13.9.09

O fim do chamado "comércio justo"

"DEZ anos após a abertura da primeira Loja de Comércio Justo, a crise chegou aos estabelecimentos que lutam contra o trabalho infantil e a exploração dos trabalhadores. Em Lisboa já não existe qualquer loja e muitas outras estão em risco de fechar.

Primeiro fechou uma no Porto, depois seguiu-se a única loja que existia em Lisboa. A loja de comércio justo da baixa de Coimbra também não conseguiu resistir à crise. Em Guimarães, Álvaro Dinis, da Cor de Tangerina, teme também pelo futuro do seu estabelecimento localizado no centro histórico "mesmo em frente ao Palácio dos Duques".

"Na hora de comprar, as pessoas questionam-se" e acabam por sair de mãos vazias, diz Álvaro Dinis. "A crise começou em Setembro do ano passado, quando sentimos uma redução de 20 a 30 por cento das vendas. Hoje, temos uma redução de 50 a 70 por cento. Já equacionámos o encerramento da loja", desabafou.

O responsável pela abertura da primeira loja em Portugal, Miguel Pinto, reconhece que a "situação é bastante difícil". "Chegámos a ter oito lojas e hoje temos apenas cinco: duas no Porto, uma em Guimarães, outra em Braga e em Amarante. Já fechámos uma loja em Lisboa outra no Porto e em Barcelos", contou à Lusa.

Quando em Agosto de 1999 Miguel Pinto abriu em Amarante a primeira loja de Comércio Justo em Portugal não imaginou que, passados dez anos, se iria confrontar com a actual situação. Depressa começaram a aparecer interessados num projecto que defendia os direitos dos pequenos produtores do sul do mundo assim como todos os trabalhadores marginais, desde os povos indignas às mães solteiras e viúvas.

No início, as pessoas "duvidaram da iniciativa", mas depressa perceberam que "era real", lembra Miguel Pinto. Um pouco por todo o país começaram a aparecer espaços que davam a garantia de que os produtos exóticos, oriundos de países pobres do Sul, eram produzidos respeitando o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores.

No entanto, "o consumidor responsável - disposto a pagar mais para ter a certeza de que se trata de comércio justo, sem exploração infantil e amigo do ambiente - representa apenas um por cento dos portugueses", lembrou João Fernandes, director executivo da Oikos referindo-se a um estudo europeu realizado há cerca de cinco anos.

Para João Fernandes é preciso que as pessoas percebam que "os seus valores éticos não podem estar dissociados do consumo e da forma como investem o seu dinheiro" e para isso é preciso haver um marketing social que mude a mentalidade dos portugueses.

No entanto, reconhece, "só quando há algum desafogo a nível económico é que é permitido às pessoas terem uma consciência responsável". Esta é uma ideia corroborada por Ana Luisa, da associação Reviravolta, no Porto: "em tempos de crise, as pessoas pensam primeiro nas suas necessidades básicas". Resultado: "temos quebras de 30 por cento de vendas em todas as nossas lojas", diz Miguel Pinto.

Apesar de haver menos consumidores, todos os responsáveis envolvidos nestes projectos acreditam que hoje os portugueses estão mais sensibilizados para a causa. Em Lisboa, onde a loja teve quebras de 50 por cento que não permitiram continuar com o projecto, Miguel Pinto continua a vender: "agora as pessoas fazem encomendas on-line e nós fazemos entregas ao domicílio por envio postal"."

*** Sílvia Maia, da agência Lusa ***

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