31.1.12

Estrada Fora #3

29.1.12

RODRIGO writes a letter from Macau.

27.1.12

21.1.12

Texto de Miguel Sousa Tavares:


SEGUNDA-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa.
Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis.
Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três.
Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio.
 Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter.
- E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos...
- Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte.
- Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio.
- Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...
- Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
- Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
- Ela ficou pensativa outra vez.
- Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros?
- Se a auto-estrada está deserta...
- Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico!
- A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes!
-Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...
- Que país o vosso!
- Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000.
- O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia?
-Não têm nenhum disponível?
- Temos vários.
- Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada.
- Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
 
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
 
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
- Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento.
- E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal!
- Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!...
             Só em Portugal !!!....      

19.1.12

RESULTADOS preliminares dos Censos 2011 em Macau

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18.1.12

Estrada Fora #2

17.1.12

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16.1.12

15.1.12

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13.1.12

NA capa d' "As Beiras" de hoje está o meu ex-vizinho Teixeira, que eu já não via há anos, a sofrer pela académica, juntamente com (suponho) o seu filho. Jogaram mal, mas estão bem lançados para irem à final da taça de Portugal)

O Fado


O Fado, originally uploaded by André Carrilho.

FOI há 50 anos:

Residente em Macau há 47 anos Alberto Alecrim conta a história da invasão indiana de Goa e a forma como os militares portugueses ficaram retidos durante cerca de meio ano em “campos de concentração”. Apesar de lhe terem apontado armas numa ocasião, o antigo director da Rádio Macau nunca perdeu o desconcertante sentido de humor que o caracteriza

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12.1.12

 UMA interessante comparação entre badminton e ténis:

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ESTE engraçado site permite ver que músicas estavam no top do Billboard no dia em que nascemos. No meu caso, parece que era Billy, Don't Be a Hero, de Bo Donaldson & the Heywoods.

Não conheço, ora vejamos:




Bela merda, não?

11.1.12

UM amigo escreveu isto sobre a sua pouco parada vida, que partilho:

"I was born and raised in Singapore. After university, in 2001, I became a theatre actor in Singapore, and also fell in love with backpacking at the same time. So, I did a 6-mon...th trip, overland from Singapore to Japan via Malaysia, Thailand, Cambodia, Vietnam, Macau, Hong Kong, and China. The part from China to Japan was done on a 50 hour ferry. Then, I lived in London from 2002 to 2003 to study acting and worked as a theatre actor. During this time, I also travelled to countries such as Ireland, Germany, France, Belgium, Italy, Czech, Slovakia, Romania, Hungary, Austria, Mexico, as well as the USA. After London, I moved to Beijing and lived there as a TV and film actor from 2004 to 2008. For work and leisure, I travelled to 16 provinces in China during this time, and re-visited a few of the places previously mentioned. Then I also went to new places like Korea, The Philippines, Indonesia, Taiwan, Laos, Tibet, and Mongolia. I don't have many achievements in life to speak of, but one accomplishment that remains precious to me, is having backpacked through 25 countries by age 25, and then 5 more before I turned 30. In 2008, I relocated to Hong Kong and Macau and directed my first independent feature film in Macau, where I lived from 2008 to 2010. Next, I made a bold attempt to return home after almost ten years abroad, and lived in Singapore from 2010 to 2011. Although film and theatre work was all right at home, the reverse culture shock was a little much for me... So, I moved again, this time to Japan in July 2011. I currently live and work in Tokyo, and have been lucky enough to have worked on two good Japanese film projects in the last 5 months. It's the last day of 2011. I can't help but look back at the past decade, and think about how I would never have expected life to unfold this way. The experiences I've had and encounters I've made in the past ten years were beyond my wildest imagination as a kid. If we're open to new experiences, life will indeed teach us everything we need to know about life. Here's to peace and good health, as well as many more safe and successful journeys for us all in '12. Happy New Year! -- TL 31Dec11."
COMEÇOU hoje no JTM a coluna "Estrada Fora".

9.1.12

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8.1.12

7.1.12

"DECADES ago, when the Finnish school system was badly in need of reform, the goal of the program that Finland instituted, resulting in so much success today, was never excellence. It was equity."
Um belo artigo sobre os princípios que norteiam o sistema educativo finlandês, talvez o melhor do mundo

6.1.12

BELOS conselhos para viajar mais barato (e melhor), escritos por um casal que está prestes a iniciar um projecto muito interessante, que valerá a pena acompanhar
 NAS culturas do sul da Ásia, são comuns as operetas. Jás as vi em variantes cantonense, tailandesa e cambodjana. Neste caso, trata-se de uma versão de Java (indonésia), onde os cantores contam uma história e procuram suscitar o riso:

4.1.12

Koh Chang


Koh Chang, originally uploaded by BARBOSA BRIOSA.

3.1.12

BOM artigo no NYT sobre a "próxima revolução russa"

2.1.12


COMO vem sendo hábito, começamos o ano com muito musicol. Vale tudo menos jazz. Então aqui vai, com sentimento:  




FELIZ ano novo! E não se esqueçam deste excerto da letra da música "pais e filhos", dos Legião Urbana: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"

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