31.8.08

O Carnaval elegante



O Carnaval de Veneza voltou a ser celebrado a partir de 1980, depois de cerca de um século sem comemorações. A festa mais popular da cidade demora meses a ser preparada e tem início na quinta-feira gorda. Nas ruas os trajes mais insólitos convivem com os tradicionais, compostos pela bauta (um capucho em seda negra), o tabarro (capa de rendas), o tricórnio (grande capa negra) e a máscara branca. Até à efígie do Carnaval ser queimada na Praça de São Marco, o principal palco das festividades, Veneza é invadida por uma multidão de foliões que participam em bailes de máscaras, representações teatrais e outros eventos.
As raízes deste Carnaval remontam ao século XIII, altura em que o uso das máscaras é, pela primeira vez, referido num documento. Segundo relatos da época, os venezianos não se limitavam a usar máscaras no entrudo e estendiam a sua utilização por vários meses do ano. De tal forma era assim que as autoridades, alarmadas com a permanente quebra das regras da sociedade e do Estado, foram emitindo dezenas de decretos que restringiam o uso das máscaras. Foram proibidos aos mascarados a entrada em Igrejas e conventos, o porte de armas, as deambulações nocturnas e certos jogos violentos. Uma lei de 1703 interditava a utilização de máscaras nos casinos, para evitar que, dessa forma, alguns nobres fugissem aos seus credores.
A outra grande festa em Veneza é a regata histórica, uma reminiscência das corridas que se faziam no Grande Canal pelo menos desde o século XIII. Além da parte competitiva desenrola-se um sumptuoso cortejo histórico, com todos os tipos de barcos engalanados com figuras simbólicas e personagens trajadas à época. Atrás da réplica do Bucintoro – que transportava os doges – surgem as “bissone” com oito remos, depois as gôndolas e outras embarcações.

[Artigo da minha autoria, Fugas(Público), 2001]

27.8.08

Veneza: La Bella Città

Turner

QUEM chega a Veneza por comboio tem a sensação estranha de deixar terra firme, à medida que a composição passa a circular por uma ponte quase ao nível da laguna. Durante cerca de quatro quilómetros só se vê água e uma ou outra ilhota desabitada, até que começa a vislumbrar-se um espaço densamente edificado e se entra na mítica cidade que levou Ernest Hemingway a perguntar “por que é que se vive em Nova Iorque quando existe Veneza?”.
Logo à primeira vista torna-se clara a existência duma singularidade que faz deste local um dos mais magníficos jamais criados pelo Homem. Mas os diversos angariadores de clientes para hotéis com preços exorbitantes – que abordam o visitante logo que este pisa a estação da cidade – não deixam enganar por muito tempo: tudo está inflacionado e virado para a exploração do turista. Este é o outro lado de Veneza, o menos romântico, com que todos os visitantes terão de conviver.
Resolvida a questão do alojamento, é altura de iniciar o passeio, tendo como norte e destino a famosa Praça de São Marco. Não interessa o caminho mais curto e os mapas podem ficar guardados no bolso. Quem se deixar perder pelos labirínticos becos e ruelas poderá observar os mais inimagináveis recantos, inesperados largos e igrejas, edifícios notáveis carcomidos pela humidade e pelo tempo, num equilíbrio aparentemente instável e, claro, os imensos canais. A caminho de São Marco, um ponto de referência merece paragem mais demorada: a Ponte Rialto. Construída em 1592 por Antonio da Ponte, esta estrutura arqueada de pedra atravessa o Grande Canal e, tal como a florentina Ponte Vecchio, alberga diversas lojas.
No Grande Canal o movimento de barcos chega a ser intenso. Estende-se por cerca de quatro quilómetros e divide a cidade em duas partes, constituindo-se como a sua maior via de comunicação, para onde convergem 45 canais navegáveis. Além da Rialto há outras duas pontes que atravessam o Grande Canal: Scalzi e Academia. Nas suas margens ficam alguns dos mais sumptuosos palácios – o Giovanelli, o Vendramin-Calergi e o Grimani, entre muitos outros - e igrejas de Veneza, construídos de acordo com diversos géneros arquitectónicos (com especial incidência nos estilos gótico, barroco e renascentista) durante a época áurea da cidade.

A CAPITAL DO MUNDO
A riqueza que deu origem à sumptuosidade de Veneza – que, segundo historiadores, se mantém praticamente com o aspecto que tinha no século XIII – remonta ao século V, quando os primeiros habitantes ali se refugiaram das invasões bárbaras e começaram a formar aquilo que seria um poderio naval e comercial. Beneficiando de uma excelente posição estratégica e do papel que desempenhou durante as Cruzadas, a Cidade-Estado de Veneza controlou as rotas do Oriente, donde importava especiarias como a pimenta, produtos de tinturaria (a tintura de roupas e tecidos foi um monopólio dos artesãos venezianos até à descoberta da América) e perfumes. Organizadas em corporações, as ricas famílias de mercadores da cidade fizeram dela uma das principais exportadoras de produtos em ouro, prata, madeira, tecidos e ferro. Outras das indústrias que mais floresceram foram as da construção naval e do famoso vidro da região. Pode dizer-se que, do século IX ao XIV, Veneza foi uma das potências dominantes do mundo, uma grandeza que ainda se pode contemplar, embora as indústrias tenham acabado ou sido transferidas para a terra firme da outra margem da laguna, onde se instalaram grandes complexos petroquímicos. Hoje Veneza continua a ser a capital do Véneto, uma região que engloba uma boa parte da planície do rio Pó e dos Alpes italianos ocidentais, assim como as cidades de Pádua, Treviso, Verona e Vicenza.

MAGNÍFICA SÃO MARCO
Continuando a calcorrear a cidade, atravessada a Ponte Rialto, o número crescente de lojas e de turistas indicam que nos estamos a aproximar do centro incontestado: a Praça de São Marco. Mal comparado, esta praça é uma espécie de Terreiro do Paço lisboeta, mas, em vez do trânsito e dos ministérios, por debaixo das arcadas das Procuratie (construídas entre os séculos XV e XVI) encontramos lojas, cafés e restaurantes de luxo, com mobiliário de época e esplendorosos lustres feitos com vidro de Murano. As mesas destes ancestrais cafés – o primeiro abriu em 1683 – respiram história. Foram as favoritas de alguns dos grandes nomes da literatura e da música, como Lizt, Wagner, Balzac e Goethe, entre muitos outros.
Quando se entra na praça o olhar desvia-se quase inevitavelmente para a incrível Basílica de São Marco e para o campanário laranja com cem metros de altura, donde Galileu terá testado o seu telescópio. O interior da Basílica tem a forma de uma cruz grega, com cinco grandes cúpulas, uma em cada ponta e a maior no centro da cruz. O templo é um mostruário único da história do cristianismo e das suas ligações com os poderes que governaram a Cidade-Estado, já que era ali que os soberanos – doges – eram empossados.
Contígua à praça, na direcção do Grande Canal, fica a Piazzetta de São Marco, onde se encontra a Biblioteca Marciana e o Palácio dos Doges. O palácio, residência dos duques e sede do Governo, terá começado a ser construído no século IX, altura em que se assemelhava mais a um castelo, servindo como fortaleza militar. Tomou as actuais dimensões a partir do século XII, caracterizando-se pela simplicidade das suas linhas góticas. No entanto, o interior do palácio – aberto a visitas – é tudo menos depurado e demonstra o fausto em que ali se vivia.
Junto ao palácio ficam as margens do Grande Canal e um larguíssimo passeio público (coisa rara), chamado riva degli Schiavoni, com as gôndolas e o Mar Adriático no horizonte. É uma das passeatas mais típicas de Veneza e costuma ser fervilhante de movimento. Lá se podem encontrar à venda toda a espécie de bugigangas e recordações turísticas relacionadas ou não com a cidade, como pólos de equipas de futebol ou Ratos Mickey dançantes.
Quando cai a noite é tempo de regressar à Praça de São Marco. Nas arcadas alguns cafés têm bandas privativas com músicos de grande nível, que interpretam reportório clássico ou jazz. Devidamente engravatados, os músicos vão tocando para a pouca audiência sentada nas esplanadas e para as pequenas multidões que passam e param, mas que evitam sentar-se, talvez devido aos preços praticados. Alheias à música e sem cerimónia, milhares de anafadas pombas – as habitantes mais características da praça – vão debicando milho das mãos dos turistas.

CONSTANTES SURPRESAS
Se já viu São Marco não pense que deve dar por concluída a visita. Veneza não pára de surpreender. Ao virar da esquina há sempre um pormenor a reter, um novo quarteirão a descobrir. Como não há automóveis, os barcos assumem o papel de transporte público. Existem lojas de artigos para barcos e estaleiros destinados à sua reparação. Muitas das casas têm garagens pessoais para embarcações e portas apenas acessíveis pela água dos canais. Outras lojas típicas são as das belíssimas máscaras de porcelana usadas todos os anos durante o célebre Carnaval da cidade..
No plano cultural há dois eventos com eco internacional: o famoso Festival de Cinema, que costuma realizar-se entre os meses de Agosto e Setembro e a Bienal de Arte, que decorreu este ano, entre Junho e o início de Novembro. A própria cidade é um repositório de relevantes obras de arte, distribuídas por museus, academias, palácios, igrejas e galerias. O panorama geral da pintura veneziana entre os séculos XIV e XVIII pode ser apreciado na Galeria da Academia de Belas Artes, onde estão patentes obras de Carpaccio, Giovanni Bellini, Canaletto e Paolo Veronese, entre outros. Em termos de arte contemporânea, a mais significativa colecção exibida em Itália está na Fundação Guggenheim, instalada no Palácio Venir dei Leoni. Ali se podem ver quadros de Picasso, Duchamp, Max Ernst, Magritte e Pollock.
Mas, para se ter um quadro vivo de Veneza, o melhor será um passeio nas pitorescas gôndolas ao pôr-do-sol, quando se podem observar os reflexos de luz incidindo nos canais e as cortinas esvoaçantes como sombras nas janelas.




Barómetro
Positivo
O facto de ser uma cidade de uma beleza esplendorosa, cheia de surpresas a cada recanto.
Negativo
Trata-se de um dos locais do mundo com mais turistas por metro quadrado. Também por isso é um sítio caro.




Perguntas frequentes

Localização geográfica:
Veneza fica no Norte de Itália, próxima dos Alpes italianos e das fronteiras com a Eslovénia e com a Áustria. É capital do Véneto, uma região que engloba cidades como Pádua, Treviso, Verona e Vicenza.

Hora: Mais uma do que Portugal, mais duas do que o TMG.

Língua oficial: Italiano.

População: A Itália tem cerca de 57 milhões de habitantes.

Conselhos:
Leve consigo sapatos confortáveis ou sapatilhas.Com uma boa máquina fotográfica e algum jeito poderá obter óptimas fotografias. Adquira uma das belas máscaras venezianas. Se for durante os meses de Inverno, tenha à mão um impermeável para prevenir-se da chuva. Tenha atenção à portaria municipal que impõe multas a quem alimente pombos em território comunal, com excepção para a praça e piazzetta de São Marco e para a riva degli Schiavoni. Pode regatear o preço de um passeio de gôndola. Se der mais umas liras o gondoleiro cantará.

Quando ir: Se for cinéfilo poderá fazer coincidir a sua visita com o Festival Internacional de Cinema (costuma realizar-se entre Agosto e Setembro). Se gostar de um Carnaval diferente não perca o de Veneza. Nos meses de Verão o tempo é quente e seco e o afluxo de turistas maior. Nas restantes estações chove abundantemente.


A não perder
Dê um passeio de gôndola ao pôr-do-sol. Depois vá tomar um “cappuccíno” a uma das esplanadas da Praça de São Marco enquanto ouve boa música. Para conhecer a pintura veneziana visite a galeria da Academia.


[Trabalho de minha autoria, inserido no suplemento Fugas do jornal Público, 2001]

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8.8.08

A crise do "abaixo do melhor" explicada a leigos

"O que liga uma família de um subúrbio de uma cidade dos EUA a outra família de uma qualquer cidade portuguesa? Hoje a pergunta já não é absurda. Foi há um ano que começou, remotamente, um turbilhão de acontecimentos que haveriam de lhe dar sentido.
O primeiro sinal surgiu com a nótícia de que dois fundos de um banco americano, especializados em investimentos em produtos financeiros correlacionados com o crédito à habitação nos EUA tinham ido à falência. O facto correu o Mundo. Mas na altura era impossível alcançar a sua importância.
Para o perceber é preciso recuar no tempo. Entre 2001 e 2004 os EUA gozaram de juros historicamente baixos, que enfraqueceram as defesas da banca contra o risco. O crédito chegou a toda a gente, mesmo a quem não tinha condições para o pagar. O tal segmento "subprime", "abaixo do melhor", agora de má fama. Os grandes financeiros de Wall Street entretiveram-se a transformar essas hipotecas em produtos de investimento, com selo de garantia das agências de "rating", que vendiam a grandes investidores, esperançosos num juro acima da normalidade. Até os próprios bancos, dos dois lados do Atlântico, tomaram o veneno.
Quando o preço do dinheiro começou a subir, as famílias mais desprotegidas dos subúrbios americanos entraram em incumprimento, devolvendo as casas. O valor do imobiliário caiu, primeiro devagar, depois de forma abrupta, esvaziando a bolha criada por anos de dinheiro barato. Os produtos de investimento correlacionados às hipotecas deixaram de ter comprador e o seu valor ficou reduzido a zero. Lixo. Tal como os dois fundos da Bear Stearns, que colapsaram faz hoje um ano.
Sem norte, os investidores em obrigações abandonaram o mercado de crédito e deixaram de aceitar ficar com a dívida dos outros, fossem eles famílias ou empresas. Os bancos, que escondiam dos balanços estes investimentos exóticos, vieram aos poucos reconhecer o pecado. Não a tempo de evitar a desconfiança dos seus pares, que deixaram de querer emprestar dinheiro entre si. Ou então passaram a exigir um prémio de risco muito mais elevado.
A ilusão do dinheiro abundante foi a primeira a ruir. De um momento para o outro, o apetecido metal tornou-se um bem escasso e logo caro. Quem paga crédito tem cada vez mais dificuldades em esticar o orçamento até ao fim do mês. E há quem vaticine que não voltaremos à abundância do passado.
Por esta altura, já se adivinhava o efeito do consumo das famílias e nos lucros das empresas de um crédito mais alto. Recessão ou abrandamento económico era a dúvida. Que subsiste. Nas bolsas de todo o mundo a retracção dos lucros e a vâ esperança de uma resolução rápida ditava ora quedas violentas, ora fulgurantes recuperações. A volatilidade passou a ser o prato do dia.
Acossados, os investidores viraram-se para os activos que prometiam retornos: as matérias primas. Que então já vinham registando fortes valorizações nas principais bolsas de mercadorias, impulsionadas pelo apetite voraz das indústrias dos países emergentes. Estrangulado por uma oferta limitada, o petróleo seria a "commodity" mais especulada. Num ano, saltou dos 70 para os 140 dólares. Um novo choque petrolífero. Mas bem diferente de há 30 anos atrás, quando o barril disparou por razões não exclusivamente geopolíticas. Desta vez, sobe porque o petróleo não voltará a ser abundante (nem as gasolinas baratas) e por causa da especulação.
Outras matérias primas, que não suspeitávamos que fossem transaccionadas e "preçadas" num mercado de capitias, subiram a pique. Arroz, trigo, milho e soja, os cereais e oleaginosas que constituem a base da alimentação nos quatro cantos do planeta, galgaram para valores recorde, provocando fome e especulação. O receio de escassez foi mais uma vez o mote. A comida barata pertence ao passado.
Como qualquer crise, esta tem os seus culpados: os bancos, as agências de 'rating', os supervisores, os especuladores, as petrolíferas, os biocombustíveis, os políticos... Tem os seus heróis e vilões, gente da alta finança que acabará no argumento de um realizador americano, ajudando o povo a fazer a catarse. Tem lições a dar sobre a supervisão da banca e a necessidade de cooperação global.
Como qualquer crise, esta espicaçará o engenho e criará oportunidades, por exemplo para o transporte público ou o nuclear. E não será certamente a última. Num bairro de uma qualquer cidade portuguesa ou de um qualquer subúrbio americano, outro 'subprime' há-de ser servido como tema de conversa à mesa de um jantar difícil de digerir."

Artigo de André Veríssimo, publicado no Jornal de Negócios de 18/7/08

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"O senhor A merecia um post só para si, mas o senhor A esteve envolvido num dos episódios mais caricatos que presenciei no quiosque. Além do senhor A, participaram neste episódio o senhor B e o senhor C, por esta ordem. Eu também entrei. Aliás, eu já lá estava desde as 8 da manhã.

A espectacularidade deste episódio está na forma como ele representa a visão que muitas pessoas têm deste país, o que só vem colocar uma pressão adicional sobre os meus dedos, pois tenho sérias dúvidas que consiga transformar em palavras aquilo que presenciei.

Deixem-me apresentar-vos o senhor A, mas não de forma exaustiva, que o senhor A é menino para me espetar duas galhetas no focinho se sonha que eu ando aqui a falar dele.
Embora a frase anterior represente bem o espírito do senhor A, tenho a acrescentar que o senhor A tem muita pinta na forma como escavaca por palavras (lê-se asneiredo do piorio) qualquer gaja que se apresente na capa de uma revista social, qualquer político que abra a boca para debitar meia dúzia de palavras ou qualquer cliente que se lhe atreva a lançar um olhar reprovador depois de escavacar fulano e fulana tal.

O senhor A usa dois tipos de abordagem à minha banca. 1. pega no jornal e vai embora. 2. pega no jornal, acende um cigarro e acomoda-se na ponta esquerda da secção de culinária, pronto a escavacar quem lhe vier à mona. São os preparativos da abordagem 2 que me deixam nervoso, e não propriamente o que se lhe segue. Por vezes é arrasador, mas rápido. Outras vezes, começa meiguinho, mas entusiasma-se e quase que transforma a coisa num speaker’s corner à portuguesa.
E foi assim que começou o episódio. Primeiro, umas bocas às mamas da Nereida. Depois, umas ameaças ao ministro das obras publicas. E o espasmo final, numa crítica ao país, que culminou com um “isto só vai lá ao tiro!”, repetido várias vezes, até à chegada do senhor B.

Garanto que o senhor B não conhece o senhor A de lado nenhum. Simplesmente aproximou-se do senhor A e disse, muito calmamente, como é seu timbre: “tem toda a razão, isto só vai lá ao tiro”. Chega o senhor C, que talvez conheça o senhor B, mas que garanto que não conhece o senhor A de lado nenhum. E exclama, num tom de voz que nunca lhe tinha ouvido: “Esta merda toda só se resolve ao tiro!”.
É notório agora que existe no ar um ambiente de cumplicidade entre os três senhores que se juntaram para comprar o jornal, embora nenhum deles saiba precisamente como se formou a discussão do tiro, nem a quem se dirige propriamente o tiro. Filha da putice e cambada de aldrabões e corruptos passa a fazer também do vocabulário, ao mesmo tempo que o senhor A dá cabeçadas na atmosfera, à Jardel, de cima para baixo como mandam as regras.
Até que subitamente, sem acordo prévio, com o desabafo na reserva, param para respirar e os seus olhares, apenas os seus olhares, pedem a minha conivência.
Não os podia defraudar, era uma oportunidade de ouro de satisfazer 3 clientes de uma só vez: “Aqueles cabrões da ***** devem-me rios de dinheiro, mas se lhes falho com o pagamento anual, a partir do dia seguinte obrigam-me a pagar mais metade da dívida!”.
“Tá a ver, tá a ver… isto… isto… isto só se resolve ao tiro!”, atira o senhor B (ou terá sido o senhor C... agora estou confuso).

Num fôlego final, os ânimos exaltam-se pela última vez e tive a certeza que se em vez de jornais, vendesse armas de fogo, tinha feito aqui um belo de um negócio."

"Isto só lá vai a tiro", post publicado por Ardinário em Diário de um Quiosque

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5.8.08


Trailer Km0 from quilometro.zero on Vimeo.
QUILÓMETRO Zero, apresentado por JP Simões na RTP2, aos Sábados e Domingos

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