31.5.09

A colectivização da miséria, as ditaduras de quatro anos e outros assuntos relevantes da História recente portuguesa, por Vasco Pulido Valente (em entrevista ao Correio da Manhã de hoje)

Outra entrevista interessante, desta vez para quem se quiser inteirar sobre os meandros do jornalismo nacional, é a de Manuela Moura Guedes ao I.

Etiquetas: , , ,

"QUAIS são os temas recorrentes na poesia de Han Shan?
É um homem muito curioso, porque se retira para a montanha como eremita, mas depois, de vez em quando, escreve uns poemas com saudades do mundo cá de baixo: sente falta das meninas bonitas, da boa comida... Os temas são os normais na poesia deste período. Por exemplo, a brevidade da vida. “Ontem, apenas com 16 anos/eram jovens, fortes e apaixonados/Hoje têm mais de setenta, extingue-se o vigor, vão perecer/São flores num dia de Primavera, abrem de manhã, murcham ao entardecer.” A ligação com a Natureza é outro tema muito vulgar da poesia chinesa. O homem retira-se da confusão e da selvajaria e vai meditar para a montanha, o que significa, para os budistas, deixar de pensar, esvaziar a mente e procurar ficar com a cabeça livre de qualquer tipo de pensamento pesado. Há também uma crítica ao mau governo permanente do império, assim como aos avarentos e aos ricos, ou à gente que enriquece rapidamente, mas a quem “só as moscas apresentam condolências” quando morre. Embora seja budista, não acredita na imortalidade. O poeta critica os monges, por terem um comportamento pouco conforme com a doutrina – as pessoas entravam para os mosteiros para sobreviver, não era por terem muito amor ao Buda."

[Excertos da entrevista que fiz a António Graça de Abreu, o tradutor da antologia de poemas de Han Shan, que fala na importância do clássico poeta budista e nas dificuldades do trabalho de tradução do texto chinês. Licenciado em Filologia Germânica e mestre em História, António da Graça Abreu foi docente de língua e cultura portuguesa em Pequim e Xangai. Para além de tradutor, é autor de diversos livros de poesia e de um livro de memórias sobre a sua participação na Guerra Colonial, entre 1972 e 1974.]

Etiquetas: , ,


ACADÉMICA - A Briosa conseguiu igualar a melhor classificação dos últimos 30 anos - um sétimo lugar em 1984/85. Domingos voltou a realizar uma época tranquila à frente da Académica, o que não é muito normal, dado os sobressaltos das últimas épocas. Destaque para o excelente registo em casa, onde só perderam para Benfica e Porto.

Etiquetas: ,

MAIS uma vez, prevaleceram as tricas partidárias ao interesse de Estado. Sendo lamentável, não surpreende, é assim que funciona o país. E é mesmo muito provável que Nascimento Rodrigues renuncie ao mandato, após comunicar tal decisão ao Presidente da República e ao Presidente da Assembleia da República, a quem já pediu audiências.

Etiquetas: ,

30.5.09

"A questão é que, ao contrário do homem, a mulher não é moderna, é clássica, e quer compromisso, quer família. O homem sempre foi moderno. O casamento inventou-se para o 'agarrar'"

Mariela Michaelany (psicanalista)

Etiquetas:

29.5.09

"UM dia um mestre chan estava tranquilamente sentado de pernas cruzadas. Aproximou-se dele um monge, que lhe perguntou:
- Em que pensas, nessa imobilidade absoluta?
- Penso no que está para além do pensamento.
- Como consegues pensar no que está para além do pensamento?
- Não pensando."

Etiquetas:

Festa garantida!


WISH i was there tonight!

Etiquetas:

28.5.09

Han Shan


"VEJO as pessoas do mundo,
vivem num instante, depois morrem.
Ontem, apenas com dezasseis anos,
eram jovens, fortes, apaixonadas,
hoje têm mais de setenta,
extingue-se o vigor, o bom parecer.
São flores num dia de Primavera,
abrem de manhã, murcham ao entardecer."

Han Shan (tadução de António Graça de Abreu)

Prefácio aos poemas de Han Shan, por Lu Qiuyin, prefeito de Taizhou:
O homem que um dia se chamou Han Shan, ninguém sabe quem foi. Quando alguém o via, considerava-o um doido, um pobre diabo. Vivia retirado na montanha de Tiantai, sete léguas a oeste do distrito de Tangxing, num lugar chamado Han Shan (Montanha Fria), entre rochas e falésias. Daí descia frequentemente para o templo de Goqing, ao encontro do seu amigo Shi De, encaregado da limpeza da cozinha do mosteiro que lhe guardava restos de comida em malgas feitas com cana de bambu.
Han Shan costumava passear-se pelos terraços do templo, gritava de alegria, falava e ria sozinho. Os monges corriam atrás dele, temtavam agarrá-lo, insultavam-no, às vezes queriam bater-lhe. Então Han Shan assumia outra vez um comportamento normal, esfregava as mãos, sorria e partia. Parecia um verdadeiro mendigo. O corpo e o rosto estavam gastos, consumidos pelos anos, no entanto havia coerência nas suas palavras e bastava pensar no discurso de Han Shan para adivinhar ideias profundas. Tudo o que dizia tinha a ver com os segredos do passado, com o subtil princípio das coisas. O seu chapéu era uma casca de bétula, as suas roupas estavam cheias de buracos e usava tamancos de madeira muito gastos. Assim vivia este homem extraordinário, afável, isolado, diluºido na natureza, espalhando bom gosto. (...)

Etiquetas: , ,

27.5.09

"NINGUÉM se mata pelo amor de uma mulher. Matamo-nos porque um amor, não importa qual, nos revela a nós mesmos na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado inerme, no nosso nada."

"Pensa mal das pessoas, não te enganarás."

Cesare Pavese

Etiquetas:

POEMAS de Han Shan, um grande poeta budista da dinastia Tang, traduzido por António Graça de Abreu. A edição da COD (editora do Hoje Macau) será apresentada hoje pelas 18.30 na livraria portuguesa.


"lê os verdadeiros escritores, lê Han Shan, Shakespeare, Dostoieveski"
Kerouac

Etiquetas: ,

26.5.09

pensamento do dia

"A única coisa insuportável é que nada é suportável"
Arthur Rimbaud

AQUELE abraço!

Etiquetas:

25.5.09

pensamento do dia

MY world is empty without you

Etiquetas:

24.5.09

SEMPRE estimulante, Vasco Pulido Valente, em entrevista ao DN.

Etiquetas: ,

FELICIDADES Timor-Leste, que possa tornar-se num país soberano e não seja mais um Estado falhado.

Etiquetas:

O filme de James Gray, "Two Lovers", que chega em Junho a Portugal, poderá ser a sua última oportunidade de ver o rosto do actor Joaquin Phoenix como se lembra dele. Depois de em Outubro ter anunciado que ia deixar o cinema para se dedicar à música, o norte-americano de 34 anos sofreu uma transformação radical. Em menos de seis meses, aquele que já foi considerado um dos homens mais atraentes do mundo deixou crescer a barba e o cabelo, engordou uns bons quilos e passou a exibir vários tiques nervosos. Ninguém sabe bem porquê.

Etiquetas:

23.5.09



"EM seu novo e esperado romance "Leite Derramado" (Companhia das Letras, 2009), o cantor, compositor e escritor carioca Chico Buarque atinge o ponto alto de sua produção literária. Munido de prosa elegante, fluente e divertida, ele narra a saga dos Assumpção, família de elite liderada pelo moribundo Eulálio Montenegro d'Assumpção. De seu leito de morte, em meio a delírios e devaneios, o protagonista relembra sua vida. O ponto central é seu amor possessivo e egoísta pela mulata Matilde, uma garota incrivelmente desejável com quem Eulálio se casa e vive uma relação corroída pelo ciúme. Paralelamente, Eulálio narra a saga de sua família, uma sucessão de calhordas que desembarca no Brasil nos tempos da corte portuguesa e atravessa as décadas comandando negócios escusos, fazendo quase tudo fora da lei e exibindo truculência para levar vantagem em tudo. "Chico cutuca e devassa com olhar cortante as mazelas da vida brasileira: a desigualdade obscena; a promiscuidade público-privada; a subserviência colonizada; o preconceito velado pela cordialidade", aponta o cientista social Eduardo Gianetti em resenha do livro publicada na Folha de S.Paulo. O cenário da trama é o Rio de Janeiro e o enredo dá vida a objetos e lugares que habitam as lembranças do autor, como vitrolas, colégios para moças, ritmos de época e o futebol. "Leite Derramado" é o quarto romance de Chico Buarque. Os outros três são "Estorvo" (1991), "Benjamim" (1995), e "Budapeste" (2003)."

Etiquetas:

22.5.09

"EXPERIMENTEM tirar o som aos dois – eu já experimentei – e vejam a mímica e a expressão de cada um. Sócrates tem uma expressão corporal – o dedo está sempre apontado – que mostra como ele é um indivíduo fortemente emocional, com o claro predomínio de sentimentos de conflito e de agressividade. Cavaco praticamente não se mexe, não faz gestos, o riso é sempre difícil, há uma autocontenção muito forte. Tudo isto, num e no outro, é da ordem do sintoma.

Sobre Cavaco Silva:

O Presidente da República é claramente uma personalidade obsessiva, marcada pelo isolamento das emoções e a distancia. O contacto dele é de defesa emocional em que raramente deixa transparecer um emoção.

[...]

criou o mito do politico antipolítico, ele próprio faz questão de afirmar aos portugueses que até ganhou as eleições no Congresso do PSD na Figueira da Foz porque foi estrear o carro… Isto marco o seu estilo, cuidadosa e milimetricamente calculado.

Sobre José Sócrates:

Sócrates é mais fácil de perceber. Até a própria escolha do nome – Cavaco é o Sr. Silva; Sócrates excluiu o nome do pai e da mãe – só esse simples exercício é da ordem do sintoma: ele é ele, o nome do pai e o nome da mãe não fazem parte do seu nome oficial.

Sobre Manuela Ferreira Leite:

Manuela Ferreira Leite nunca descolou do mundo no qual ela própria foi criada, o que também se reflecte na maneira como olha para a área social – com algumas gafes, como o casamento ser para reprodução ou a ideia de um intervalo na democracia…


Carlos Amaral Dias em entrevista na “Revista Única”, Expresso (#1906), 9 de Maio de 2009

Etiquetas:

21.5.09

MORREU João Bénard da Costa, grande vulto da cultura portuguesa, feitor desta casa.

Etiquetas: ,

NO dia 13 de Maio de 1984 começaram as emissões de televisão em Macau. No seu figurino inicial, a TDM era um projecto da administração portuguesa, montado por quadros oriundos da RTP e alternando equitativamente o português e o cantonense nas emissões. Hoje, no momento em que celebra o primeiro quarto de século, a TDM prepara-se para lançar três novos canais – Canal Desporto, Canal Vida e Canal Satélite –, a acrescentar aos já existentes. Veja aqui uma reportagem sobre esta estação, que proporciona um serviço em português com características únicas no mundo.


(Foto: António Falcão - Ao centro Jorge Silva, ao seu lado esquerdo Henry Tam, o director de informação do canal chinês e à direita Francisco Pinto, director de informação e programação do canal português)

Etiquetas: , ,

20.5.09

pensamento do dia

EVEN I could fuck that good looking black mean motherfucker, in a bad day...

19.5.09


ABOARD a shipwreck train
give my umbrella to a Rain Dog...

For I am a Rain Dog too

Oh how we danced with the Rose of Tralee
her long hair black
as a raven
Oh how we danced and she wispered
to me
You'll never be goin back home!!

Etiquetas:

18.5.09

pensamento do dia

13 de Maio e depois o cavaco nos 50 anos do cristo rei apresentados pela fátima campos ferreira perante os comentários sensatos do "rei" bragança mais a crise financeira e 500 mil desempregados oficiais e ainda santana lopes, filipe vieira, jerónimo de sousa e afins? Isto acontece mesmo? Foda-se, Portugal está feito num pântano, num antro de decadência e chulice. Que vão todos para a puta que os pariu, os celerados que a isto conduziram.

Etiquetas:

Visões de Macau (11)





Etiquetas: ,

17.5.09

pensamento do dia

HOJE Macau, amanhã sabe Deus.

16.5.09


SE eu só lhe fizesse o bem
Talvez fosse um vício a mais
Você me teria desprezo por fim
Porém não fui tão imprudente
E agora não há francamente
Motivo pra você me injuriar assim

Etiquetas:

14.5.09

DUBLIN (Associated Press) — When Dublin university student Shane Fitzgerald posted a poetic but phony quote on Wikipedia, he said he was testing how our globalized, increasingly Internet-dependent media was upholding accuracy and accountability in an age of instant news.
His report card: Wikipedia passed. Journalism flunked.
The sociology major's made-up quote — which he added to the Wikipedia page of Maurice Jarre hours after the French composer's death March 28 — flew straight on to dozens of U.S. blogs and newspaper Web sites in Britain, Australia and India.(...)
Fitzgerald said one of his University College Dublin classes was exploring how quickly information was transmitted around the globe. His private concern was that, under pressure to produce news instantly, media outlets were increasingly relying on Internet sources — none more ubiquitous than the publicly edited Wikipedia.

Etiquetas:

13.5.09


UMA curiosa viagem de auto-descoberta”. É desta forma que Rui Freitas designa o périplo que teve inicio em Macau no dia 10 do mês passado e que o levará sempre por via terrestre (essencialmente de comboio) até Lisboa, onde conta chegar no fim de Julho.
A ideia subjacente à viagem, que está a ser descrita com textos em inglês no site theloneartist.com, passa pela exploração das alterações geográficas e culturais que separam a Ásia e a Europa. São subtilezas que quem viaja de avião entre os dois continentes não consegue detectar, vendo-se, ao aterrar, subitamente imerso numa outra realidade: “Já fiz a ligação Europa - Ásia dezenas de vezes, mas é sempre uma experiência estranha. Entramos numa cápsula voadora e doze horas depois estamos num mundo totalmente diferente. Desta vez, achei que seria muito mais interessante experimentar as alterações geográficas e culturais que separam os dois continentes. E viajar de comboio é uma experiência que se desfruta muito mais. Quando demoramos mais de dez horas de comboio para chegarmos a uma cidade, temos muito mais prazer em descobri-la e apreciá-la”, conta o viajante

Etiquetas: , ,

12.5.09

pensamento do dia

"A bossa nova tá difícil com esse violãozinho"

Beto Ritchie, o rei da bossa nova de Macau, live at Casablanca.

DAVIS - Kind of Blue (So What)

Etiquetas: ,

10.5.09

pensamento do dia

這個十分有趣的城市內自由創作,同時也領略到這別樹一格與里斯本截然不同的城市文化氛圍:例如,我們可以晚上8點看完一場演出,再趕去一寂靜小 巷裡看一場10點半才開始的人偶演出,然後回到 參加一次午夜宴會,結識一班來自不同國家的文化人,談到各自的創作特色,讓人感到在波爾圖盡管文化資源不如澳門般多來自政府資助,但那份旺盛的、自發式的文化氣氛仍然讓人感到藝術創作並不孤單,好些有心人都在默默的推動,它本來就是生活的一部份,怎麼也分不開。
PESSOAL do I: não há "novo jornalismo", há jornalismo bem feito ou mal feito. E também assim assim. Os gajos que dizem que estão a inventar a roda são do departamento das vendas, não do editorial.

Etiquetas:

8.5.09

CHE cosa?
Che cosa?

Che cosa vuoi da me?
Che cosa vuoi ancora?
Che cosa vuoi di più?

Che cosa vuoi da me?
Che cosa posso dare?
Che cosa inventare?

Qu'est ce que tu veux de moi?
Che cosa vuoi di più?
Qu'est ce que tu veux de moi?

Che cosa vuoi provare?
Che cosa vuoi tentare?
Che cosa vuoi spezzare?

Etiquetas:

7.5.09

LISBOA, 07 Mai (Lusa) - Um novo jornal de informação geral e âmbito nacional intitulado "i" e detido pelo grupo Sojormedia começa hoje a ser vendido nas bancas de todo o país a um euro por exemplar.

Com uma tiragem de 80 mil exemplares, posteriormente adaptadas à adesão dos leitores, o novo título da Sojormedia, holding do grupo Lena para a comunicação social, terá o preço de capa de um euro entre segundas e quinta-feiras e de 1,40 às sextas e sábados.

Dirigido às classes alta e média-alta, o diário divide-se em quatro secções: Opinião, Radar, Zoom e Mais, onde está incluído o desporto.

À sexta-feira é editado com o "i" "O Melhor do New York Times", um suplemento preenchido com textos seleccionados do diário norte-americano, graças a um acordo de exclusividade estabelecido com o jornal português.

O acordo permite ainda que o "i" utilize diariamente conteúdos do título norte-americano.

Também à sexta é publicado o "Guia Para um Grande Fim-de-Semana", produzido de forma externa pela equipa da revista Time Out Lisboa.

Ao sábado o título chega às bancas com a revista "Nós", editada por Pedro Rolo Duarte, que nos anos 1990 criou o DNA, um suplemento marcante do Diário de Notícias.

Hoje fica disponível on-line o site do jornal - www.ionline.pt -, que, a par do papel, é um dos eixos do novo projecto, que representou um investimento global de 10,4 milhões de euros.

JRS.

Lusa/fim.

Etiquetas: ,

Nos bastidores de uma novela da TVI


INDÚSTRIA do faz de conta em acção

Os técnicos de produção da telenovela “Correntes”, que a TVI começará a transmitir em Junho, afadigam-se na montagem e colocação de projectores e reflectores de luz gigantes. Entretanto, algumas das actrizes do elenco ensaiam uns passos de dança para se entreterem. Demora tempo para pôr o mundo do faz de conta da televisão em andamento.



Leonor, psicóloga acabada de se licenciar, vem a Macau para conhecer a sua mãe, que permaneceu no território, depois de em criança ter ido para Portugal com o pai. Vem em busca da sua mãe biológica, mas não sabe que tem uma meia irmã macaense.

Em plena Alamaeda Dr. Carlos D’Assumpção, o aparato de luzes a câmaras atrai curiosos, que abrandam para observar a acção no passeio. Alguns querem saber que filme está a ser rodado e olham com fascínio para três das actrizes, que usam vestidos curtos, exibindo pernas elegantes e decotes sugestivos. O realizador argentino dá indicações à estrela da companhia, Joana Solnado, que protagoniza o papel de Leonor no enredo criado por Tozé Martinho. Carlos Dante sugere alterações na postura de Joana em cena, é preciso que fale com maior veemência.

Chegada a Macau, Leonor vai ter com um advogado, quando entra no escritório uma mulher desesperada a dizer que foi recusada a petição para salvar a filha, que tinha sido alvo de uma cilada num aeroporto da Tailândia, onde alguém mandado pelo namorado lhe colocou droga na bagagem. A mulher pede agitadamente ao advogado para que este resgate a filha da pena de morte, e acaba por desmaiar, vítima de ansiedade aguda.

No “set” preparam-se os últimos pormenores antes de os actores entrarem em cena. A aderecista, preocupada com o “raccord” - a coerência cénica entre os diversos “takes” – entrega uma camisa engomada a um dos figurantes, mas esquece-se do cabide em que transportava a peça de roupa em plano de cena, o que provoca risos entre a equipa de filmagem.



O advogado tem que se ausentar e pede a Leonor para acompanhar a mulher ao hospital. Ela fá-lo, desconhecendo que a pessoa inanimada que acompanha é a própria mãe, que entretanto mudara de nome para fugir de uma tríade criminosa. Leonor desconhece igualmente que a rapariga presa na Tailândia é sua meia-irmã.

Os assistentes asiáticos – contratados a uma produtora de Hong Kong – despejam baldes de água pelo passeio, para simular o efeito da chuva. É necessário também aspergir os carros estacionados, molhar os arbustos, dar verosimilhança a toda a situação. “Prepare to roll!” - lança Joel Monteiro, o assistente de realização. E eis que os ajudantes atiram com os últimos baldes de água, para parecer que acabou de chover em Macau. Todos os técnicos saem de cena, os actores colocam-se em posição. “Water please! Acção!” Leonor caminha pachorrentamente ao longo da avenida, desloca-se em direcção à câmara que se move lentamente sobre carris, tira o telemóvel da carteira, aproxima-se um pouco mais da objectiva, atende a chamada, fala.

No templo de Pau King, dedicado à deusa taoista da justiça, Leonor procura encontrar as respostas para a questões que a trouxeram a Macau. Quer saber onde pára a mãe e encontra Eduardo, um macaense idoso que fala é simpático para com ela. Mas o seu comportamento altera-se abruptamente quando Leonor lhe diz que procura a mãe, chamada Laura. Eduardo expulsa-a do templo e fecha a porta com estrondo.

“Como é que ficou?”, pergunta Joel Monteiro, atento às indicações que o realizador lhe dá via rádio, a partir da régie instalada numa carrinha,. “Ok, one more!”, grita Joel Monteiro. Volta tudo ao princípio, os actores irão repetir o “take” três vezes antes do resultado ser considerado satisfatório. Uma cena que resultará em 10 segundos no pequeno ecrã demora mais de uma hora a gravar. É assim a televisão, uma indústria do faz de conta, tão pesada quanto cativante.
P.B. (Fotos de António Falcão)





A entrevista que fiz ao realizador de “Correntes” pode ser vista aqui.

Etiquetas: ,

5.5.09

Ballard e a puta da subversão

J. G Ballard morreu a semana passada. Há quatro anos, Paulo Moura entrevistou-o na sua casa, em Londres. O resultado foi verdadeiramente subversivo, como era o pensamento do escritor:



Ao ver o escritor, de olhos brilhantes e cabelo comprido, com um ar um pouco desorientado, na sua sala cheia de pó, com sapatos, caixotes, livros e revistas sobre a carpete desbotada, junto à sua secretária com uma antiquada máquina de escrever eléctrica coberta com um plástico... é impossível não o imaginar como uma das suas próprias personagens. Talvez David Markham, o curioso e lúcido psicólogo de "Gente do Milénio", que se deixou fascinar pela causa de um
a revolução absurda.
Ballard vive sozinho num velho casarão em Shepperton, um bairro pacato e incaracterístico não longe do aeroporto de Heathrow, nos arredores de Londres. Autor de muitos romances e contos de ficção científica, considerado por muitos um áugure do futuro, não gosta de computadores e escreve à mão em folhas minúsculas.
Ao vê-lo ao lado do seu Ford Granada de 1970, oferecendo-se para me levar ao hotel, é impossível não pensar em "Crash", adaptado ao cinema por David Cronenberg, em que um grupo de amigos provocava acidentes rodoviários para daí extrair prazer erótico.
Ao vê-lo, aos 74 anos, enorme no meio do caos da sua sala, é impossível não pensar no menino inteligente e assustado de "O Império do Sol", o seu romance autobiográfico, que Steven Spielberg filmou. Perdido dos pais, prisioneiro num campo de guerra japonês em Xangai, Jim, então com oito anos, nunca perdeu a vontade de brincar. No campo de concentração, as pessoas, pelo menos, estavam juntas, diz ele.

P. "Gente do Milénio" fala de pessoas da classe média que sentem uma necessidade inexplicável de violência nas suas vidas. Porquê?
R. Os seres humanos têm um grande apetite por violência. Estão muito interessados na dor e na morte. Talvez por muito boas razões biológicas. O "Homo sapiens" emergiu há uns ce
m mil anos; a linguagem há 50 mil; a primeira cidade, no Iraque, foi construída há dez mil anos. E nos últimos 50 anos vivemos numa sociedade completamente nova, altamente organizada e consumista, que pôs os nossos cérebros a apodrecer.
P. Ainda não nos habituámos à civilização?
R. De modo nenhum. A maioria dos animais selvagens que hoje associamos a África andavam à solta na Europa ocidental há 20 mil anos. Os nossos antepassados caçavam estes animais, lutavam com eles. Nós não somos os seres racionais que pensamos ser. Somos selvagens. Os nossos sistemas nervosos centrais, os nossos cérebros, os nossos instintos, os nossos reflexos estão adaptados à vida de caçador solitário. Ou de grupos de dez ou 12 caçadores, não mais. Os seres humanos são perigosos e têm imaginações poderosas. De repente meteram-nos neste mundo, em que a individualidade é reprimida, em que não podemos fazer praticamente nada...
P. É precisamente por isso que a sociedade existe, para nos proteger de nós próprios.
R. É verdade. E temos de aceitar as regras, porque é do nosso interesse, como as regras do código da estrada. Mas é contra a nossa natureza
.
P. Cada vez que paramos num semáforo vermelho estamos a contrariar a nossa natureza?
R. Imagine que alguém pega em 200 reclusos de uma grande prisão americana e l
hes diz: "Ok, estão livres, venham daí. A partir de agora, podem viver neste bairro 'chique', usar estes fatos elegantes. Podem comer esparguete à bolonhesa ou o que quiserem em belos restaurantes. Terão um carro, podem ver televisão e comprar tudo o que quiserem no supermercado. Se casarem e tiverem filhos, terão educação gratuita para eles..." Acha que eles aceitariam? Claro que não. Arrasariam o bairro, destruiriam tudo!
P. Esses reclusos estão portanto mais próximos da natureza humana.
R. Somos violentos, fomos criados para a sobrevivência. Essa ideia iluminista de que os seres humanos se conduzem por altos motivos, tomam decisões racionais, é simplesmente mentira. Somos irracionais. Somos como um grupo de rapazes no recreio, a lutar todo o tempo. Somos criaturas perigosas. Veja a Segunda Guerra Mundial. Veja a guerra na Jugoslávia. Não conseguimos viver sem violência.
P. Devíamos aceitar mais violência na nossa sociedade, para evitar as guerras?
R. Sim, e é isso que está a acontecer. Os desportos são cada vez mais violentos. O boxe, o futebol americano, o râguebi, as corridas de carros desempenham um papel social, são uma válvula de escape. O nosso futebol também é violento mas não o suficiente. Por isso nasceu o hooliganismo, que é uma espécie de desporto paralelo. O futebol americano não tem "hooligans", porque a violência acontece dentro do estádio.
P. O futebol devia ser mais violento?
R. Sim. Deviam alterar um pouco as regras, para permitir que o jogo se torne mais violento.
P. No seu livro, a classe média iniciou uma revolução? De que se queixa a classe média?
R. As pessoas não podem estacionar o carro à porta de casa, as rendas estão cada vez mais altas... a classe média está sempre a queixar-se.
P. Mas daí a lançar uma revolução...
R. Lançaram uma revolução mas no fim foram todos para casa. Foi um pequeno movimento político sem sentido.
P. Uma das personagens diz que nenhuma revolução digna desse nome deveria ter êxito.
R. Exactamente. O que eu quis dizer é que, no futuro, vamos ter revoluções violentas sem nenhum objectivo. E é bom que assim seja. É bom que não tenham nenhum verdadeiro plano, nenhum sentido. Os Lenines, os Hitleres, os Pol Pots do futuro não terão ideologia, não terão justificação.
P. A história do livro foi inspirada em algum acontecimento real?
R. Houve um caso, há cinco anos, que me fez pensar. Uma jornalista de televisão foi assassinada. Chamava-se Jill Dando, tinha 30 anos, era bonita, vivia sozinha num distrito perto de Hammersmith. Um dia, ia para casa, alguém a seguiu e a matou, com um tiro. A Scotland Yard lançou uma verdadeira caça ao homem, com centenas de agentes. Nunca descobriram quem a matou nem por que razão. Acabaram por prender um vizinho, mas ninguém duvida de que ele está inocente. Foi e continua a ser um grande mistério, sobre o qual se escreveram muitos livros, se fizeram muitos debates. Então ocorreu-me que talvez tivesse sido um crime sem sentido nenhum. Seria esse o objectivo. Crimes sem sentido têm um sentido muito próprio.
P. Por que cometeria alguém um crime sem sentido?
R. Imagine que eu tenho uma terrível discussão com o meu vizinho. Saio de casa e quebro o pára-brisas do carro dele. É compreensível. É errado, mas faz sentido. Serei multado, e o assunto está encerrado. Mas imagine que vou na rua e paro subitamente junto a um carro qualquer e desato a partir-lhe os vidros. Ninguém vai compreender. Vão perguntar: "Porquê este carro?" O polícia vai dizer: "Não vejo qual é o móbil do crime." O juiz vai perguntar: "Porque fez isto, senhor Ballard? Conhecia o dono do carro? Não? Já tinha visto este carro antes? Não? Então porquê?" Toda a gente vai pensar no assunto, e voltar a pensar.
P. Talvez pensem que se tratou do acto de um doente mental.
R. Talvez, talvez... Mas é um fenómeno muito generalizado e específico do Ocidente, desde a Segunda Guerra. Crimes sem sentido. Pessoas entram em supermercados e matam indiscriminadamente, com metralhadoras, ou bombas. Um homem na Escócia entrou numa escola e matou 15 crianças dos três aos cinco anos. Outro, aqui perto, acordou uma manhã, pegou numa Kalashnikov" e matou a mãe. Depois passeou-se pela rua e assassinou mais umas dezenas de pessoas. Por fim suicidou-se. Outro...
P. Vê um significado nesses crimes?
R. Não. Mas são cada vez mais frequentes, à medida que as nossas sociedades se tornam mais civilizadas, mais enfadonhas.
P. As pessoas matam por enfado?
R. Estão desesperadas. É como um grito de socorro. Numa sociedade totalmente saudável, a loucura é a única liberdade possível. À medida que as sociedades ocidentais se tornam mais prósperas, mais civilizadas, mais governadas por leis razoáveis, deixamos de poder tomar decisões morais.
P. Não é bom ter leis razoáveis?
R. É precisamente esse o problema. As sociedades ocidentais são muito conformistas. Estão cheias de convenções. A vida na América, na Inglaterra, Itália ou Portugal é muito idêntica. A legislação é muito boa, muito esclarecida. Todos temos de mandar os nossos filhos para a escola, dar-lhes vacinas... tratar bem as nossas esposas, conduzir a 60 km/hora, parar no semáforo vermelho...
P. São convenções que aceitamos livremente, como disse.
R. É verdade. Mas semiconscientemente vamos descobrindo que não temos liberdade. E inconscientemente precisamos de protestar. Porque já não temos oportunidade de tomar decisões morais. O bem e o mal foram roubados aos seres humanos pela primeira vez.
P. Até aqui éramos donos do bem e do mal porque vivíamos em sociedades injustas?
R. Injustas, não democráticas, repressivas. Agora temos sociedades governadas pelos princípios mais simpáticos. E estamos sufocados, não podemos respirar. Não nos é permitido fazer julgamentos morais sobre nada. A sociedade fá-los por nós. A violência sem sentido surge como a única forma de assegurarmos a nossa liberdade. Há uma necessidade desesperada, no nosso mundo, de fazermos alguma coisa que tenha alguma espécie de sentido. E as únicas coisas que parecem ter algum sentido são os actos sem sentido.
P. Faz um certo sentido...
R. Se eu achar, por exemplo, que Tony Blair levou o nosso país para uma guerra estúpida, no Iraque, e por isso decidir matá-lo – o que não seria difícil, na realidade, se estiver preparado para ser apanhado. Se o fizer, o que terei conseguido? Nada. Mas se eu for na rua e matar a primeira pessoa que me aparecer, num acto completamente sem sentido mas ao mesmo tempo misterioso... isso deixará as pessoas a pensar.
P. Assassinar Blair seria lógico e portanto sem consequências...
R. O círculo fica completo, as pessoas partem para outra coisa, não pensam mais no assunto.
P. Um acto de violência aparentemente sem sentido como os atentados de 11 de Setembro também deixam as pessoas a pensar...
R. Sim, Mohamed Atta e os outros terroristas também não conheciam as suas vítimas. Também parece não terem qualquer justificação para o que fizeram. Eram indivíduos obsessivos mas altamente cultos. Frequentavam restaurantes e centros comerciais em Hamburgo ou em Londres e no entanto sentiram necessidade de provar alguma coisa, de provar que estavam vivos. Usaram o islão como justificação.
P. A religião não tem nada a ver com os motivos dos terroristas islâmicos?
R. A maioria dos muçulmanos não é violenta.
P. Mas há esse movimento do islão radical...
R. Isso já faz parte da insatisfação de que falo. Trata-se de pessoas oriundas de países, como a Arábia Saudita, altamente ocidentalizados. Viram-se para a violência, que não é inspirada na sua fé religiosa. Houve religiões violentas, é claro, mas o islão nunca o foi particularmente. Pelo menos não tanto como o cristianismo.
P. A violência sem sentido é importante para esses jovens muçulmanos ocidentalizados.
R. E a violência deles é importante para nós. Faz disparar o gatilho da nossa raiva, como aconteceu em Nova Iorque ou em Madrid.
P. Dá-nos justificações para o ódio.
R. Por exemplo, quando os americanos avançavam para o Oeste, nos séculos XVIII e XIX, perpetrando um genocídio contra os nativos, era bom que estes reagissem de vez em quando, matando alguns colonos brancos. Se tivessem dito logo – rendemo-nos, queremos a paz, dêem-nos uma reserva – teria sido muito mais difícil. Não, não, era melhor não se renderem já...
P. As reacções permitiam o ódio, sem culpa.
R. Normalmente dizem-nos que o ódio, a violência são maus. Mas depois do 11 de Setembro essas emoções são agora moralmente aceitáveis. Uma crescente hostilidade do Ocidente contra o islão é uma espécie de escape para as emoções reprimidas. Emoções que de outra forma voltaríamos contra nós próprios. Ter um inimigo externo é bom para nós.
P. Nesse caso, os terroristas islâmicos estão a fazer-nos um favor.
R. Exactamente. Ainda que não se apercebam.
P. Ou talvez se apercebam.
R. Talvez Bin Laden esteja a fazer tudo isso para o nosso bem. Talvez seja uma espécie de salvador, numa maquinação de pesadelo...
P. Isso leva a pensar que podemos estar a dar intencionalmente razões aos terroristas para cometerem actos terroristas...
R. É muito possível que estejamos a provocar inconscientemente os actos terroristas, porque os queremos, porque precisamos deles.
P. Significaria que fazemos terrorismo contra nós próprios e que Bin Laden é apenas um instrumento.
R. É um paradoxo, mas é possível que os ataques terroristas nos sejam úteis.
P. Ainda que constituam um pretexto para que as nossas sociedades se tornem ainda mais controladas.
R. Pior. A eliminação da dimensão moral das nossas vidas abre o caminho à lógica dos psicopatas. É isso que eu temo. Estamos a mover-nos rumo a uma guerra entre um gigantesco sistema psicopatológico contra outro gigantesco sistema psicopatológico. É assim que eu vejo o futuro. Uma espécie de luta darwiniana entre dois gigantes psicopatas rivais. O dos atacantes do 11 de Setembro contra o do complexo político-militar americano.
P. Bush compete em psicopatologia com Bin Laden?
R. O discurso dos neoconservadores americanos, Rumsfeld, Wolfowitz, sobre "fazer do mundo um lugar melhor" através da guerra está nas fronteiras da psicopatologia. Os ideólogos nazis, quando falavam da Rússia Soviética e dos judeus, mostravam o mesmo tipo de raciocínio psicopático. Mas a psicopatia é muito atraente. Dá todas as respostas de que precisamos.
P. A psicopatia, como a violência sem sentido, é um caminho para a liberdade?
R. Exactamente. Uma vez engolida a loucura básica, pode fazer-se qualquer coisa. Nos jornais ingleses já se está a criar o terreno para um ataque ao Irão. Só se fala do seu programa nuclear. Exactamente o mesmo caminho que seguiram com Saddam e as armas de destruição maciça.
P. As pessoas acreditam em tudo porque querem acreditar? Mesmo que não seja racional?
R. Sim. É até melhor que não seja racional.
P. Mas a sociedade perfeita e aborrecida de que fala é também ela uma mentira. A maioria dos seres humanos no mundo tem de lutar pela sobrevivência.
R. É verdade. Mas eu falo da sociedade ocidental.
P. Então por que não se dedicam os enfadados ocidentais, saudosos de decisões morais, a mudar o mundo?
R. Receio bem que não estejam interessados. Não temos interesse em nenhuma zona para além da nossa esquina do mundo. Estamos armadilhados na nossa história social. Olhe, eu nem sou capaz de lhe dizer o nome do primeiro-ministro português! E sou supostamente um homem culto. Vimos, na televisão, imagens de pessoas a morrerem à fome no Sudão. Que fazemos? Nada. As nossas atitudes são completamente provincianas. As nossas vidas são controladas. Se sou dentista, ou professor, não vou desistir da minha carreira para ir para África. Somos prisioneiros, embora não o saibamos.
P. Precisamos de aventura, mas ela não está ao nosso alcance.
R. O que está ao nosso alcance é a irracionalidade. A própria indústria do entretenimento está repleta desse apelo ao irracional.
P. É como se estivesse a preparar as pessoas para a tal violência sem sentido...
R. Exactamente. Parte do impacto do 11 de Setembro vem daí: já o tínhamos visto em filmes.
P. Havia uma espécie de premonição.
R. O que é muito assustador. Já estávamos a fazer o trabalho dos terroristas, ao nível da imaginação. A superfície da vida normal está a derreter, como gelo. O inconsciente humano está a começar a irromper. Meu Deus! As nossas estruturas políticas não conseguem lidar com isso.
P. Que podem fazer os políticos?
R. Não podem fazer nada. Estão presos ao conceito tradicional de política. Veja a Administração americana. Ainda está agarrada aos conceitos do século XX. Pensam sempre em termos de navios de guerra, tanques, ataques aéreos. É a América de 1945 com muito mais tecnologia, mas a mesma filosofia: se alguma coisa corre mal, bombardeia-se os gajos. Ora isto não se compadece com o mundo que temos. E depois os políticos ainda pensam que o seu papel é organizar a sociedade de forma mais justa e razoável. Também tem de ser isso, mas não só. Vocês já se viram livres da realeza, não é verdade?
P. Sim, em 1910.
R. Boa jogada. A monarquia está desacreditada. Mas a república também. Bem como a Igreja. Bom, nos EUA, 60 por cento das pessoas voltam-se para a Igreja, numa busca desenfreada do irracional. Eles têm uma indústria de entretenimento desde 1930. Uma prosperidade enorme e ainda a crença de que se trabalharem podem ter uma vida melhor. Mas o que será essa vida melhor? A Disneylândia? Mais consumo?
P. Não é isso que as pessoas continuam a procurar?
R. Tem de haver algo mais na vida do que apenas consumir coisas. Isso foi um bom ideal até certa altura, mas agora é um projecto que está esgotado.
P. A civilização ocidental vai então acabar?
R. A filosofia das Luzes, nascida com a Revolução Industrial, com a sua promessa de riqueza, prosperidade, já deu o que tinha a dar. O Iluminismo é um projecto acabado. Está nas suas últimas fases e as pessoas estão a voltar-se para o irracional. Para a religião, como nos EUA ou na Arábia Saudita, ou para o irracionalismo político, como os grandes projectos utópicos do século XX, o comunismo e o fascismo, que originaram dois gigantescos pesadelos...
P. Estará para nascer mais algum grande projecto utópico?
R. Eu vejo a possibilidade de o consumismo, para sobreviver, sofrer uma mutação. Transformar-se numa espécie de versão "soft" de fascismo. Há muitas similitudes. Os princípios psicológicos que lhe subjazem são os mesmos.
P. O consumismo não pressupõe a liberdade individual?
R. Não. É um tipo de autoritarismo, porque é um sistema de promessas. Compre isto e terá a felicidade. É uma promessa ideológica. A publicidade é um meio de dominar as nossas mentes, de forma autoritária, prepotente, sem argumentos racionais. As pessoas sabem isso e aceitam, porque gostam de obedecer.
P. Não se pode dizer que seja um optimista quanto à natureza e futuro da humanidade. Até que ponto a sua infância na China, durante a guerra, num campo de concentração, influenciou a sua visão do mundo?
R. Vivi em Xangai durante a ocupação japonesa, até aos 16 anos. Tive de crescer muito depressa. Aprende-se muita coisa, com essa experiência de viver, durante uma guerra, sob controlo inimigo. Ser civil e estar completamente à mercê deles. Ser uma criança e ver os pais também à mercê, inseguros. Sem terem comida para nos dar, cheios de medo. É absolutamente assustador. Ensina-nos para sempre que não podemos tomar nada por garantido. E que o mundo em que vivemos é muito mais perigoso do que parece.
P. É, de certa forma, um mundo fictício.
R. É um cenário. É assim que eu o vejo. Como um cenário de um filme, que pode ser derrubado em dez minutos, para ser substituído por outro.
P. A maioria das pessoas não tem esse pressentimento, pois não?
R. Quando cheguei a Inglaterra, depois da guerra, fiquei muito surpreendido. Então ninguém está a ver o que se passa? Senti-me um estranho aqui. E ainda hoje sinto, 60 anos depois. Parece que me apercebo de coisas que mais ninguém nota. Apetece-me dizer: "Ei, tenham cuidado!"
P. Os seus livros são isso? Avisos?
R. Acho que sim. Todos eles. É como colocar um sinal na rua a dizer: "Cuidado! Curvas perigosas mais à frente! Abrande!"
(PÚBLICO, 2004)

Etiquetas: , ,

4.5.09

(clique para aumentar)


DR.
Mouse #5, Fanzine O Coiso e Tal

Etiquetas: ,

pensamento do dia

DRIVE full dick so deeply inside and out

3.5.09

DE 20 a 24 de Abril, Emídio Rangel, Joaquim Letria, Maria Elisa, Sena Santos e Vicente Jorge Silva estiveram na Antena 1 falar sobre os caminhos do jornalismo em Portugal. Trinta e cinco anos depois da revolução, cinco grandes entrevistas na Antena 1, com gente influente nas formas de fazer rádio, jornais e televisão em Portugal. Pode ouvir o podcast no site da rádio pública.

Etiquetas:

A beleza do jogo

O que aconteceu ontem no Santiago Barnabéu, em plena cidade de Madrid, foi uma extraordinária lição de bem jogar futebol. Grande barça!

Etiquetas:

1.5.09

DIAMANDA Galás - The Thrill Is Gone

Etiquetas:

Em Macau: Em Lisboa:
www.flickr.com
This is a Flickr badge showing public photos and videos from BARBOSA BRIOSA. Make your own badge here.
Bookmark and Share