e na Holanda, “para ganhar dinheiro”.
É então que, através dos contactos estabelecidos na “Fábrica”, começa a colaborar enquanto freelancer com o Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas, parceria que o levou a viajar pelo mundo, realizando pequenos documentários em países como Timor-Leste, Angola, Colômbia (onde chegou a trabalhar com a actriz Angelina Jolie), Paquistão e Afeganistão. “Tratava-se de trabalho não remunerado, por isso precisava de fazer trabalhos comerciais pelo meio”, relembra.
Necessidade essa que o levou a fixar-se em Hong Kong, para onde foi viver em 2003, fazendo trabalhos de freelancer um pouco por toda a região, inclusivamente para um canal japonês. Saltimbanco, Tobias ainda fez uma tentativa de regressar à sua Alemanha natal, mas a passagem pelo Inverno de Berlim não durou mais do que uns meses. O realizador estava conquistado definitivamente por paragens mais exóticas.
Navegando pela Internet teve conhecimento de uma escola de cinema que ia ser criada de raiz no Brasil. Foi para Curitiba e para São Paulo ajudar a montar a escola. “De repente tornei-me professor”, relembra o alemão com um sorriso. “Era uma pequena escola com professores vindos de várias partes do mundo. Uma grande experiência. Ao longo de um ano filmei cerca de cem curtas metragens com os meus alunos. Acontece que o Brasil é longe de tudo”, comenta.
E não será a China também longe de tudo? Não para Tobias, que foi para Xangai e depois voltou a Hong Kong, onde começou a trabalhar na empresa que viria a lançar a Aomen Tv em Macau. É lá que o germânico trabalha actualmente, filmando e produzindo vídeos de curta duração sobre a RAEM.
Há um ano a viver em Macau, Tobias faz tenções de se estabelecer na cidade durante bastante tempo. “Ou aqui ou em Hong Kong. São duas cidades muito diferentes, Hong Kong é mais rápida, e gosto do rápido, lá há mais cinema, mais espectáculos. Macau é mais tranquilo, não é caro e tem mudado também, há mais ocidentais agora. Claro que aqui domina o mundo dos casinos, enquanto em Hong Kong são os bancos. Bancos e casinos não são o meu mundo”, compara.
De todos os géneros que já tocou no seu trabalho – publicidade, documentário e ficção –, Tobias diz preferir os documentários em que se pode permitir ao luxo de “passar muito tempo a explorar um tema”. Mas não descura também o trabalho na área da publicidade, “tecnicamente desafiador, onde há dinheiro e meios”. Para o futuro, fica a ambição de realizar uma longa metragem: “Não já, não sou o Orson Welles, que fez o Citizen Kane com vinte e cinco anos e foi decaindo. Eu gostava de conseguir o contrário, com experiência, determinação e visão. Talvez daqui a uns anos possa realizar um filme, tenho já idealizado um projecto que se passa em Macau. Ninguém fez e resultará, mas não será um filme local, gostava que tivesse um bom orçamento e a participação de actores conhecidos”, remata."
P.B., Perfil publicado no Hoje Macau (foto de António Falcão)

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1.6.09

eterno retorno

DEDICADO a Han Shan

cumpridos mil trabalhos
uns quantos desenganos
dez anos, planos e tudo aquilo que passamos
deixo Lisboa, só, como só aqui cheguei
o taxista, bêbado, empilha a tralha
esquife de volta ao quarto de infância
dores e prazeres, feitos cicatrizes
memórias, vagas a cada dia
amanhã, um nada mais
estamos todos à espera de morrer
mas dancemos, entretanto; dancemos
como floresce a Primavera

PB (escrito em Macau)

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Em Macau: Em Lisboa:
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