2.10.09

DE volta aos meus arquivos coninbricenses (i.e., ao meu quarto de infância), pego em alguns dos muitos cadernos de diários que escrevi ao longo dos anos. Milhares de páginas, com todo o tipo de observações. Delicio-me a ler alguns excertos, ao acaso. Revelam situações de que já não me lembrava minimamente e é para isso que se escrevem diários, para registar o que o tempo faz evolar. São pueris e, ao mesmo tempo, pertinentes. Por exemplo, dos tempos universitários:

"íamos jogar futebol após a visita à Lusa. Chovia torrencialmente e só havia dois chapéus. Todos encavalitados uns nos outros a atravessar a portagem. O Pedro e o Rodrigo a cantarem hinos de futebol, nós a corrermos e a rasteirarmo-nos e a fugirmos uns dos outros. Depois, no Estádio Universitário, com os putos do Silva Gaio, senti um estranho retrocesso no tempo, como se aquela hora, aquela idade, aquele espaço, tivessem sido meus muito antes daquelas novas pessoas terem surgido na minha vida.
Fui eu que fiquei sempre no mesmo sítio."
(Dezembro de 1996 - Boa verdade, eles foram-se depois embora, como tudo se vai embora de Coimbra, e eu continuei por lá)

"O exercício que hoje se desenrolou na aula de rádio acabou por ser muito interessante. Tratava-se de ir para a cabine e fazer uma apresentação sumária - em 40 segundos - de si próprio, ou de um colega. E poedmos retirar consequências do que é dito, pelo que não é dito:

O Paulo Agostinho apresentou a Ana de uma forma floreada, plena de retórica e de palavras bonitas.

O Pedro foi lacónico, directo, objectivo. Apresentação: altura - 1m74; peso - 67 quilos; idade - 22; religião - nenhuma; interesses - futebol, cinema americano, futebol; clube: futebol clube do porto

O Ricardo foi competente e empático.

Eu fui deliberadamente pouco falador e dúbio.

O Rodrigo foi brilhante no texto, na imaginação, nas reviravoltas. "Agora estou aqui a pensar para onde devo fugir".

O Nélson falou pela negativa. Que não gostava de fazer aquilo e que o fazia só por dever ou obrigação. Que não gostava de hipócrisia, ostentação, capitalismo e de ninguém incondicionalmente.

A Cecília caprichou no texto. Hei-de ver o filme favorito dela: "Les Nuits Folles".

E hei-de ler o livro "O Perfume", de P. Suskind

E a Patrícia Freixo é descendente de uma família indiana."

(Fim de 1996)

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3 Comentários:

Anonymous Paulo Agostinho disse...

"O Paulo Agostinho apresentou a Ana de uma forma floreada, plena de retórica e de palavras bonitas."

Já lá vão tantos anos... Não me lembro, quem seria a Ana? Ou não terei sido eu?

12 de outubro de 2009 às 09:21  
Anonymous PB disse...

talvez a Ana Mesquita? tb já n me lembro, mas prometo sacar mais "tesourinhos" (de preferência, n deprimentes) dos meus diários desses tempos

18 de outubro de 2009 às 20:37  
Anonymous Paulo Agostinho disse...

Fico à espera de mais excertos do género, é sempre bom (ia escrever agradável, escrevi, arrependi-me e apaguei) regressar a esses tempos... Mesmo a tempos que não foram propriamente nossos.

19 de outubro de 2009 às 03:41  

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