30.7.09
29.7.09
A Joana de Belém e o Octávio, ambos jornalistas no Porto, andam a respigar por aí e criaram este blogue muito engraçado, com a história dos objectos que é também uma nostalgia pelos tempos da infância. Há outros blogues que se dedicam à nostalgia dos oitenta (a primeira geração da Internet está a ficar madura e gosta de reviver o passado), tais como este ou este.
27.7.09
26.7.09
WE train young men to drop fire on people. But their commanders won't allow them to write "fuck" on their airplanes because it's obscene!
25.7.09
Vietname I
UMA das grandes curiosidades que tinha na visita que fiz ao Vietname era tentar entender por que motivo se meteram os americanos na guerra civil(que surge na sequência da derrota dos colonialistas franceses e da Conferência de Genebra, na qual o Vietname foi dividido em dois países separados), numa intervenção que redundou no desastre conhecido. Mais de quatro milhões de mortos vietnamitas, muitos deles civis e cerca de 50 mil americanos mortos.
Quando andava na universidade e assinava a Newsweek, um memorável número da revista tinha uma das capas mais fortes que já vi. A letras garrafais tinha escrito “Why did we do it?”, por cima de uma nuvem causada por uma explosão atómica, em forma de cogumelo. Referia-se às deflagrações atómicas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão. A guerra já estava ganha, era uma questão mais algumas semanas até à capitulação japonesa. Porquê então mandar a bomba? A teses mais veiculadas são: para poupar mais vidas americanas na guerra e para mostrar aos soviéticos e ao mundo o poder desta nova arma. Em resultado do ataque atómico, morreram atrozmente milhares de inocentes, outros ficaram estropiados, e nem os que nasceram depois se livraram dos efeitos nocivos das radiações. Uma maneira péssima de terminar uma guerra em que os americanos tiveram um papel crucial e heróico na derrota dos nazis.
Depois veio a guerra fria, o plano Marshal, a intervenção na guerra da Coreia e o Vietname, um trauma que permanece até hoje. Para tentar perceber melhor esta questão, visitei o “War Remmants Museum”, em Saigão, os famosos túneis de Cu Chi e estou a ler um livro muito interessante: “Vietnam, A History”, de Stanley Karnow, jornalista premiado com o Pulitzer.
A visita ao país confirmou o que pensava. A intervenção americana no Vietname foi um erro absurdo. Em termos geo-estratégicos, aquele país da Indochina não tem grande importância. Não é um Iraque, cheio de petróleo. O seu principal bem exportável é o arroz, o país é rural e pobre (ainda continua a ser, imagino como seria nos anos 60).
A intervenção americana começa por ser de mero apoio e aconselhamento às forças do governo corrupto do Sul contra a guerrilha de Ho Chi Min. Mas depois houve uma escalada, com os americanos a terem mais de meio milhão de homens destacados no Vietname na segunda metade da década de 60. É lógico que, tal como na Coreia, a guerra baseia-se em divergências ideológicas. É o capitalismo apoiado pelos americanos contra o comunismo. Na América, os estrategas da altura acreditavam no efeito de dominó, segundo a qual o comunismo se expandiria se não fosse travado, custasse o que custasse. Por outro lado, é nítido que os americanos sempre subestimaram o adversário que enfrentavam, como o fizeram agora no Iraque. Os vietcongs estavam dispostos a um sacrifício imenso, estavam também altamente motivados para vencer um conflito que, para eles, era de vida ou de morte. Questão bem ilustrada no livro de Karnow:
“American startegists went astray by ascribing their own values to the communists. Westmoreland, for one, was sure that he knew the threshold of their endurance: by ‘bledding them, he would impress upon the leaders the realization thet they were draining their population to the point of national disaster for generations’ and thus compel them to sue for peace. Even after the war, he still seemed to have misunderstood the dimensions of their determination. ‘Any anerican commander who took the same war looses as General Diap’, he said, ‘would have been sacked overnight.’
Modelo de vietcongs, que aqui aproveitam uma bomba americana que não explodiu para fabricar minas.
But Giap was not na american confronted by a strange people in a faraway land. His troops and their civilian supporters, fighting on their on soil, were convinced that their protracted struggle would ultimately wear away the patience of their foes na carry them to their goal. The strategy had worked for Giap against France, and he was persuaded that it would work against the United States.
‘We were not strong enough to drive a half million american troops out of Vietnam, but that wasn’t our aim’. Giap explained to me. ‘We sought to break the will os the american government to continue the conflict. Westmoreland was strong to count on His superior firepower to grind us down. Our Soviet and Chinese comrades also failed to grasp our approach when they asked how many divisions we had in ralation to the americans, how we would cope with their technology, their artillery, their air attacks. We were engaging a people´s war à lameniere vitnamienne – a total war in wich every man, every woman, every unit, big or small is sustained by a mobillized population. So america’s sophisticated weapons, electronic devices and the rest were to no avail. Despite its military power, América misgauged the limits of its power. In war there are two factors – human beings and wepons. Ultimately, though, human beings are the decisive factors.”
Pag. 20, 21
O inimigo era omnipresente, estava disfarçado entre os camponeses, refugiado em túneis com centenas de quilómetros de extensão. Eis a opinião de um almirante americano:
“We should have fought in the north, were everyone was the enemy, were you didn’t have to worry wether or not you were shooting frindly civilians. In the south, we had to cope with women concealing grenades in their brasseries, or in their baby’s diapers. I remenber two of our marines being killed by a youngster who they were teaching to play volleyball.”
(pág. 19)
Vítima da utilização de armas químicas por parte dos americanos (agente laranja, um herbicida usado para deflorestar a selva vietnamita)
(continua)
23.7.09
22.7.09
Macau nos “Estados Gerais”
Macau foi uma das cidades escolhidas pela kameraphoto, um colectivo de 13 fotógrafos freelancers sediado em Lisboa, para desenvolver o projecto “Estados Gerais”. A partir de hoje, e durante uma semana, António Júlio Duarte acompanhará o trabalho dos jornalistas do Hoje Macau, deslocando-se com eles em reportagem e fotografando o quotidiano da cidade.
Partindo de um questionamento “da forma como são editados os acontecimentos quotidianos e fotografadas as notícias a eles referentes”, o objectivo destes “Estados Gerais” passa por procurar “uma visão comparativa e alternativa” relativamente “às notícias escolhidas e difundidas a partir de modelos hegemónicos de comunicação de massas”, explica a kameraphoto. Visão essa que o colectivo considera “mais próxima das preocupações e problemas das populações, pondo em confronto as noções de local e global”.
À semelhança do trabalho que António Júlio Duarte irá desenvolver junto da redacção do Hoje Macau, outros doze fotógrafos da kameraphoto estarão espalhados por quatro continentes, registando a agenda noticiosa de jornais em Detroit, São Paulo, Cidade do México, Istambul, Madrid, Moscovo, Reiquiavique, Gaza, Joanesburgo, Beirute, Nova Deli e Tóquio. O projecto resultará num livro, intitulado “Estados Gerais vol. I”, com publicação prevista para Setembro. Todos os jornais participantes poderão publicar os trabalhos desenvolvidos pelos fotógrafos da kameraphoto nas 13 cidades seleccionadas para estarem no projecto.
De acordo com um comunicado da organização, a iniciativa irá “sublinhar a importância da imprensa local e especializada para a existência de um jornalismo livre”. O ponto de vista escolhido pelos fotógrafos para entender a realidade que retratarão permitirá, segundo julgam, “tirar partido da mais valia de trabalhar ao lado de quem melhor conhece e documenta diariamente” esse contexto.
Fundada em Janeiro de 2003, a kameraphoto surgiu de uma conjugação de interesses no sentido de criar, em Portugal, uma estrutura que incentivasse, divulgasse e representasse o trabalho de fotógrafos freelancer. O colectivo procura salvaguardar os direitos dos 13 fotógrafos membros enquanto autores independentes.A edição do jornal português “Público” dedica um longo artigo, da autoria de Alexandra Lucas Coelho, ao tema.
Partindo de um questionamento “da forma como são editados os acontecimentos quotidianos e fotografadas as notícias a eles referentes”, o objectivo destes “Estados Gerais” passa por procurar “uma visão comparativa e alternativa” relativamente “às notícias escolhidas e difundidas a partir de modelos hegemónicos de comunicação de massas”, explica a kameraphoto. Visão essa que o colectivo considera “mais próxima das preocupações e problemas das populações, pondo em confronto as noções de local e global”.
À semelhança do trabalho que António Júlio Duarte irá desenvolver junto da redacção do Hoje Macau, outros doze fotógrafos da kameraphoto estarão espalhados por quatro continentes, registando a agenda noticiosa de jornais em Detroit, São Paulo, Cidade do México, Istambul, Madrid, Moscovo, Reiquiavique, Gaza, Joanesburgo, Beirute, Nova Deli e Tóquio. O projecto resultará num livro, intitulado “Estados Gerais vol. I”, com publicação prevista para Setembro. Todos os jornais participantes poderão publicar os trabalhos desenvolvidos pelos fotógrafos da kameraphoto nas 13 cidades seleccionadas para estarem no projecto.
De acordo com um comunicado da organização, a iniciativa irá “sublinhar a importância da imprensa local e especializada para a existência de um jornalismo livre”. O ponto de vista escolhido pelos fotógrafos para entender a realidade que retratarão permitirá, segundo julgam, “tirar partido da mais valia de trabalhar ao lado de quem melhor conhece e documenta diariamente” esse contexto.
Fundada em Janeiro de 2003, a kameraphoto surgiu de uma conjugação de interesses no sentido de criar, em Portugal, uma estrutura que incentivasse, divulgasse e representasse o trabalho de fotógrafos freelancer. O colectivo procura salvaguardar os direitos dos 13 fotógrafos membros enquanto autores independentes.A edição do jornal português “Público” dedica um longo artigo, da autoria de Alexandra Lucas Coelho, ao tema.
Etiquetas: Fotografia, Jornalismo, Macau
21.7.09
pensamento do dia
EXCLUINDO os registos ensaístico, jornalístico e técnico, só escreve bem quem sai da zona de conforto. Só escreve realmente quem dança na corda bamba.
EM relação a este post, o Agostinho, informado professor de História e amigo de infância, enviou-me umas citações do Javier Marias que rebatem a opinião que expressei sobre o Real Madrid. Disse eu que era um clube com conotações monárquicas e mesmo franquistas. Vejamos o que diz o enorme escritor espanhol:
"Como é do conhecimento daqueles que têm memória e há pouco tempo recordou um ressabiado jornalista que dá muitos ares de «vermelho», as pessoas de esquerda e republicanas, os derrotados da Guerra Civil, preferiam o Madrid ao Atlético, apesar de o adjectivo «Real» aparentemente contraditório. O Madrid tinha no seu nome o da cidade sitiada e bombardeada, enquanto o Atlético Aviación (como se chamava na sua origem o Atleti) era a equipa dos pilotos franquistas, justamente aqueles que se tinham dedicado a bombardear a capital com sanha. Entre os nossos jogadores houve não pouco «avermelhados», como Del Bosque, ou o guarda-redes Miguel Ángel, ou Breitner o abissínio, ou Pardeza, ou Valdano, e só os triunfos europeus dos anos 50 e 60 levaram o regime ditatorial, com o seu oportunismo, a aproximar-se dele e não o inverso." (p. 110)
"É curioso - e injusto, não é por acaso que sou desta equipa desde a minha mais tenra infância - que o Real Madrid tenha sido tão difamado. Durante muito tempo foi considerado o emblema do regime franquista, quando afinal o que houve foi um aproveitamento oportunista, por parte da ditadura, dos seus grandes êxitos europeus nos anos 50 e 60 (*). O engraçado é que imediatamente depois da Guerra Civil, o Real Madrid, apesar do seu monárquico nome, era paradoxalmente a equipa preferida dos derrotados republicanos madrilenos, porque pelo menos era portador do nome da cidade que fora brutalmente assediada e bombardeada durante três anos, a última a render-se, a mais resistente e corajosa diante de Franco, que depois a castigou por isso.» (p. 119)
[ambas as crónicas estão datadas de 1998]
Selvagens e Sentimentais, Histórias do Futebol do Javier Marías (Dom Quixote, Ficção Universal nº 291)
"Como é do conhecimento daqueles que têm memória e há pouco tempo recordou um ressabiado jornalista que dá muitos ares de «vermelho», as pessoas de esquerda e republicanas, os derrotados da Guerra Civil, preferiam o Madrid ao Atlético, apesar de o adjectivo «Real» aparentemente contraditório. O Madrid tinha no seu nome o da cidade sitiada e bombardeada, enquanto o Atlético Aviación (como se chamava na sua origem o Atleti) era a equipa dos pilotos franquistas, justamente aqueles que se tinham dedicado a bombardear a capital com sanha. Entre os nossos jogadores houve não pouco «avermelhados», como Del Bosque, ou o guarda-redes Miguel Ángel, ou Breitner o abissínio, ou Pardeza, ou Valdano, e só os triunfos europeus dos anos 50 e 60 levaram o regime ditatorial, com o seu oportunismo, a aproximar-se dele e não o inverso." (p. 110)
"É curioso - e injusto, não é por acaso que sou desta equipa desde a minha mais tenra infância - que o Real Madrid tenha sido tão difamado. Durante muito tempo foi considerado o emblema do regime franquista, quando afinal o que houve foi um aproveitamento oportunista, por parte da ditadura, dos seus grandes êxitos europeus nos anos 50 e 60 (*). O engraçado é que imediatamente depois da Guerra Civil, o Real Madrid, apesar do seu monárquico nome, era paradoxalmente a equipa preferida dos derrotados republicanos madrilenos, porque pelo menos era portador do nome da cidade que fora brutalmente assediada e bombardeada durante três anos, a última a render-se, a mais resistente e corajosa diante de Franco, que depois a castigou por isso.» (p. 119)
[ambas as crónicas estão datadas de 1998]
Selvagens e Sentimentais, Histórias do Futebol do Javier Marías (Dom Quixote, Ficção Universal nº 291)
Etiquetas: Desporto
20.7.09
pensamento do dia
"I ain't talking 'bout no revolution and I' not talkin' about no demonstrations. I'm talking about having a good time this summer! I'm talking about love, love! I don't know what's gonna happen man, but I wanna have my kicks before the whole shithouse goes up in flames! Alright!"
Jim Morrison
Jim Morrison
19.7.09
VEM meu amor Vamos invadir um site Vamos fazer um filho Vamos criar um vírus Traficar armas Poemas de Rimbaud... Vem meu amor Vamos invadir um site Vamos fazer um filho Vamos criar um vírus Traficar armas escravos e rancor
18.7.09
"ACREDITEM ou não, sua mente encontrava-se perfeitamente lúcida... se bem que concentrada nele próprio com tremenda intensidade; e ali estava minha única oportunidade. (..). Mas sua alma havia enlouquecido. Estava sozinha na selva, havia olhado para dentro de si e, por Deus, não tenho dúvida de que enlouquecera (...). Nenhuma eloquência poderia ter sido tão devastora à nossa crença na humanidade como sua explosão final de sinceridade. Lutava com ele próprio também. Presenciei isso tudo, vendo-o... ouvindo-o. Vi o mistério inconcebível de uma alma que não conhecia limite, nem fé, nem medo, embora lutasse cegamente contra si propria."
" Sua escuridão era impentrável. Olhava para ele como olharia alguém que se encontra no fundo de um precipício onde o sol nunca brilha."
[os últimos suspiros de Kurtz na selva do Congo, que podia muito bem ser a selva do Vietname, como Francis Coppola bem interpretou]
" O horror! O horror!"
(in Joseph Conrad, o Coração das Trevas)
" Sua escuridão era impentrável. Olhava para ele como olharia alguém que se encontra no fundo de um precipício onde o sol nunca brilha."
[os últimos suspiros de Kurtz na selva do Congo, que podia muito bem ser a selva do Vietname, como Francis Coppola bem interpretou]
" O horror! O horror!"
(in Joseph Conrad, o Coração das Trevas)
Etiquetas: literatura
Absolutamente moderno
FASCINA-ME a ideia de que Rimbaud se tornou um traficante de escravos e de armas na AbissÍnia, abandonando a poesia que tanto o ocupou numa vida anterior.
Existe uma sabedoria neste passo. É ainda um acto de revolta, a revolta final. Era ele quem escrevia: "é preciso ser absolutamente moderno"
"En février 1884, la Société de Géographie publie à Paris le Rapport sur l’Ogadine (une région près d’Harar) rédigé par Rimbaud. En octobre 1885, Pierre Labatut engage Rimbaud afin de vendre des armes d’occasion au roi Ménélik II. La caravane qu’il mène séjourne longuement dans le port de Tadjoura (Mer rouge). Peut-être mêle t’il le trafic d’esclaves au trafic d’armes."
"Após completar outro livro de poemas em prosa, Les Illuminations (1874), Rimbaud desistiu completamente da literatura e passou a viver como vagabundo. Circulou pela Europa e, nos últimos doze anos de sua vida, trabalhou para comerciantes franceses, traficando armas e, acredita-se, também escravos. Rimbaud morreu em 1891, após ter a perna direita amputada em decorrência de um câncer.
Assim, Rimbaud viveu duas vidas. Primeiro, em poucos anos de rebelde genial. Depois, uma obscura existência de traficante de armas no norte da África e no Oriente Médio."
Existe uma sabedoria neste passo. É ainda um acto de revolta, a revolta final. Era ele quem escrevia: "é preciso ser absolutamente moderno"
"En février 1884, la Société de Géographie publie à Paris le Rapport sur l’Ogadine (une région près d’Harar) rédigé par Rimbaud. En octobre 1885, Pierre Labatut engage Rimbaud afin de vendre des armes d’occasion au roi Ménélik II. La caravane qu’il mène séjourne longuement dans le port de Tadjoura (Mer rouge). Peut-être mêle t’il le trafic d’esclaves au trafic d’armes."
"Após completar outro livro de poemas em prosa, Les Illuminations (1874), Rimbaud desistiu completamente da literatura e passou a viver como vagabundo. Circulou pela Europa e, nos últimos doze anos de sua vida, trabalhou para comerciantes franceses, traficando armas e, acredita-se, também escravos. Rimbaud morreu em 1891, após ter a perna direita amputada em decorrência de um câncer.
Assim, Rimbaud viveu duas vidas. Primeiro, em poucos anos de rebelde genial. Depois, uma obscura existência de traficante de armas no norte da África e no Oriente Médio."
Etiquetas: Poesia
15.7.09
QUESTÕES de agora e de sempre: "Mesmo que muitos filósofos, como Rousseau, De Rougemont e Fromm desconfiem do amor e defendam que a relação de um casal deve basear--se mais na vontade do que no sentimento.
Esta tese, se levada ao extremo, exclui o amor e concebe a fidelidade como pura obrigação. Assumiste o compromisso de seres fiel, que deves respeitar sempre e em qualquer circunstância. Evitarás as pessoas que possam influen- ciar-te negativamente. Não frequentarás ambientes promíscuos. Não te aproximarás de homens ou mulheres que te agradem e que possas desejar. Sufocarás à nascença os teus impulsos eróticos até ficares indiferente aos estímulos, até que os outros te sintam frio e distante. São em menor número aqueles que deram importância à fidelidade espontânea que nasce de um amor apaixonado. E, contudo, ela existe."
Por Francesco Alberoni, resto da crónica aqui.
Esta tese, se levada ao extremo, exclui o amor e concebe a fidelidade como pura obrigação. Assumiste o compromisso de seres fiel, que deves respeitar sempre e em qualquer circunstância. Evitarás as pessoas que possam influen- ciar-te negativamente. Não frequentarás ambientes promíscuos. Não te aproximarás de homens ou mulheres que te agradem e que possas desejar. Sufocarás à nascença os teus impulsos eróticos até ficares indiferente aos estímulos, até que os outros te sintam frio e distante. São em menor número aqueles que deram importância à fidelidade espontânea que nasce de um amor apaixonado. E, contudo, ela existe."
Por Francesco Alberoni, resto da crónica aqui.
Etiquetas: Filosofia
13.7.09
Be Kind
we are always asked
to understand the other person's
viewpoint
no matter how
out-dated
foolish or
obnoxious.
one is asked
to view
their total error
their life-waste
with
kindliness,
especially if they are
aged.
but age is the total of
our doing.
they have aged
badly
because they have
lived
out of focus,
they have refused to
see.
not their fault?
whose fault?
mine?
I am asked to hide
my viewpoint
from them
for fear of their
fear.
age is no crime
but the shame
of a deliberately
wasted
life
among so many
deliberately
wasted
lives
is.
by Charles Bukowski
to understand the other person's
viewpoint
no matter how
out-dated
foolish or
obnoxious.
one is asked
to view
their total error
their life-waste
with
kindliness,
especially if they are
aged.
but age is the total of
our doing.
they have aged
badly
because they have
lived
out of focus,
they have refused to
see.
not their fault?
whose fault?
mine?
I am asked to hide
my viewpoint
from them
for fear of their
fear.
age is no crime
but the shame
of a deliberately
wasted
life
among so many
deliberately
wasted
lives
is.
by Charles Bukowski
Etiquetas: Poesia
11.7.09
10.7.09
O melhor de Gaspar:
"contra minha vontade, vejo-me obrigado a interromper a morte.
pedimos desculpa pelo incómodo. prometemos ser breves.
oiço sempre: "que perfeito o cu da são..." [*]
conheço um gajo que se suicidou por motivos de forca maior.
o sexo para mim é como o comunismo. na teoria é muito giro e faz todo o sentido, mas é muito difícil pô-lo em prática.
sou uma pessoa de princípios e, como tal, nunca acabo nada.
a melhor estratégia de marketing de um escritor ainda é falecer.
«fish swim
birds fly
daddies yell
mamas cry
old men
sit and think
i drink.»
foi ao psicólogo e expôs-lhe os seus medos. ele olhou para ela e pensou: «fobia-te toda.»
ela disse: «eu amo-te, caralho.»
e ele sorriu, enternecido, sem perceber a literalidade.
o meu objectivo de vida a longo prazo é não ter telemóvel
- ando a tomar umas coisas para dormir.
- também eu.
- eu ando a tomar lorazepam, e tu?
- quinta de cabriz.
se é daquelas pessoas preocupadas com a crise a ponto de comprar um livro com conselhos e dicas sobre como poupar, podia começar por não comprar um daqueles livros com conselhos e dicas sobre como poupar.
por que é que os gajos do norte dizem "assim cumo" em vez de "assim como", mas se estiverem a conjugar o verbo comer já não dizem "eu cumo"?
adoro quando ela me acorda a meio da manhã e me faz um brunch.
"contra minha vontade, vejo-me obrigado a interromper a morte.
pedimos desculpa pelo incómodo. prometemos ser breves.
oiço sempre: "que perfeito o cu da são..." [*]
conheço um gajo que se suicidou por motivos de forca maior.
o sexo para mim é como o comunismo. na teoria é muito giro e faz todo o sentido, mas é muito difícil pô-lo em prática.
sou uma pessoa de princípios e, como tal, nunca acabo nada.
a melhor estratégia de marketing de um escritor ainda é falecer.
«fish swim
birds fly
daddies yell
mamas cry
old men
sit and think
i drink.»
foi ao psicólogo e expôs-lhe os seus medos. ele olhou para ela e pensou: «fobia-te toda.»
ela disse: «eu amo-te, caralho.»
e ele sorriu, enternecido, sem perceber a literalidade.
o meu objectivo de vida a longo prazo é não ter telemóvel
- ando a tomar umas coisas para dormir.
- também eu.
- eu ando a tomar lorazepam, e tu?
- quinta de cabriz.
se é daquelas pessoas preocupadas com a crise a ponto de comprar um livro com conselhos e dicas sobre como poupar, podia começar por não comprar um daqueles livros com conselhos e dicas sobre como poupar.
por que é que os gajos do norte dizem "assim cumo" em vez de "assim como", mas se estiverem a conjugar o verbo comer já não dizem "eu cumo"?
adoro quando ela me acorda a meio da manhã e me faz um brunch.
9.7.09
Etiquetas: Música
"I thought about breakups, how difficult they were, but then usually it was only after you broke up with one woman that you met another. As a writer, I had to taste women in order to really know them, to get inside of them. I could invent men in my mind because I was one, but women, for me, were almost impossible to fictionalize without first knowing them. So I explored them as best I could and I found human beings inside. The writing would be forgotten. The writing would become much less than the episode itself until the episode ended. The writing was only the residue. A man didn't need to have a woman in order to feel as real as he could feel, but it was good if he knew a few. Then when the affair went wrong, he'd feel what it was like to be truly lonely and crazed, and thus know what he must face, finally, when his own end came.
I was sentimental about many things: a woman's shoes under the bed; one hairpin left behind on the dresser; the way they said, "I'm going to pee…"; hair ribbons; walking down the boulevard with them at 1:30 in the afternoon, just two people walking together; the long nights of drinking and smoking, talking; the arguments; thinking of suicide; eating together and feeling good; the jokes, the laughter out of nowhere; feeling miracles in the air; being in a parked car together; comparing past loves at 3 AM; being told you snore, hearing her snore; mothers, daughters, sons, cats, dogs; sometimes death and sometimes divorce, but always carrying on, always seeing it through; reading a newspaper alone in a sandwich joint and feeling nausea because she's now married to a dentist with an I.Q. of 95; racetracks, parks, park picnics; even jails; her dull friends, your dull friends; your drinking, her dancing; your flirting; her pills, your fucking on the side, and her doing the same; sleeping together…
There were no judgments to be made, yet out of necessity one had to select. Beyond good and evil was all right in theory, but to go on living one had to select: some were kinder than others, some were simply more interested in you, and sometimes the outwardly beautiful and inwardly cold were necessary, just for bloody, shitty kicks, like a bloody, shitty movie. The kinder ones fucked better, really, and after you were around them a while they seemed beautiful because they were." (...)
(pag.227)
"Nothing was ever in tune. People just blindly grabbed at whatever there was: communism, health foods, zen, surfing, ballet, hypnotism, group encounters, orgies, biking, herbs, Catholicism, weight-lifting, travel, withdrawal, vegetarianism, India, painting, writing, sculpting, composing, conducting, backpacking, yoga, copulating, gambling, drinking, hanging around, frozen yogurt, Beethoven, Back, Buddha, Christ, TM, H, carrot juice, suicide, handmade suits, jet travel, New York City, and then it all evaporated and fell apart. People had to find things to do while waiting to die. I guess it was nice to have a choice.
I took my choice. I raised the fifth of vodka and drank it sraight. The Russians knew something.
The door opened and Cecelia walked in. She looked good with her low-slung powerful body. Most American women were either too thin or without stamina. If you gave them rough use something broke in them and they become neurotic and their men became sport freaks or alcoholics or obsessed with cars. The Norwegians, the Icelanders, The Finns knew how a woman should be built: wide and solid, a big ass, big hips, big white flanks, big heads, big mouths, big tits, plenty of hair, big eyes, big nostrils, and down in the center - big enough and small enough (...)
(pag. 177)
Charles Bukowski, Women
I was sentimental about many things: a woman's shoes under the bed; one hairpin left behind on the dresser; the way they said, "I'm going to pee…"; hair ribbons; walking down the boulevard with them at 1:30 in the afternoon, just two people walking together; the long nights of drinking and smoking, talking; the arguments; thinking of suicide; eating together and feeling good; the jokes, the laughter out of nowhere; feeling miracles in the air; being in a parked car together; comparing past loves at 3 AM; being told you snore, hearing her snore; mothers, daughters, sons, cats, dogs; sometimes death and sometimes divorce, but always carrying on, always seeing it through; reading a newspaper alone in a sandwich joint and feeling nausea because she's now married to a dentist with an I.Q. of 95; racetracks, parks, park picnics; even jails; her dull friends, your dull friends; your drinking, her dancing; your flirting; her pills, your fucking on the side, and her doing the same; sleeping together…
There were no judgments to be made, yet out of necessity one had to select. Beyond good and evil was all right in theory, but to go on living one had to select: some were kinder than others, some were simply more interested in you, and sometimes the outwardly beautiful and inwardly cold were necessary, just for bloody, shitty kicks, like a bloody, shitty movie. The kinder ones fucked better, really, and after you were around them a while they seemed beautiful because they were." (...)
(pag.227)
"Nothing was ever in tune. People just blindly grabbed at whatever there was: communism, health foods, zen, surfing, ballet, hypnotism, group encounters, orgies, biking, herbs, Catholicism, weight-lifting, travel, withdrawal, vegetarianism, India, painting, writing, sculpting, composing, conducting, backpacking, yoga, copulating, gambling, drinking, hanging around, frozen yogurt, Beethoven, Back, Buddha, Christ, TM, H, carrot juice, suicide, handmade suits, jet travel, New York City, and then it all evaporated and fell apart. People had to find things to do while waiting to die. I guess it was nice to have a choice.
I took my choice. I raised the fifth of vodka and drank it sraight. The Russians knew something.
The door opened and Cecelia walked in. She looked good with her low-slung powerful body. Most American women were either too thin or without stamina. If you gave them rough use something broke in them and they become neurotic and their men became sport freaks or alcoholics or obsessed with cars. The Norwegians, the Icelanders, The Finns knew how a woman should be built: wide and solid, a big ass, big hips, big white flanks, big heads, big mouths, big tits, plenty of hair, big eyes, big nostrils, and down in the center - big enough and small enough (...)
(pag. 177)
Charles Bukowski, Women
Etiquetas: literatura
8.7.09
TAMBÉM a propósito de Ronaldo, entre muitos outros ídolos do nosso tempo: "Já não são as universidades, os filósofos ou o clero a oferecer modelos de comportamento", por Francesco Alberoni.
Etiquetas: Filosofia
O que aconteceu esta semana no estádio do Real Madrid foi um fenómeno verdadeiramente impressionante. Repare-se como, quando Ronaldo entra em campo, a multidão de 80 mil entra em verdadeira histeria idólatra. Isto é o "Pão e Circo" romano, é o gladiador que entra na arena, pago à irrazoável razão de 35 mil euros por dia. E a multidão gritava "ala madrid" com a intensidade das saudações fascistas nos tempos de hitler. Os gladiadores já não se matam, mas o sangue está lá. O sangue são as derrotas dos outros, a submissão à força, à eficácia, ao génio, ao poder do dinheiro que tudo compra. Compra os melhores artistas de circo, compra a fantasia. Mas para se fazer uma equipa é precisa humildade, como os fracassos galácticos anteriores já provaram. Nada que pareça importar a Perez. Dinheiro faz dinheiro, a aposta está ganhha. Nas primeiras horas, foram vendidas milhares de camisolas com o novo número de Ronaldo. O craque dá dinheiro a ganhar com a velocidade com que marca golos, come putas finas ou espatifa ferraris. Ele é o rei dos nossos tempos.
Apesar de toda a irracionalidade desta reunião, gostei do discurso do Perez. Ele não se esqueceu de dar as boas vindas aos milhares de portugueses que assistiam, apresentou Eusébio (que foi ao microfone dizer um glorioso "muito obrigado", nada de "gracias") e louvou Portugal. Pode ser que o carismático Ronaldo contribua para as boas relações entre os dois países ibéricos. O circo é bonito, vai passar o carnaval e eles já estão sambando. Nesse campeonato, eu torço pelo Barcelona, não gosto das conotações monárquicas e mesmo franquistas do Real Madrid.
Etiquetas: Desporto
7.7.09
III.
As mulheres têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
Uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
A carne quebrada.
Nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus ―
E mistura-se nas águas,no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente.
Depois sua boca abre-se.
Verão, Outono, a onda dolorosa e ardente
das semanas,
passam por cima. As mulheres cantam
na sua alegria terrena.
*
Que coisa verdadeira cantam?
Elas cantam.
São fechadas e doces, mudam
de cor, anunciam a felicidade no meio da noite,
os dias rutilantes, a graça.
Com lágrimas, sangue, antigas subtilezas
e uma suavidade amarga ―
as mulheres tornam impura e magnífica
nossa límpida, estéril
vida masculina.
Porque as mulheres não pensam: abrem
rosas tenebrosas,
alagam a inteligência do poema com o sangue menstrual.
São altas essas roseiras de mulheres,
inclinadas como sinos, como violinos, dentro
do som.
Dentro da sua seiva de cinza brilhante.
*
O pão de aveia, as maçãs no cesto,
o vinho frio,
ou a candeia sobre o silêncio.
Ou a minha tarefa sobre o tempo.
Ou o meu espírito sobre Deus.
Digo: minha vida é para as mulheres vazias,
as mulheres dos campos, os seres
fundamentais
que cantam de encontro aos sinistros
muros de Deus.
As mulheres de ofício cantante que a Deus mostram
a boca e o ânus
e a mão vermelha lavrada sobre o sexo.
*
Espero que o amor enleve a minha melancolia.
E flores sazonadas estalem e apodreçam
docemente no ar.
E a suavidade e a loucura parem em mim,
e depois o mundo tenha cidades antigas
que ardam na treva sua inocência lenta
e sangrenta.
Espero tirar de mim o mais veloz
apaixonamento e a inteligência mais pura.
― Porque as mulheres pensarão folhas e folhas
no campo.
Pensarão na noite molhada,
no dia luzente cheio de raios.
*
Vejo que a morte se inspira na carne
que a luz martela de leve.
Nessas mulheres debruçadas sobre a frescura
veemente da ilusão,
nelas ― envoltas pela sua roseira em brasa ―
vejo os meses que respiram.
Os meses fortes e pacientes.
Vejo os meses absorvidos pelos meses mais jovens.
Vejo meu pensamento morrendo na escarpada
treva das mulheres.
*
E digo: elas cantam a minha vida.
Essas mulheres estranguladas por uma beleza
incomparável.
Cantam a alegria de tudo, minha
alegria
por dentro da grande dor masculina.
Essas mulheres tornam feliz e extensa
a morte da terra.
Elas cantam a eternidade.
Cantam o sangue de uma terra exaltada.
(Herberto Hélder)
in «Lugar», 1962
As mulheres têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
Uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
A carne quebrada.
Nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus ―
E mistura-se nas águas,no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente.
Depois sua boca abre-se.
Verão, Outono, a onda dolorosa e ardente
das semanas,
passam por cima. As mulheres cantam
na sua alegria terrena.
*
Que coisa verdadeira cantam?
Elas cantam.
São fechadas e doces, mudam
de cor, anunciam a felicidade no meio da noite,
os dias rutilantes, a graça.
Com lágrimas, sangue, antigas subtilezas
e uma suavidade amarga ―
as mulheres tornam impura e magnífica
nossa límpida, estéril
vida masculina.
Porque as mulheres não pensam: abrem
rosas tenebrosas,
alagam a inteligência do poema com o sangue menstrual.
São altas essas roseiras de mulheres,
inclinadas como sinos, como violinos, dentro
do som.
Dentro da sua seiva de cinza brilhante.
*
O pão de aveia, as maçãs no cesto,
o vinho frio,
ou a candeia sobre o silêncio.
Ou a minha tarefa sobre o tempo.
Ou o meu espírito sobre Deus.
Digo: minha vida é para as mulheres vazias,
as mulheres dos campos, os seres
fundamentais
que cantam de encontro aos sinistros
muros de Deus.
As mulheres de ofício cantante que a Deus mostram
a boca e o ânus
e a mão vermelha lavrada sobre o sexo.
*
Espero que o amor enleve a minha melancolia.
E flores sazonadas estalem e apodreçam
docemente no ar.
E a suavidade e a loucura parem em mim,
e depois o mundo tenha cidades antigas
que ardam na treva sua inocência lenta
e sangrenta.
Espero tirar de mim o mais veloz
apaixonamento e a inteligência mais pura.
― Porque as mulheres pensarão folhas e folhas
no campo.
Pensarão na noite molhada,
no dia luzente cheio de raios.
*
Vejo que a morte se inspira na carne
que a luz martela de leve.
Nessas mulheres debruçadas sobre a frescura
veemente da ilusão,
nelas ― envoltas pela sua roseira em brasa ―
vejo os meses que respiram.
Os meses fortes e pacientes.
Vejo os meses absorvidos pelos meses mais jovens.
Vejo meu pensamento morrendo na escarpada
treva das mulheres.
*
E digo: elas cantam a minha vida.
Essas mulheres estranguladas por uma beleza
incomparável.
Cantam a alegria de tudo, minha
alegria
por dentro da grande dor masculina.
Essas mulheres tornam feliz e extensa
a morte da terra.
Elas cantam a eternidade.
Cantam o sangue de uma terra exaltada.
(Herberto Hélder)
in «Lugar», 1962
Etiquetas: Poesia
6.7.09
Os corninhos
"MANUEL Pinho entrou anteontem na imortalidade. Nunca na história parlamentar portuguesa governo algum respondera à oposição pelo método simples de lhe fazer "corninhos". Já nesta democracia houve um deputado que chamou a outro f.d.p., sem consequências de maior. Na Monarquia Liberal a ameaça de morte era frequente e o qualificativo de "ladrão" quase diário. E durante a República muitos deputados, dando um passo em frente, andavam com pistolas bem à vista, para edificar (e tranquilizar) a representação nacional. Só dos "corninhos", nesses tempos em que se respeitava a oratória e a força, ninguém se lembrou. Foi preciso o advento de Manuel Pinho para os "corninhos" entrarem ruidosamente na retórica oficial. Mesmo à custa de um ministério, suponho que o homem está feliz.
Sucede que os "corninhos" têm uma intrínseca ambiguidade. Como linguagem gestual não codificada, não se sabe ao certo o que querem dizer. Não acredito que o suave Pinho pretendesse pôr em causa a santíssima mulher de Bernardino Soares (que talvez nem exista). Mas se não pretendeu, que significam os "corninhos"? Podem significar um mundo de coisas. Por exemplo: "A mim não me apanhas tu!", "Toma lá e cala a boca!" ou "Para mim vens de carrinho!". Comentários que, embora não se distingam pela elegância, caem com certeza no domínio do que os senhores deputados aceitam como conversa tolerável. Afinal, na mesma sessão, Sócrates não hesitou em acusar Paulo Portas de histeria, um insulto grave, que a Assembleia não considerou abusivo.
O primeiro problema de Manuel Pinho é a língua portuguesa, que ele não conhece bem. Viveu em Paris, viveu em Washington e partilha com o economista comum uma certa dificuldade de expressão. Não se lhe deve levar a mal que, na falta de palavras, para exprimir a sua reprovação do PC (se de facto se tratava de reprovação), recorresse aos "corninhos". Tanto mais - e é esse o segundo problema de Pinho - quanto Sócrates manifestamente lhe recomendou intransigência e agressividade na defesa do Governo. Com o seu primeiro-ministro cercado pela esquerda e pela direita e, principalmente, pela ingratidão do país, Pinho não se aguentou. Outros fugiram. Outros não abriram a boca. Ele heroicamente fez "corninhos". Como, de resto, o Governo os faz continuamente a todos nós. A tradução correcta dos "corninhos" parece que é, segundo as melhores fontes, 'Vocês que se lixem'"
Vasco Pulido Valente, in Público
5.7.09
EIS um bom retrato sobre as más opções políticas feitas em Portugal: "Esta noite sonhei com Mário Lino", por Miguel Sousa Tavares.
E entrevista do mesmo, no Diário de Notícias: "Estou a pensar ir-me embora para o Brasil"
E entrevista do mesmo, no Diário de Notícias: "Estou a pensar ir-me embora para o Brasil"
Etiquetas: Música
4.7.09
3.7.09
Etiquetas: Música
pensamento do dia
O cidadão terá contraído o vírus após ter brincado com o vigéssimo sétimo paciente.
2.7.09
REGOJIZANDO-SE pelo facto da Cidade Velha, em Cabo Verde, ter sido inscrita na semana passada na lista do Património Mundial da Humanidade pela Unesco, Joaquim Magalhães de Castro mostrou várias fotografias que retratam o périplo que fez pelos 27 monumentos de origem portuguesa espalhados pelo mundo pré-seleccionados para o concurso “Sete Maravilhas de Origem Portuguesa”. Nas suas investigações, que resultaram em crónicas de viagem publicadas em jornais portugueses e na edição de três livros que estão a ser distribuídos pelo Diário de Notícias, o jornalista-escritor observou que “os piores detractores da história da expansão portuguesa têm apelidos portugueses”.
Como se explica isto? “É um caso de psiquiatria, talvez, mas tem a ver com o abandono das autoridades portuguesas relativamente ao património cultural nacional que está espalhado pelo mundo”, comentou. E o argumento de que os Descobrimentos estão associados ao fenómeno histórico da escravatura não justifica tal abandono, defendeu Castro: “A seguir esse princípio, tínhamos que deitar todos os monumentos abaixo, porque todos eles estão associados a crimes. Teríamos que demolir tudo para começar um mundo novo”, acrescentou.
O cicerone do colóquio, Luís Sá Cunha, apresentou a sua perspectiva sobre a lusofonia, em muito inspirada nas ideias do pensador português Agostinho da Silva. O secretário do IIM afirmou que “a lusofonia é um conceito cultural e espiritual, não é uma arquitectação de economistas ou políticos, mas antes de poetas, sonhadores e homens de boa vontade”. E quais são esses valores espirituais subjacentes à lusofonia e partilhados por todos? “O Agostinho da Silva fala no império da criança, outros falam de outra maneira, mas corresponde a um novo estádio da humanidade, em que este estado de carência, violência e falta de entendimento seja eliminado. Criar um mundo cada vez melhor e perfeito, em que todos se entendam no universal, sem destruir as diferenças. É preciso sonhar, os dramas políticos do passado foram originados por falta de capacidade de sonho”, rematou Sá Cunha.
[Excerto de notícia sobre o colóquio 'Quem tem medo da Lusofonia?']
[Ora aqui está: "Criar um mundo cada vez melhor e perfeito". Os portugueses de 500 lançaram-se nesta aventura como nenhum outro povo. E é preciso continuar a ser utópico, falta caminhar no sentido da fraternidade, nos moldes em que a definiu Agostinho da Silva. É tarefa para aventureiros, poetas, fodilhões, piratas, subversivos e homens de boa vontade. Se a lusofonia puder ser uma plataforma para isso, melhor ainda. Eu ando à procura de parceiros para ajudarmos a construir um Quinto Império que se oponha à civilização burguesa* vigente, tal como os espanhóis buscaram o Eldorado na América do Sul.]
*“A civilização burguesa já só nos oferece a perspectiva de haver cada vez mais máquinas para fabricar mais objectos e distribuir mais moeda para os comprar; cada vez mais rapidez para percorrer rectiliniamente a distância entre dois sítios cada vez mais iguais; cada vez mais precisão nos gestos e tempo das pessoas para poderem engrenar com as máquinas; cada vez mais igualdade entre indivíduos condicionados em série; cada vez menos imprevisto, menos gritos, menos lágrimas. E também cada vez mais psiquiatras para «normalizar» os homens rebeldes à norma uniforme. Estes homens, cada vez mais padronizados, fazem cada vez mais o que os economistas, os estatísticos, os sociólogos, os psicólogos, os especialistas de marketing, esperam que eles façam.”
in António José Saraiva, Maio e a Crise da Civilização Burguesa
Como se explica isto? “É um caso de psiquiatria, talvez, mas tem a ver com o abandono das autoridades portuguesas relativamente ao património cultural nacional que está espalhado pelo mundo”, comentou. E o argumento de que os Descobrimentos estão associados ao fenómeno histórico da escravatura não justifica tal abandono, defendeu Castro: “A seguir esse princípio, tínhamos que deitar todos os monumentos abaixo, porque todos eles estão associados a crimes. Teríamos que demolir tudo para começar um mundo novo”, acrescentou.
O cicerone do colóquio, Luís Sá Cunha, apresentou a sua perspectiva sobre a lusofonia, em muito inspirada nas ideias do pensador português Agostinho da Silva. O secretário do IIM afirmou que “a lusofonia é um conceito cultural e espiritual, não é uma arquitectação de economistas ou políticos, mas antes de poetas, sonhadores e homens de boa vontade”. E quais são esses valores espirituais subjacentes à lusofonia e partilhados por todos? “O Agostinho da Silva fala no império da criança, outros falam de outra maneira, mas corresponde a um novo estádio da humanidade, em que este estado de carência, violência e falta de entendimento seja eliminado. Criar um mundo cada vez melhor e perfeito, em que todos se entendam no universal, sem destruir as diferenças. É preciso sonhar, os dramas políticos do passado foram originados por falta de capacidade de sonho”, rematou Sá Cunha.
[Excerto de notícia sobre o colóquio 'Quem tem medo da Lusofonia?']
[Ora aqui está: "Criar um mundo cada vez melhor e perfeito". Os portugueses de 500 lançaram-se nesta aventura como nenhum outro povo. E é preciso continuar a ser utópico, falta caminhar no sentido da fraternidade, nos moldes em que a definiu Agostinho da Silva. É tarefa para aventureiros, poetas, fodilhões, piratas, subversivos e homens de boa vontade. Se a lusofonia puder ser uma plataforma para isso, melhor ainda. Eu ando à procura de parceiros para ajudarmos a construir um Quinto Império que se oponha à civilização burguesa* vigente, tal como os espanhóis buscaram o Eldorado na América do Sul.]
*“A civilização burguesa já só nos oferece a perspectiva de haver cada vez mais máquinas para fabricar mais objectos e distribuir mais moeda para os comprar; cada vez mais rapidez para percorrer rectiliniamente a distância entre dois sítios cada vez mais iguais; cada vez mais precisão nos gestos e tempo das pessoas para poderem engrenar com as máquinas; cada vez mais igualdade entre indivíduos condicionados em série; cada vez menos imprevisto, menos gritos, menos lágrimas. E também cada vez mais psiquiatras para «normalizar» os homens rebeldes à norma uniforme. Estes homens, cada vez mais padronizados, fazem cada vez mais o que os economistas, os estatísticos, os sociólogos, os psicólogos, os especialistas de marketing, esperam que eles façam.”
in António José Saraiva, Maio e a Crise da Civilização Burguesa
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