5.1.13

A tomar um café no Santa Cruz...

A tomar um café no Santa Cruz, em Coimbra, depois de uma viagem que demorou mais de um dia (em tempo real, em tempo oficial saí de Macau às 18h e cheguei a Lisboa às 15h do dia seguinte).
Bati o meu recorde de ausência de Portugal. Ausência física, pelo menos, porque Portugal está sempre presente, graças às conversas com família e amigos que estão lá e cá, à televisão que vou vendo , aos jornais que leio.
Sempre presente, é certo, mas é diferente vir aqui, olhar para as pessoas e observar as subtis mudanças (ou não tão subtis).
À medida que o avião proveniente do Dubai se aproximava da Portela, eu pensava no que iria encontrar "lá em baixo". E o que encontrei?
O mesmo velho país triste (o meu país, o país de que voluntariamente fugi vai para cinco anos, prescindindo do bom emprego que tinha, já intuindo o que aí vinha), agora mais empobrecido e mobilizado pela crise.
Portugal, país de individualistas empedernidos, mobiliza-se quando lhe vão indecentemente ao bolso. Ao bolso de cada um, não ao bolso do Estado. E mobiliza-se quando a selecção ganha (ou até que perde, porque nunca ganhou).
País melancólico e irresoluto, com algumas pessoas a pensarem que estão à beira de uma hecatombe, enquanto outras persistem em vidas de manga de alpaca.
A coisa parte pelos extremos e já se nota que está a partir. Nas ruas, aumentam as lojas fechadas proporcionalmente ao número de excêntricos e indigentes que passeiam a desocupação.
Há manifestações públicas de dessarranjo mental, a roçar a loucura. Cenas protagonizadas por gente que se está a borrifar, que sente que já perdeu tudo. Astutos ladrões e pequenos marginais esperam a sua oportunidade...
Todos os dias aumenta o número de desempregados e excluídos, não se vê uma luz ao fundo do túnel.
Graças aos embustes bancários, Portugal endividou-se quase irremediavelmente. Endividaram-se os governos centrais e locais e endividaram-se as pessoas. Os primeiros, numa versão benevolente, deixaram-se enganar, na maioria dos casos. As últimas foram enganadas e revelaram o que agora chamam de "iliteracia financeira"...
Qualquer dia, quando a sopa dos pobres acabar, hão-de partir montras de lojas e bancos.
Coimbra continua a cumprir com o seu papel. Ponto de formação e passagem de pessoas. Os locais são os mesmos, mas os frequentadores renovam-se constantemente, à medida que passam os semestres lectivos. Ficam só certos coimbrinhas. É bastante melancólico, mas é romântico.
"Ó Coimbra dos doutores e dos amores que lá tive."
Agora, no início do ano universitário, vê-se um recrudescer da tradição do traje académico. Muita gente nova trajada, especialmente meninas. Se calhar, usar o traje passou a ser o mesmo que ostentar um estatuto privilegiado. Ser estudante universitário, seja em Coimbra ou em Portalegre, é uma coisa que se exibe.
Na Baixa, muitos turistas estrangeiros. O turismo vulgarizou-se e Coimbra é um sítio com mais encanto. Vem mais gente e também há mais estudantes do Erasmus, a maioria espanhóis.
Nesse aspecto, Coimbra está mais engraçada e cosmopolita do que era. Dantes, quando não havia "Erasmus" e Portugal hesitava entre virar-se para a Europa ou para o seu mundo, o intercâmbio estudantil costumava ser restrito a lusófonos, de Macau (e não de Timor, como se costuma dizer) ao Minho. Agora é melhor e mais global.
O centro histórico de Coimbra (zona da Almedina), tão pitoresco e antigo, foi tomado pelo turismo.
No Quebra Costas (ver foto) pintaram de azul escuro a fachada da casa da minha avó e de cor de rosa a fachada da loja do senhor Miranda, ao lado, onde os móveis eram feitos artesenalmente, como na Idade Média.
No prédio contíguo abriu uma casa de fados de Coimbra e no largo há outras duas lojas de artesanato.

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