FERNANDO Assis Pacheco - Eu diria, socorrendo-me aliás de leitores mais atentos do que eu, que você tem um tema dominante, Portugal (a Feira cabisbaixa aparece em italiano, na versão de Joyce Lussu, como Portogallo, mio rimorso,
e muito bem), e um fantasma omnipresente, o tempo (cá vai uma de
O’Neill entre aspas «Quandonde foi? / quandonde será? / / eu queria um
jàzinho que fosse / aquijá / tuoje aquijá»). Concorda?
Alexandre O'Neill
– É
verdade. Sem pieguice, digo-lhe que sempre sofri Portugal, tanto no
sentido de não o suportar (como todos nós, aliás), como no sentido de o
amar-sem-esperança (como disse um parnasiano qualquer: amar sem
esperança é o verdadeiro amor…). Eu tive a grande alegria de ver poemas
meus completamente desactualizados depois do 25 de Abril. Mas afinal não
estavam nada desactualizados, não. Como se pode ver. Quer dizer – o que
é um péssimo sinal relativamente à minha capacidade para vaticinar –
que a realidade fez de mim, novamente, um poeta actual. Até no fantasma
do tempo a que você se refere. Espero que isto um dia acabe e eu fique
bem desactualizado e para todo o sempre.
Excerto da
entrevista de Fernando Assis Pacheco a Alexandre O'Neill publicada no Jornal de Letras em 1982 (nº 36, 06-07-1982). Ver
aqui na íntegra.
Etiquetas: Entrevista, Poesia
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial