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VIM desde Xangai sobraçando um enorme ramo de crisântemos que colocámos junto ao túmulo, a minha mulher trouxe fruta, descascou-a e deixou-a em frente da estela de mármore, o primo, que sempre considerou a senhora Dong como sua mãe, ofereceu pão. E acendeu um cigarro que pousou aceso na pedra da tumba. A Dong Weicai era fumadora, fumou até ao fim da vida.
Cumpria-se o xiao, o imenso respeito pelos pais.
Depois todos falámos com a senhora Dong.
Primeiro, a minha mulher que ajoelhou, fez o kowtou três vezes e em voz alta deu conta à sua mãe da vida actual de todos nós, filhas, genros e netos. Os rapazes crescem, são bons alunos, estamos todos bem. O pai, teu marido, agora com oitenta anos, continua connosco, satisfeito com os teus netos e com saúde. Sentimos muito a tua falta, mas temos orgulho em ti, querida mãe, podes também ter orgulho em nós.
Dong, o primo de Hefei falou sobre a sua família, todos bem a prosperarem na vida, também graças à protecção que a mãe continua a estender sobre todos. E referiu as imensas saudades que sente por ela, que nos abandonou tão cedo.
Era a minha vez de falar com a Dong Weicai.
Fiz o sinal da cruz. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Diante das cinzas da minha mãe chinesa, avó dos meus filhos, um murmúrio, uma prece, uma promessa. Continuar a cuidar de todos os meus, a dar-lhes o que tenho de melhor. A senhora pode continuar a ter confiança neste homem estranho, dos distantes mares do Ocidente. Estou com todos vós. Peço-lhe, minha mãe, que continue a zelar por nós. E descanse em paz, no seu eterno sono.
As lágrimas corriam-me pelo rosto, caíam como chuva."
O resto desta magnífica crónica de Graça de Abreu pode ser lido
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