A campanha inabitável
19.01.2011 - 22:13 Por Miguel Gaspar, in Público
"Cavaco Silva falou quarta-feira nos riscos de uma segunda volta, sugerindo que isso daria uma imagem de instabilidade do país no exterior. Na mesma noite, Manuel Alegre disse que estava sempre ao lado dos sindicalistas quando estes eram presos pela polícia, mesmo sem ter informação, mas disse saber que José Sócrates não está no país. Fernando Nobre elevou ontem o surrealismo da jornada ao sugerir que Alegre devia dizer que o apoiará na segunda volta. Apenas umas poucas frases soltas da pior campanha eleitoral a que assistimos até hoje em Portugal desde 1975. Tão má, tão má que, tudo somado até José Manuel Coelho, o Tiririca da Madeira, parece um candidato normal.
Não destoa neste circo inútil em que a campanha de Alegre passou apenas a viver das notícias que ligam Cavaco à SLN (sem que até hoje se tenha apurado o menor vestígio de qualquer ilegalidade) e a campanha de Cavaco tem sido uma sucessão de declarações disparatadas (é o termo) sem precedente. Como, por exemplo, a sugestão de que as mulheres portuguesas o vão apoiar por serem elas quem faz o orçamento dos maridos. E para cereja no topo do bolo, temos agora um Presidente pensionista.
Quando estávamos em pré-campanha eleitoral, todos os candidatos posicionavam-se como se fossem virgens que o pecado da política nunca maculara e reclamavam para si o estatuto de arautos da verdade e da pureza. Mal entrámos na campanha, o verniz estoirou. Desde o primeiro momento, ainda na Madeira, a campanha subiu logo ao grau máximo da radicalização e da dramatização. Feia e sem civismo, afastou ainda mais um eleitorado já de si descrente. Os candidatos passaram a funcionar num circuito fechado ao qual ninguém de bom senso prestaria a menor atenção, se não existissem jornalistas. Da virgindade à agressividade, os candidatos espelharam perante o país um vazio que polui em primeira instância a própria instituição presidencial.
Favorito folgado nas sondagens, Cavaco caminha para a reeleição mas sairá desta campanha com a sua imagem debilitada. Alegre anda perdido sem querer ver que o PS está apenas interessado em que ele não perca por muitos, para minimizar as ondas de choque da derrota no partido. Quanto aos outros participantes na corrida, com excepção de Francisco Lopes não se sabe a que é que são de facto candidatos.
Ninguém sabe que partida a abstenção nos vai pregar este domingo. Essa vai ser a verdadeira medida da resposta dos eleitores a esta campanha inabitável."
19.01.2011 - 22:13 Por Miguel Gaspar, in Público
"Cavaco Silva falou quarta-feira nos riscos de uma segunda volta, sugerindo que isso daria uma imagem de instabilidade do país no exterior. Na mesma noite, Manuel Alegre disse que estava sempre ao lado dos sindicalistas quando estes eram presos pela polícia, mesmo sem ter informação, mas disse saber que José Sócrates não está no país. Fernando Nobre elevou ontem o surrealismo da jornada ao sugerir que Alegre devia dizer que o apoiará na segunda volta. Apenas umas poucas frases soltas da pior campanha eleitoral a que assistimos até hoje em Portugal desde 1975. Tão má, tão má que, tudo somado até José Manuel Coelho, o Tiririca da Madeira, parece um candidato normal.
Não destoa neste circo inútil em que a campanha de Alegre passou apenas a viver das notícias que ligam Cavaco à SLN (sem que até hoje se tenha apurado o menor vestígio de qualquer ilegalidade) e a campanha de Cavaco tem sido uma sucessão de declarações disparatadas (é o termo) sem precedente. Como, por exemplo, a sugestão de que as mulheres portuguesas o vão apoiar por serem elas quem faz o orçamento dos maridos. E para cereja no topo do bolo, temos agora um Presidente pensionista.
Quando estávamos em pré-campanha eleitoral, todos os candidatos posicionavam-se como se fossem virgens que o pecado da política nunca maculara e reclamavam para si o estatuto de arautos da verdade e da pureza. Mal entrámos na campanha, o verniz estoirou. Desde o primeiro momento, ainda na Madeira, a campanha subiu logo ao grau máximo da radicalização e da dramatização. Feia e sem civismo, afastou ainda mais um eleitorado já de si descrente. Os candidatos passaram a funcionar num circuito fechado ao qual ninguém de bom senso prestaria a menor atenção, se não existissem jornalistas. Da virgindade à agressividade, os candidatos espelharam perante o país um vazio que polui em primeira instância a própria instituição presidencial.
Favorito folgado nas sondagens, Cavaco caminha para a reeleição mas sairá desta campanha com a sua imagem debilitada. Alegre anda perdido sem querer ver que o PS está apenas interessado em que ele não perca por muitos, para minimizar as ondas de choque da derrota no partido. Quanto aos outros participantes na corrida, com excepção de Francisco Lopes não se sabe a que é que são de facto candidatos.
Ninguém sabe que partida a abstenção nos vai pregar este domingo. Essa vai ser a verdadeira medida da resposta dos eleitores a esta campanha inabitável."
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