7.11.08

"O meu ponto era de que, mesmo que não tenhamos expectativas por aí além do mandato do Obama (e eu não as tenho), Terça-feira foi um momento de um simbolismo único e marcante.

Tal como foi simbólico o momento em que senhora não sei quê (que morreu o ano passado ou lá o que foi. Rosa Banks?) decidiu que estava demasiado cansada e não fazia sentido ficar de pé quando havia tantos lugares vazios na parte do autocarro destinado aos brancos. Ela não tinha nenhuma intenção de iniciar o movimento de direitos civis, e a verdade é que a senhora não liderou esse movimento de forma alguma.

Tal como foi simbólico quando o Neil Armstrong pôs o pé no cenário que representava a lua. A alunagem em si não acrescentou grande coisa ao mundo ou à ciência. Mas não deixou de ser um momento histórico pelo seu simbolismo (ou simbólico pela sua historicidade. ..). Por duas razões:

1. Pelo processo até lá chegar. Ou seja, a alunagem em si não acrescentou nada à ciência. Por outro lado, o esforço tecnológico necessário para o conseguirmos fazer deu impulso brutal à ciência e à tecnologia, com implicações em muitas outras áreas, essas sim, com impacto no nosso dia-a-dia.

Traçando um paralelismo, não é que a eleição do Obama vá necessariamente mudar alguma coisa. Mas o processo que culminou com esta eleição mudou muita coisa para melhor em diversos níveis. Em 40 anos ou pouco mais, os negros nos EUA passaram de um estado semi-escravo para cidadãos ao nível de todos os outros, capazes de chegar ao supostamente mais importante cargo que existe no mundo (sublinho supostamente porque, conhecendo-te, a seguir vais escrever um e-mail de 50 linhas a provar-me que isso não é verdade necessariamente, como se eu não soubesse).

2. Pela mensagem. Na alunagem, o céu deixou de facto de ser o limite. A humanidade enquanto um todo passou a ser capaz de fazer as coisas mais... bom, lunáticas. Nós enquanto espécie, transcendemos os limites mais inimagináveis e saimos do nosso próprio planeta pelos nossos próprios meios. Não há nada que não possamos querer fazer e que, se assim quisermos e pusermos o esforço por trás, não consigamos fazer. (claro, que isso também tem um reverso da medalha, pois fez-nos acreditar que não estamos dependentes de nada e que pomos e dispomos dos recursos do universo. E daí todos os temas de má gestão dos recursos planetários, aquecimento global, extinção em massa de espécies, etc.)

No caso do Obama, acho que representa talvez o ponto mais alto do "sonho americano". Que não é apenas americano e que na verdade, é bem mais europeu do que americano (ao contrário da Europa, os presidentes dos EUA, até hoje, sempre pertenceram às elites das elites). Não há nada a partir de agora que o "homem da rua" não consiga fazer. Se um negro chega a presidente.. . bom, meus amigos, acabaram-se as desculpas. Com suor e lágrimas e talento, não há posição nenhuma no mundo ocidental que não esteja ao alcance de qualquer pessoa, seja qual for o seu nome (o novo presidente dos EUA tem como outros nomes Barack e Hussein), credo, origem (a avó dele ainda vive no Quénia, numa aldeia ou lá o que é), raça, cor, orientação sexual, clube de futebol.

E por isso tudo, Terça foi para mim um dia histórico. Tudo o resto de bom que o Obama possa vir a fazer, para mim será lucro."

[Outro mail do amigo referido em baixo]

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