13.12.09

"TOMADOS num sentido quase literal, muitos textos taoístas e budistas dariam peso a esta opinião, a saber, que o mais alto estado de consciência é uma consciência vazia de tudo: ideias, sentimentos e mesmo sensações. Hoje, na Índia, é esta concepção Samadhi que prevalece. Este tipo de interpretação literal é também para nós, formados na experiência cristã, extremamente familiar, mesmo nas mais cerradas especulações.
A posição de Hui-meng era a de que um homem com uma consciência vazia não valia mais do que 'um bloco de madeira ou um estilhaço de pedra'. Insistiu em que toda a ideia de purificar a mente era irrelevante e causadora de confusão, porque 'a nossa própria natureza é essencialmente clara e pura'. Por outras palavras, não há qualquer analogia entre consciência ou mente e um espelho que pode ser limpo. A verdadeira mente é 'não-mente' (wu-hsin), na acepção de que não deve ser encarada como um objecto de pensamento ou acção, como se tratasse de uma coisa suscepível de ser agarrada e controlada. A tentativa de agir sobre a nossa própria mente é um círculo vicioso. Tentar purificar é estar contaminado pela pureza. Como é óbvio, trata-se aqui da filosofia taoísta da naturalidade, segundo a qual uma pessoa não é genuinamente livre, desprendida ou pura, quando o seu estado resulta de uma disciplina artificial. Limita-se a imitar a 'pureza', a macaquear a clara compreeensão. Daí a desagradável e auto-suficiente honradez daqueles que são deliberada e metodicamente religiosos.
O ensinamento de Hui Heng diz que, em vez de tentarmos purificar ou desocupar a mente, devemos pura e simplesmente soltá-la, porque a mente não é para ser agarrada. Soltar a mente equivale ainda a soltar a série de pensamentos e impressões que vêm e vão na mente, nem os reprimindo nem sustendo, nem interferindo neles.

Os pensamentos vêm e vão por si próprios, pois, graças ao uso da sabedoria, não há obstrução. Eis o samandhi de pragna e a natural libertação. Tal é a prática do 'não pensamento'. Mas se não pensares em absolutamente nada e ordenares desde logo que os pensamentos cessem, isso equivale a ficares atado de pés e mãos por um método, e é chamado uma visão obtusa."

Allan W. Watts, Budismo Zen

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