REGOJIZANDO-SE pelo facto da Cidade Velha, em Cabo Verde, ter sido inscrita na semana passada na lista do Património Mundial da Humanidade pela Unesco, Joaquim Magalhães de Castro mostrou várias fotografias que retratam o périplo que fez pelos 27 monumentos de origem portuguesa espalhados pelo mundo pré-seleccionados para o concurso “Sete Maravilhas de Origem Portuguesa”. Nas suas investigações, que resultaram em crónicas de viagem publicadas em jornais portugueses e na edição de três livros que estão a ser distribuídos pelo Diário de Notícias, o jornalista-escritor observou que “os piores detractores da história da expansão portuguesa têm apelidos portugueses”.
Como se explica isto? “É um caso de psiquiatria, talvez, mas tem a ver com o abandono das autoridades portuguesas relativamente ao património cultural nacional que está espalhado pelo mundo”, comentou. E o argumento de que os Descobrimentos estão associados ao fenómeno histórico da escravatura não justifica tal abandono, defendeu Castro: “A seguir esse princípio, tínhamos que deitar todos os monumentos abaixo, porque todos eles estão associados a crimes. Teríamos que demolir tudo para começar um mundo novo”, acrescentou.
O cicerone do colóquio, Luís Sá Cunha, apresentou a sua perspectiva sobre a lusofonia, em muito inspirada nas ideias do pensador português Agostinho da Silva. O secretário do IIM afirmou que “a lusofonia é um conceito cultural e espiritual, não é uma arquitectação de economistas ou políticos, mas antes de poetas, sonhadores e homens de boa vontade”. E quais são esses valores espirituais subjacentes à lusofonia e partilhados por todos? “O Agostinho da Silva fala no império da criança, outros falam de outra maneira, mas corresponde a um novo estádio da humanidade, em que este estado de carência, violência e falta de entendimento seja eliminado. Criar um mundo cada vez melhor e perfeito, em que todos se entendam no universal, sem destruir as diferenças. É preciso sonhar, os dramas políticos do passado foram originados por falta de capacidade de sonho”, rematou Sá Cunha.
[Excerto de notícia sobre o colóquio 'Quem tem medo da Lusofonia?']
[Ora aqui está: "Criar um mundo cada vez melhor e perfeito". Os portugueses de 500 lançaram-se nesta aventura como nenhum outro povo. E é preciso continuar a ser utópico, falta caminhar no sentido da fraternidade, nos moldes em que a definiu Agostinho da Silva. É tarefa para aventureiros, poetas, fodilhões, piratas, subversivos e homens de boa vontade. Se a lusofonia puder ser uma plataforma para isso, melhor ainda. Eu ando à procura de parceiros para ajudarmos a construir um Quinto Império que se oponha à civilização burguesa* vigente, tal como os espanhóis buscaram o Eldorado na América do Sul.]
*“A civilização burguesa já só nos oferece a perspectiva de haver cada vez mais máquinas para fabricar mais objectos e distribuir mais moeda para os comprar; cada vez mais rapidez para percorrer rectiliniamente a distância entre dois sítios cada vez mais iguais; cada vez mais precisão nos gestos e tempo das pessoas para poderem engrenar com as máquinas; cada vez mais igualdade entre indivíduos condicionados em série; cada vez menos imprevisto, menos gritos, menos lágrimas. E também cada vez mais psiquiatras para «normalizar» os homens rebeldes à norma uniforme. Estes homens, cada vez mais padronizados, fazem cada vez mais o que os economistas, os estatísticos, os sociólogos, os psicólogos, os especialistas de marketing, esperam que eles façam.”
in António José Saraiva, Maio e a Crise da Civilização Burguesa
Como se explica isto? “É um caso de psiquiatria, talvez, mas tem a ver com o abandono das autoridades portuguesas relativamente ao património cultural nacional que está espalhado pelo mundo”, comentou. E o argumento de que os Descobrimentos estão associados ao fenómeno histórico da escravatura não justifica tal abandono, defendeu Castro: “A seguir esse princípio, tínhamos que deitar todos os monumentos abaixo, porque todos eles estão associados a crimes. Teríamos que demolir tudo para começar um mundo novo”, acrescentou.
O cicerone do colóquio, Luís Sá Cunha, apresentou a sua perspectiva sobre a lusofonia, em muito inspirada nas ideias do pensador português Agostinho da Silva. O secretário do IIM afirmou que “a lusofonia é um conceito cultural e espiritual, não é uma arquitectação de economistas ou políticos, mas antes de poetas, sonhadores e homens de boa vontade”. E quais são esses valores espirituais subjacentes à lusofonia e partilhados por todos? “O Agostinho da Silva fala no império da criança, outros falam de outra maneira, mas corresponde a um novo estádio da humanidade, em que este estado de carência, violência e falta de entendimento seja eliminado. Criar um mundo cada vez melhor e perfeito, em que todos se entendam no universal, sem destruir as diferenças. É preciso sonhar, os dramas políticos do passado foram originados por falta de capacidade de sonho”, rematou Sá Cunha.
[Excerto de notícia sobre o colóquio 'Quem tem medo da Lusofonia?']
[Ora aqui está: "Criar um mundo cada vez melhor e perfeito". Os portugueses de 500 lançaram-se nesta aventura como nenhum outro povo. E é preciso continuar a ser utópico, falta caminhar no sentido da fraternidade, nos moldes em que a definiu Agostinho da Silva. É tarefa para aventureiros, poetas, fodilhões, piratas, subversivos e homens de boa vontade. Se a lusofonia puder ser uma plataforma para isso, melhor ainda. Eu ando à procura de parceiros para ajudarmos a construir um Quinto Império que se oponha à civilização burguesa* vigente, tal como os espanhóis buscaram o Eldorado na América do Sul.]
*“A civilização burguesa já só nos oferece a perspectiva de haver cada vez mais máquinas para fabricar mais objectos e distribuir mais moeda para os comprar; cada vez mais rapidez para percorrer rectiliniamente a distância entre dois sítios cada vez mais iguais; cada vez mais precisão nos gestos e tempo das pessoas para poderem engrenar com as máquinas; cada vez mais igualdade entre indivíduos condicionados em série; cada vez menos imprevisto, menos gritos, menos lágrimas. E também cada vez mais psiquiatras para «normalizar» os homens rebeldes à norma uniforme. Estes homens, cada vez mais padronizados, fazem cada vez mais o que os economistas, os estatísticos, os sociólogos, os psicólogos, os especialistas de marketing, esperam que eles façam.”
in António José Saraiva, Maio e a Crise da Civilização Burguesa
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