NASCIDO no seio de uma família tradicional chinesa radicada em Singapura, Thomas Lim, hoje com 31 anos, tem uma vida marcada por uma fase caseira e outra itinerante. O realizador não deixou a ilha natal até aos 21 anos, mas depois disso não tem parado. As viagens por toda a Ásia e pela Europa “fizeram-lhe ver um mundo cheio de possibilidades no horizonte”. Desde o ano passado, Thomas vive com a mulher em Macau, onde encontrou um sítio acolhedor para desenvolver os seus projectos artísticos.
Mas é preciso recuar aos tempos de juventude ver como germinou a paixão pelos palcos. Em Singapura, Thomas estudava finanças na universidade quando se começou a envolver com grupos de teatro Numa altura em que “não havia muitas coisas interessantes para fazer em Singapura”, entrou em peças de teatro e conheceu actores profissionais, que o introduziram no meio.
Finda a universidade, em 2001, surgiu a altura de tomar uma decisão que seria marcante em todo o percurso futuro. Ou Thomas procurava um emprego estável na sua área de formação académica, ou iria prosseguir o sonho do teatro. “Os meus pais são conservadores, a minha mãe valoriza a segurança acima de tudo e queria para mim um trabalho estável”, recorda. Mas mesmo perante os desencorajamentos familiares, o jovem pendia para o mundo do espectáculo. Indeciso ainda, pegou numa mochila e foi sozinho conhecer a Ásia ao longo de seis meses. Primeiro esteve na Tailândia, a seguir percorreu todo o sudeste asiático. O périplo abriu-lhe os olhos. “Foi uma viagem que me fez ver que devia seguir o meu coração e procurar ser actor, por isso decidi ir para uma mestrado de representação em Londres
Em Inglaterra, numa cultura estranha, sentiu-se como que numa encruzilhada. “Falava chinês, mas não tão bem como os chineses, falava inglês, mas não como os ingleses, sentia que não me encaixava, que era demasiado genérico e que ali não me podia distinguir como actor.” Ciente das suas raízes chinesas, o singapuriano concluiu os estudos londrinos e foi para o centro do “império do meio” . Em Pequim permaneceu quatro anos, aperfeiçoando o seu chinês e, sobretudo, dedicando-se à aprendizagem de Kung Fu, uma paixão de infância e uma forma de se aproximar do teatro físico. Mas uma lesão grave nas costas, que o incapacitou durante um ano, afastou o desiderato de vir a ser um novo Bruce Lee. A vida na capital chinesa foi dura. “Singapura é uma ilha pequena, enquanto a China é um país imenso e quanto mais a conheço, mais descubro que nada sei da China”. Não foi fácil integrar-se numa cultura que, apesar das raízes comuns, lhe parecia estranha e tentar ganhar espaço na indústria teatral chinesa. A época trouxe a recompensa de ter-se apaixonado pela japonesa com quem vive hoje em Macau. No meio de desilusões e enganos profissionais, surgiu o seu primeiro contrato enquanto actor, para participar numa mini-série televisiva norte-americana e depois, em 2007, desempenhou um papel importante numa série chinesa.
Foi em Pequim, e através de actores amigos, que o perfilado foi convidado para dar alguns espectáculos em Hong Kong e Macau, que visitou pela primeira vez em 2004. Farto das dificuldades de Pequim, Thomas imprimiu então mais um volte face na sua vida, vindo com a companheira para Macau, corria o ano de 2008. “Decidimos vir juntos para um sítio onde pudéssemos encontrar uma pequena plataforma para os nossos trabalhos. Eu queria realizar os meus filmes, sempre senti que tinha histórias para contar”, descreve. A mulher tinha estudado pastelaria e Macau, com rendas mais acessíveis e um ambiente pacato, surgiu como o espaço indicado para abrir a Hoshizora, uma loja de bolos japoneses que funciona junto à igreja de São Lázaro.
Apesar da indústria de cinema estabelecida em Hong Kong, a preferência de Thomas também se inclinava pela “bela” Macau: “Cheguei a viver seis meses em Hong Kong. Mas uma das coisas que gosto mais na vida é conversar, conhecer pessoas e fazer com que me conheçam . Isso requer tempo, e em Hong Kong não há espaço para isso, nem físico nem mental. As pessoas em Hong Kong estão sempre muito atarefadas. Depois é uma cidade cara, demasiado povoada e mentalmente esgotante. Mas é claro que é uma das cidades mais importantes da Ásia e que uma das razões para a escolha de Macau se prende com a sua proximidade, posso ir lá trabalhar sempre que seja preciso.”
Em Macau foi germinando o guião de Roulette City, que conta a história de um chinês que vem para a cidade jogar, na esperança de uma melhor vida. Trata-se, de acordo com o autor , de uma reflexão sobre as escolhas que as pessoas têm ou não na vida: “Se olharmos para o mundo, apenas um grupo de privilegiados pode escolher. No filme, os casinos significam coisas diferentes para uma pessoa de Macau e outra da China. Para o chinês significa a única chance para ter uma vida melhor, enquanto a personagem de Macau hesita entre voltar à universidade, ou continuar a trabalhar no casino, onde sabe que pode ganhar mais dinheiro. Ele arrisca tudo o que tem, ela não precisa de o fazer.” Em fase de pós-produção, o filme de Thomas Lim deverá estar concluído em breve. O realizador pretende concorrer com a obra aos principais festivais de cinema. No horizonte está já a rodagem de uma curta metragem com uma cantora de Singapura, que estará em na RAEM nas próximas semanas.
Texto: P.B./Foto: António Mil Homens
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