3.6.09

O realizador saltimbanco


"TOBIAS Kohl é um realizador improvável, improvavelmente a viver em Macau. O director criativo da Aomen.tv cresceu na pacata cidade de Siegen, situada a noventa quilómetros de Colónia. Naquele pequena cidade, “onde todos os jovens acabam os estudos e partem para outro lado”, Tobias ganhou o vício do cinema. “Gostava muito de cinema, como não havia muito para fazer em Siegen eu via toda a programação dos dois cinemas locais, um deles mais comercial e outro alternativo”, conta o alemão agora com 36 anos.
Não quer isto dizer que tivesse precocemente decidido dedicar-se à arte das imagens em movimento. Quando acabou o liceu, Tobias não sabia ainda o que fazer com o futuro. Como quase todos os conterrâneos abalou para paragens mais cosmopolitas. Em Colónia, passou um ano e meio a trabalhar num hospital, no âmbito do serviço comunitário que é a alternativa ao serviço militar obrigatório na Alemanha. Mas a quarta maior cidade alemã tem muitas estações de televisão. E o gosto continuava lá. Mesmo sem experiência, o jovem de 21 anos decidiu oferecer-se para ser estagiário de uma pequena produtora que fornecia programas para diversos canais. “Ali, em dois meses, aprendi simplesmente por me sentar ao lado do editor de imagem, olhando para os botões que pressionava. Foi assim que aprendi a editar, houve um dia em que ele estava doente e eu tive que fazer o trabalho”.
É desta forma auto-didacta que começa a carreira de Tobias Kohl como realizador, que daria um salto quando recebeu um convite da Viva, uma espécie de MTV alemã. Ali estagiou e depois se tornou produtor. “De repente tinha um trabalho bem pago, ia aos eventos musicais filmar e promover os programas sobre músicos”.
Passado um ano, para espanto dos amigos, Tobias abandonou esse trabalho “demasiado comercial” e decidiu que aquele era o momento decisivo para estudar. Era então ou nunca e, aos 24 anos, o alemão partiu para a Londres, onde foi admitido no departamento de cinema do St. Martins College of Art & Design.
Após três anos de “vida de estudante” na capital inglesa, surge mais um volte-face. Tem a oportunidade única de entrar na “Fábrica” um espaço que o italiano Oliviero Toscani – famoso por ter criado a Benneton – mantém em Treviso, na Itália. Ali se juntam criativos com menos de 25 anos vindos de todas as partes do mundo e especialistas em áreas como moda, vídeo, música, fotografia ou design.
E Macau surge então pela primeira vez na vida do jovem produtor, que visitou o território para filmar o trabalho de graduação de uma amiga macaense, estudante de cinema. “Filmámos uma história de trinta minutos, que contava o seu regresso a Macau”. Desse primeiro contacto com o sul da China ficou um gosto profundo por Hong Kong e Macau, mas o realizador não se estabeleceu imediatamente por cá. Voltou antes à Europa, onde trabalhou em canais televisivos na Alemanha e na Holanda, “para ganhar dinheiro”.
É então que, através dos contactos estabelecidos na “Fábrica”, começa a colaborar enquanto freelancer com o Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas, parceria que o levou a viajar pelo mundo, realizando pequenos documentários em países como Timor-Leste, Angola, Colômbia (onde chegou a trabalhar com a actriz Angelina Jolie), Paquistão e Afeganistão. “Tratava-se de trabalho não remunerado, por isso precisava de fazer trabalhos comerciais pelo meio”, relembra.
Necessidade essa que o levou a fixar-se em Hong Kong, para onde foi viver em 2003, fazendo trabalhos de freelancer um pouco por toda a região, inclusivamente para um canal japonês. Saltimbanco, Tobias ainda fez uma tentativa de regressar à sua Alemanha natal, mas a passagem pelo Inverno de Berlim não durou mais do que uns meses. O realizador estava conquistado definitivamente por paragens mais exóticas.
Navegando pela Internet teve conhecimento de uma escola de cinema que ia ser criada de raiz no Brasil. Foi para Curitiba e para São Paulo ajudar a montar a escola. “De repente tornei-me professor”, relembra o alemão com um sorriso. “Era uma pequena escola com professores vindos de várias partes do mundo. Uma grande experiência. Ao longo de um ano filmei cerca de cem curtas metragens com os meus alunos. Acontece que o Brasil é longe de tudo”, comenta.
E não será a China também longe de tudo? Não para Tobias, que foi para Xangai e depois voltou a Hong Kong, onde começou a trabalhar na empresa que viria a lançar a Aomen Tv em Macau. É lá que o germânico trabalha actualmente, filmando e produzindo vídeos de curta duração sobre a RAEM.
Há um ano a viver em Macau, Tobias faz tenções de se estabelecer na cidade durante bastante tempo. “Ou aqui ou em Hong Kong. São duas cidades muito diferentes, Hong Kong é mais rápida, e gosto do rápido, lá há mais cinema, mais espectáculos. Macau é mais tranquilo, não é caro e tem mudado também, há mais ocidentais agora. Claro que aqui domina o mundo dos casinos, enquanto em Hong Kong são os bancos. Bancos e casinos não são o meu mundo”, compara.
De todos os géneros que já tocou no seu trabalho – publicidade, documentário e ficção –, Tobias diz preferir os documentários em que se pode permitir ao luxo de “passar muito tempo a explorar um tema”. Mas não descura também o trabalho na área da publicidade, “tecnicamente desafiador, onde há dinheiro e meios”. Para o futuro, fica a ambição de realizar uma longa metragem: “Não já, não sou o Orson Welles, que fez o Citizen Kane com vinte e cinco anos e foi decaindo. Eu gostava de conseguir o contrário, com experiência, determinação e visão. Talvez daqui a uns anos possa realizar um filme, tenho já idealizado um projecto que se passa em Macau. Ninguém fez e resultará, mas não será um filme local, gostava que tivesse um bom orçamento e a participação de actores conhecidos”, remata."
P.B., Perfil publicado no Hoje Macau (foto de António Falcão)

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