EM relação a este post, o Agostinho, informado professor de História e amigo de infância, enviou-me umas citações do Javier Marias que rebatem a opinião que expressei sobre o Real Madrid. Disse eu que era um clube com conotações monárquicas e mesmo franquistas. Vejamos o que diz o enorme escritor espanhol:
"Como é do conhecimento daqueles que têm memória e há pouco tempo recordou um ressabiado jornalista que dá muitos ares de «vermelho», as pessoas de esquerda e republicanas, os derrotados da Guerra Civil, preferiam o Madrid ao Atlético, apesar de o adjectivo «Real» aparentemente contraditório. O Madrid tinha no seu nome o da cidade sitiada e bombardeada, enquanto o Atlético Aviación (como se chamava na sua origem o Atleti) era a equipa dos pilotos franquistas, justamente aqueles que se tinham dedicado a bombardear a capital com sanha. Entre os nossos jogadores houve não pouco «avermelhados», como Del Bosque, ou o guarda-redes Miguel Ángel, ou Breitner o abissínio, ou Pardeza, ou Valdano, e só os triunfos europeus dos anos 50 e 60 levaram o regime ditatorial, com o seu oportunismo, a aproximar-se dele e não o inverso." (p. 110)
"É curioso - e injusto, não é por acaso que sou desta equipa desde a minha mais tenra infância - que o Real Madrid tenha sido tão difamado. Durante muito tempo foi considerado o emblema do regime franquista, quando afinal o que houve foi um aproveitamento oportunista, por parte da ditadura, dos seus grandes êxitos europeus nos anos 50 e 60 (*). O engraçado é que imediatamente depois da Guerra Civil, o Real Madrid, apesar do seu monárquico nome, era paradoxalmente a equipa preferida dos derrotados republicanos madrilenos, porque pelo menos era portador do nome da cidade que fora brutalmente assediada e bombardeada durante três anos, a última a render-se, a mais resistente e corajosa diante de Franco, que depois a castigou por isso.» (p. 119)
[ambas as crónicas estão datadas de 1998]
Selvagens e Sentimentais, Histórias do Futebol do Javier Marías (Dom Quixote, Ficção Universal nº 291)
"Como é do conhecimento daqueles que têm memória e há pouco tempo recordou um ressabiado jornalista que dá muitos ares de «vermelho», as pessoas de esquerda e republicanas, os derrotados da Guerra Civil, preferiam o Madrid ao Atlético, apesar de o adjectivo «Real» aparentemente contraditório. O Madrid tinha no seu nome o da cidade sitiada e bombardeada, enquanto o Atlético Aviación (como se chamava na sua origem o Atleti) era a equipa dos pilotos franquistas, justamente aqueles que se tinham dedicado a bombardear a capital com sanha. Entre os nossos jogadores houve não pouco «avermelhados», como Del Bosque, ou o guarda-redes Miguel Ángel, ou Breitner o abissínio, ou Pardeza, ou Valdano, e só os triunfos europeus dos anos 50 e 60 levaram o regime ditatorial, com o seu oportunismo, a aproximar-se dele e não o inverso." (p. 110)
"É curioso - e injusto, não é por acaso que sou desta equipa desde a minha mais tenra infância - que o Real Madrid tenha sido tão difamado. Durante muito tempo foi considerado o emblema do regime franquista, quando afinal o que houve foi um aproveitamento oportunista, por parte da ditadura, dos seus grandes êxitos europeus nos anos 50 e 60 (*). O engraçado é que imediatamente depois da Guerra Civil, o Real Madrid, apesar do seu monárquico nome, era paradoxalmente a equipa preferida dos derrotados republicanos madrilenos, porque pelo menos era portador do nome da cidade que fora brutalmente assediada e bombardeada durante três anos, a última a render-se, a mais resistente e corajosa diante de Franco, que depois a castigou por isso.» (p. 119)
[ambas as crónicas estão datadas de 1998]
Selvagens e Sentimentais, Histórias do Futebol do Javier Marías (Dom Quixote, Ficção Universal nº 291)
Etiquetas: Desporto
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial