11.6.09

Bonecos de Santo Aleixo

NA sua forma actual, a origem dos bonecos de varão, que têm vinte a quarenta centímetros de comprimento, é atribuída ao engenho de Nepomucena, um guarda de herdades, provavelmente natural da aldeia Santo Aleixo (distrito de Portalegre), que os criou em meados do século XIX. Ainda antes, em 1785, há um texto de um padre de Vila Viçosa referindo que foram queimados em autos de fé decorridos em Évora alguns bonecos de Santo Aleixo. Há também uma colecção de bonecos parecida em Cádiz, o que sugere que as marionetas circularam pela raia alentejana.
O estojo de bonecos e textos tradicionais, que eram transmitidos oralmente, foram depois transmitidos para o guitarrista Ti’Manel Jaleca, que manteve o espectáculo durante algumas décadas. Os bonecos, que eram o modo de vida de quem os detinha, circularam depois para António Talhinhas, um camponês dotado de grande poder de improvisação. Mestre Talhinhas, que José Russo, o coordenador dos Bonecos de Santo Aleixo, considera como o “último bonecreiro tradicional”, deixou de trabalhar com os bonecos no início da década de 70. “Isto porque ele tinha sete filhos, com quem trabalhava. Essa malta foi casando e abandonando a aldeia, pelo que ele ficou sem a capacidade de continuar com as digressões. É claro que isso também coincide com o aparecimento massificado da televisão e de outros fenómenos de comunicação.”


A colecção de 76 bonecos correu o risco de se fragmentar nas mãos de coleccionadores, mas, em 1978, foi a Assembleia Distrital de Évora quem comprou o espólio a Talhinhas. Desde então, o Cendrev assumiu o papel de depositário do espólio e voltou a dinamizar os espectáculos, fruto dos ensinamentos de Talinhas, que durante 15 anos passou aos actores do grupo as peças e as técnicas desta arte. “Durante esse tempo recolhemos todo o reportório que ele sabia, que corresponde a quatro horas e meia de espectáculo, entre os vários autos e as chamadas ‘peças de segunda parte’, mais profanas, que incluíam cantigas e sátiras.” Os métodos tradicionais foram escrupulosamente mantidos pelo grupo, explica José Russo: “As músicas, os movimentos dos bonecos, as velinhas dos anjos, as bombas que rebentam, as candeias de azeite. Mantemos tudo, porque pensamos que é importante preservar isto tal qual é e que funciona bem assim. É um espectáculo com cheiro, o público no fim comenta ‘isto tem tantas coisas, até tem cheiro’. A nossa responsabilidade hoje é preservar isto como o recebemos para o futuro.”
(Texto: P.B., Hoje Macau)

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