26.2.11

CHAMAM a esta cena "um verdadeiro clássico" retirado da mini-série portuguesa "Um Mundo Catita", episódio n.º 3 ("É tão sublime o amor"):

24.2.11

"NÃO sei que cronista escreveu que a noite de 11 de Fevereiro de 2011 foi o contraponto muçulmano do 11 de Setembro de 2001. Outra data que emocionou o mundo, mas no pior sentido. Quando há dez anos, com os ataques às Torres Gémeas em Nova Iorque e ao Pentágono, em Washington, o mundo parou, dolorosamente, de pasmo e de horror, perante o terrorismo islâmico da Al-Qaeda.

Como se sabe, hoje, e ninguém tem dúvidas, a América de Bush reagiu mal a esse fenómeno, porque não ouviu suficientemente os seus Aliados e só soube utilizar a violência mais cega, contra a violência dos terroristas - e não só - dando origem a duas guerras cruéis e inúteis, que sacrificaram milhares de inocentes, de ambos os campos e que só contribuíram para revoltar os Povos do Islão, fazendo-os crer que o Ocidente - ou parte dele - era o seu inimigo irredutível. Quando não era. Foi o terrorismo que, objectivamente, desacreditou o Islão - e que importava isolar - pela insólita violência e desumanidade com que agiu, não tendo nada a ver com a religião islâmica, como hoje é consensual.

O Povo egípcio, na Praça Tahrir, gritou pela liberdade, por eleições livres, mas também contra a violência que, mesmo assim, fez cerca de 300 mortes inocentes. Nesse sentido, foi o mais possível anti-terrorista. E o Presidente Obama foi seguramente o primeiro dirigente político mundial a perceber isso e a manifestar-se, dando a mão ao Povo egípcio, como era preciso fazer. Saberemos, mais tarde, se o fez, igualmente, em relação às forças militares egípcias. É bem possível. De qualquer modo, o exército egípcio não se manifestou. Foi, aparentemente, neutral e agiu com extrema sabedoria. Desde logo, impediu, controlando a polícia e evitando a violência, para que não houvesse um morticínio, senão mesmo um genocídio.

Assim se tornou o centro e agora o detentor do poder. Mas, atenção, para proceder, até Setembro próximo, a "eleições livres e justas", como acentuou Obama, com a autoridade que resulta de a América auxiliar financeiramente o Egipto e, em particular, as suas Forças Armadas."

Bela crónica de Mário Soares, que pode ser lida integralmente no DN.

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22.2.11

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21.2.11


, originally uploaded by @ninhas.

Cambodja


, originally uploaded by @ninhas.

20.2.11

"DON'T mind people grinning in your face" (Son House). Eis uma banda, agora dissolvida, em estado de graça:

The White Stripes - Death Letter & Son House
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18.2.11



MANUEL João Vieira tem um disco novo, “Romance/Hardcore”, com os Corações de Atum. Trata-se do primeiro disco de originais de Vieira desde “A Luta Continua” de 2004, com os Ena Pá 2000. O novo disco tem temas como "Euromilhões", ou "Zé Gorila", ou ainda "Gosto de ti realmente", "Strip Tease", "Eu gostava de gostar (de alguém)" e "Quando eu ganhar o totoloto".

Pensamento do dia

"Che-cos-lo-váquia... um nome esquisito"

16.2.11

ESTA análise do Alfredo Barroso faz-me pensar que o Marx devia ter pensado nisto: "A massa nunca se eleva ao padrão do seu melhor membro; pelo contrário, degrada-se ao nível do pior." Henry David Thoreau

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MACAU visto por um repórter do New York Times. Eis um exemplo de jornalismo de primeira água.

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15.2.11

Pensamento do dia

"Será que os peixes mijam? As galinhas não mijam..."

14.2.11

QUEM atente apenas no nome do director e da editora dos três volumes de “Património de Origem Portuguesa no Mundo: Arquitectura e Urbanismo” terá a noção da relevância científica deste projecto. Dirigida pelo historiador José Mattoso e publicada recentemente pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a obra em três volumes consiste numa espécie de mapa-mundo do património de origem portuguesa. O trabalho foi sendo divulgado por partes, tendo o primeiro dos três volumes - dedicado à América do Sul, com coordenação de Renata Malcher de Araujo — sido publicado em Maio de 2010. No fim do ano foram publicados os dois livros que completam o projecto, abordando os vestígios patrimoniais de origem portuguesa na Ásia e em África. O volume sobre o continente africano, Mar Vermelho e Golfo Pérsico foi coordenado pelo historiador Filipe Themudo Barata e pelo arquitecto José Manuel Fernandes, enquanto que o volume dedicado à Ásia e Oceania teve coordenação a cargo do arquitecto e historiador de arte Walter Rossa.
Numa entrevista que lhe fiz, o investigador refere que o Oriente seria “algo diferente” sem o legado luso e refere que o património listado em Macau está bem conservado, quando comparado com outros lugares do continente asiático.

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13.2.11

O Diário de Notícias lançou agora o serviço de e-paper, mais um passo na interactividade jornalística. Veja como funciona no iPad e no iPhone, versões que o editor do online do DN considera semelhantes à versão em papel, mas "em melhor".

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11.2.11

ESTES artistas portugueses, um dos quais está agora em Macau, tiveram uma ideia muito engraçada. Em vez de um blogue de relato de viagem, fizeram um "vídeo diário", partindo do princípio - nem sempre correcto, para bem da minha profissão - de que uma imagem vale mais do que mil palavras.

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10.2.11

"NÃO é preciso um génio matemático para compreender a evidência: reduzir o número de deputados (hoje 230), conservando o método de Hondt, iria dar ao PS e ao PSD o domínio completo da Assembleia. Os pequenos partidos pouco a pouco desapareciam (ou definhavam) e ficava só o "centrão", governando em aliança ou em alternância. Admito que a esmagadora maioria dos 230 deputados actuais (como tive pessoalmente a oportunidade de verificar) não faz coisíssima nenhuma e que esta absurda situação está a pedir um remédio drástico. Mas não um remédio daqueles que matam o doente e não curam a doença. Com menos 80 ou 90 deputados, a direcção dos grupos parlamentares continuaria a pôr e a dispor do Parlamento, sem vantagem para ninguém. A economia era ridícula. E a liberdade de expressão política, principalmente da opinião minoritária, talvez não resistisse à sua expulsão para o vazio institucional.

Os 308 concelhos que por aí existem também não se justificam. São quase os mesmos de há 180 anos. Entretanto, como é óbvio, o país mudou. Mudou a economia, mudou radicalmente a distribuição demográfica e mudaram os sistemas de comunicação e de transportes - só os concelhos resistiram. Pior do que isso: nada impede que os presidentes de câmara se portem como régulos no seu território ou que gastem rios de dinheiro sem senso, nem proveito para o contribuinte. Quem andou por aí, conhece com certeza os monumentos de pura megalomania e delírio, que atrás de si deixaram alguns destes senhores. Sucede, infelizmente, que o patriotismo local se opõe a qualquer mudança e é, como se constatou, uma força temível. Desde o "25 de Abril" já assistimos a algumas guerras de concelhos, que chegaram a um ponto de excitação e de violência difícil de imaginar em 2011. Não acredito que Governo algum se atreva, neste capítulo, a uma reforma radical.

E, por cima disto, existem ainda os governos civis (que Sócrates prometeu abolir e não aboliu) e 4257 freguesias, que vão de uma patética pobreza a orçamentos de mais de um milhão de euros. Riscar do mapa dois terços das freguesias seria, em princípio, um gesto de sanidade, até porque, como bem viu António Costa, nas grandes cidades o "bairrismo" morreu. Resta o "interior" (uma noção elástica), em que as freguesias não deixaram nunca de servir de centros de convívio e de ajuda. Nessas não se pode tocar. O que significa, como tudo o resto, que Portugal não sobrevive sem reformas, mas que não as quer ou só atura más - as muito más."

VASCO PULIDO VALENTE, IN PÚBLICO

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8.2.11

EIS uma crónica muito interessante e informada sobre a vida de Stanley Ho, a personalidade que, ao longo dos últimos 60 anos, mais definiu as actuais características de Macau.

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7.2.11

"A língua de uma mulher
pode custar o emprego de um homem,
as palavras de uma mulher
podem custar a cabeça de um homem.
Por isso é melhor um homem retirar-se da vida activa
e passar os seus últimos anos em paz."

Confúcio

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6.2.11

Pensamento do dia

O homem honesto diz a verdade, o homem tolo diz a verdade toda."
Confúcio

4.2.11

"OS ensinamentos de Confúcio, afinal para que servem?
Sábio, salteador de estradas, todos regressam ao pó.
Para quê tanta tristeza, tanto queixume?
Estamos vivos, vamos beber umas taças de vinho.

Du Fu, poeta chinês (712-770)

3.2.11

O Ano Novo Lunar

NO número 6, volume III, da revista “Renascimento”, de Junho de 1944, Luís Gonzaga Gomes ofereceu aos leitores um pitoresco relato dos vários momentos deste relevantísimo evento anual. Depois de lembrar que “ficaram prescritas no velho calendário lunar várias festividades que são aproveitadas por toda a população” e que “dessas festividades existem seis principais que o povo obstina em respeitar” (“a do Ano Novo, a do Barco Dragão, a da Colheita, a da Pura Claridade, a de Todas as Almas e a Outonal”, sendo as três primeiras destinadas aos vivos e as três últimas aos espíritos), descreveu a azáfama que caracteriza a fase preparatória, fundamental para garantir a boa realização dos diversos actos comemorativos e a entrada auspiciosa no novo ano.
Desse texto, Jorge Rangel transcreve, no JTM, algumas passagens mais significativas:
“Ora, de todas, a mais prolongada, a mais ruidosa e, portanto, aquela que se celebra com mais entusiasmo é a da ‘Sân-Nin’ (Ano Novo), para a qual valem a pena todos os sacrifícios que se fizeram durante o ano para economizar aquilo que irá ser generosamente gasto nos três dias da grande solenidade, em que, a não ser os indigentes, todos têm de calçar um par de sapatos novos, exibir a sua cabaia de luzente seda, ter em casa o imprescindível para a realização do tríplice culto, bem como os mimos necessários para serem permutados com as pessoas das suas relações.
De resto, o Ano Novo coincide com o ‘Lap-Tch’ân’ (Início da Primavera), período esse em que os princípios masculinos e femininos se plasmam homogeneamente com o fim de produzir a estabilidade do universo, em que as forças da natureza são renovadas e em que se inicia uma nova vida por terem sido saldadas todas as dívidas com o último dia do ano que passou. Que é de admirar, pois, que os (...) milhões de seres que povoam esta parte do globo se reúnam espiritualmente num frémito de mais vivo júbilo para acolherem o despontar do novo ano com o ensurdecedor estralejar de ‘p’áu-tchèong’ continuamente cortado pelos troantes estampidos de grandes cartuchos de pólvora e dos formidáveis estouros produzidos pelos fogos de artifício com que se remata a queima das intermináveis fitas desses estalos!
Ora, para o sucesso desse dia tão importante e festivo é necessário que os preparativos sejam iniciados com grande antecipação. Assim, já no dia 20 da última lua, tanto as residências dos ricos como as humildes mansardas dos pobres são varridas e lavadas e ai de moça que se desleixe no varrer, pois, as partículas de pó que não forem removidas cegá-las-ão, infalivelmente, para castigo da sua negligência.
Entretanto, nas moradas dos humildes, todos os membros da família se encontram atarefados. Uns consertam apressadamente os velhos trastes, outros ajeitam as desengonçadas portas e outros remendam os papéis que servem de vidraça.
Nas dos ricos, os criados brunem com entusiasmo os paus-pretos, redoiram as talhas, reenvernizam o portão da entrada principal, enquanto que as donas de casa vão buscar às arcas as almofadas de juta, revestidas de seda de auspicioso vermelho, para as colocar sobre os duros assentos das cadeiras e dos bancos, bem como os admiráveis bordados de exóticos desenhos destinados a servirem de reposteiros.
Mas a azáfama não se limita ao asseio da casa. É ainda preciso que se vá ao mercado comprar as diversas farinhas, jagra e demais condimentos, para se prepararem as diversas guloseimas, tais como os ‘pak-kôu’, os ‘pák-tch’i’, os ‘tchin-tui’, os ‘lit-hâu-tchôu’, os ‘t’ai-lóng-kôu’ e os ‘t’óng-uán’, destinadas a serem enviadas às pessoas amigas, bem como os cristalizados para encherem as oito divisões dos ‘tch’ün-hâp’ — caixas em porcelana, vidro ou laca de formato quadrado, circular ou octogonal, com uma divisão circular no meio para os indivíduos que se servirem desses doces deitarem os seus ‘lâi-si’, isto é, algumas moedas ou notas embrulhadas em papel escarlate —, sendo também imprescindível a aquisição de pevides tostados de melancia, e tangerinas para com eles se obsequiar também os conhecidos e os hóspedes.
Chegado o dia 24 da última lua não há casa nenhuma que não celebre sacrifícios ao ‘Tchôu-Ká-P’ôu-Sát’ ou ‘Tchôu-Kuân’ (o Senhor do fogão), cuja imagem se encontra enegrecida pelo fumo e num nicho atrás do fogão. (...) Aqueles que não puderem dispender uns cobres para a compra desta imagem limitar-se-ão a aplicar na parede atrás do fogão uma folha de papel vermelho onde estão pincelados os caracteres correspondentes ao nome e aos respectivos títulos da divindade em questão, pois, sendo ele o agente de ligação entre os mortais e os celículas, o espia que tudo vê para ir relatar ao soberano do Céu, quem há que se atreva de lhe deixar de ‘bater a cabeça’, de lhe acender umas velas e de lhe oferecer alguns bolinhos? (...)
À medida que se vai aproximando o dia festivo, vão-se animando as ruas. Em lugares mais frequentados organizam-se feiras, onde os negociantes improvisam as suas tendas repletas de artigos de louça e de todos os objectos adequados ao uso caseiro. Prosperam nesses dias os impressores ambulantes que não cessam de satisfazer os pedidos de numerosos clientes com vermelhos cartões de visita impressos em caracteres de fantasia. As mercearias regorgitam de fregueses que necessitam de fazer as suas provisões, pois, durante alguns dias, ninguém trabalhará na China e todas as lojas se conservarão encerradas. Há vendedores ambulantes que percorrem todas as ruas de lés a lés, com reduzidas miniaturas, em papelão, arcaicas alabardas, caixinhas recheadas de estalos, mealheiros de barro em forma de potes ou de porquinhos pintadinhos de vermelho e salpicados de prata, serviços completos de cozinha em tamanho reduzido e feitos de argila cozida, jogos de glória, enfim uma variedade infinita de tentadores objectos para seduzirem os petizes e que só custam uns cobres.
Na véspera e na antevéspera do ano, em Macau, não há nenhum chinês que não se dirija à noite à Rua do Sul do Mercado de S. Domingos com o fim de comprar uns bolbos de junquilho e uns ramos de pessegueiro, especialmente tratados para florescerem nessa quadra festiva.
Os que dispõem de dinheiro poderão escolher por entre a enorme variedade de flores e de arbustos de laranjeiras ou de tangerineiras artificialmente reduzidas, a planta que mais lhe agradar e que julgue mais decorativa para a sua residência, bem como um ou outro globo de vidro contendo peixes doirados. (...)
Ao anoitecer, depois de ter saído o último freguês, cerram as lojas as suas portas e as contas dos ábacos deslizam rápidas pelas varetas que se prendem aos caixilhos e movidos pelos frementes dedos dos caixas. Se o resultado do negócio durante o ano fôr positivo, o patrão sorri de satisfação e chalaça com os empregados, concedendo-lhes uma gratificação; se fôr negativo... com uns avozinhos se compra um boiãozinho de ópio que, ingerido com água, nunca traíu ninguém, nunca fez ‘perder a face’ a nenhum negociante insolvente. Outras vezes são os moradores que acordam sobressaltados durante a noite com o estridor de desabalados carros de incêndio que vão atalhar as chamas de uma loja que ardeu sem se saber como. Porém, no dia seguinte correrá à boca pequena que o seguro irá pagar a dívida de certo comerciante cuja falência já estava prevista.(...)
Um dos assuntos que mais preocupa o chinês na véspera do ano é a substituição dos dísticos agoureiros que se encontram colados não só nos dois lados e em cima da porta principal como em quase todas as portas do interior da sua residência inclusivamente as da cozinha. Tais dísticos exprimem desejos de venturas, sucessos nos negócios, numerosa prole, descendência ininterrupta, longa vida, honrarias e riquezas, ocupando, porém, lugar proeminente o carácter ‘fôk’ (felicidade) elegantemente caligrafado, em grandes recortes de papel vermelho com o formato de losangos. (...)
Além dos dísticos auspiciosos, os chineses costumam também colar nas suas portas, nessa ocasião, as efígies dos ‘mun-sân’ (deuses das portas), que foram, em época desconhecida, dois irmãos que viveram debaixo dum pessegueiro tão grande, que cinco mil homens de braços estendidos não conseguiram abraçar o seu adansonesco tronco. (...) Com o tempo as imagens dessas divindades passaram a ser gravadas em tabuínhas até que por último foram substituídas por gravuras em papel e, sendo fáceis de identificar por terem ao fundo em pessegueiro em flor”.

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2.2.11

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1.2.11

Cairo - A rebentar pelas costuras

uns anos eu era colaborador do suplmento Fugas, do Público, para onde escrevia artigos e crónicas de viagem. Houve uma, sobre o Cairo, que nunca foi publicada. Não percebi muito bem porquê, dado que me pareceu ser uma observação válida (e os últimos acontecimentos confirmam-no), mas nunca me quiseram publicar esta crónica. Fiquei a pensar que talvez isso se devesse ao facto de o suplemento ser patrocinado, na altura, por agências de viagens que cantavam as maravilhas do Egipto nos anúncios que ali publicavam. Não seria, portanto, propício publicar um relato um pouco destoante... De qualquer dos modos, aqui fica a cronicazinha de uma visita ao Cairo:


A “explosão demográfica” já foi identificada pelas autoridades egípcias como um dos mais preocupantes problemas do país. O Egipto tem actualmente 69 milhões de habitantes, mas as previsões estatais indicam que terá 79 milhões em 2010, 97 milhões em 2020 e 119 milhões em 2030. “É uma responsabilidade de toda a sociedade, não queremos tornar-nos num país que só cuida de um décimo da sua população e negligencia o resto”, afirmou num discurso Hosni Mubarak, o homem que está há três décadas no poder.
A maioria da população concentra-se no Cairo, que parece já estar a abarrotar de gente. As zonas rurais à sua volta estão a ser rapidamente transformadas em subúrbios assustadores. Tratam-se de extensões intermináveis de prédios inacabados, na maior parte dos casos com fachadas de tijolo e sem qualquer arranjo exterior. Estes autênticos caixotes são, muitas vezes, rodeados de montes de lixo, já que não é feita a sua recolha. As fétidas condições de higiene impressionam: há lixo à volta dos ribeiros onde mulheres lavam a roupa e, mais à frente, um cavalo putrefacto a apodrecer na rua. Ao lado do animal morto, crianças brincam e rebolam pelo chão.
A quantidade de pessoas a viverem na pobreza é enorme, mas, segundo me asseguraram, ninguém passa fome, dado que no Egipto há o costume (e o dever familiar e religioso) de se partilhar o pouco que se tem. A sobrepopulação é muito evidente na cidade islâmica do Cairo ao fim da tarde. No bazar de al-Khalili, no meio de uma multidão compacta e esfuziante, quase levitei à medida que entrava num cenário medieval, com ruas de terra, lixo abundante e pequenas lojas de todo o género, que parecem saídas de um tempo que nada tem a ver com o ocidental, tal como o escritor Albert Cossery tão bem notou. Naquela sexta-feira (dia feriado) de Ramadão toda a gente tinha acorrido ao centro da cidade e, em certas ruas, não se conseguia vislumbrar um bocadinho de asfalto ou passeio. Milhares de pessoas passeavam, faziam compras ou festejavam, sendo necessário romper por entre a mole humana para seguir caminho. Um estrangeiro ali é facilmente distinguível e poderia ser roubado com toda a facilidade. Mas tal não sucede, nem há qualquer sensação de insegurança. A consciência de estar perdido naquela imensidão do Cairo é de júbilo interior. Não há hostilidade, antes festa de cheiros e rostos. Resta saber se a capital egípcia continuará a ter esta componente festiva quando a sua população duplicar, tal como indicam as previsões. Os mais pessimistas (ou avisados?) defendem que, nessa altura, a cidade ficará inabitável.

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Em Macau: Em Lisboa:
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