PARTILHO, que é bonito: 

"Onde estarão e como viverão hoje antigos companheiros de jornada, num país que não é para velhos, interrogo-me. Se calhar muitos estavam lá, esperando os ídolos que, pelo menos por um dia, lhes deram alguma alegria, mas mais resguardados, que as pernas já não estão para grandes tropelias. Outros, traídos, cansados e desiludidos com a situação do país e com o desmoronar dos sonhos de juventude, ter-se-ão acomodado no sofá olhando as imagens do Jamor com saudades daquela outra final de 1969, a final da nossa juventude e também a final da coragem e do protesto contra o regime então vigente. Tinha eu 18 anos e já lá vão 43, mas parece que foi ontem. Mas, a esta distância, o sentimento de perda é maior."

 "Os tempos são outros e não chega viver de glórias passadas, mas é reconfortante descortinar que ainda persistem em Coimbra (essa cidade de estudantes e de futricas, de poetas, de monumentos, de jardins, das tertúlias e do convívio das tascas e dos cafés, mas que nunca foi rica porque Salazar nunca permitiu a sua industrialização, para não atiçar o fogo das lutas estudantis com a gasolina das lutas operárias) alguns dos valores antigos que fizeram da Académica muito mais do que um simples clube de futebol."

"«Briosa», apenas isto. E isto é tanto: brioso é aquele que revela dignidade, pundonor, generosidade e coragem. Os jogadores da Académica esta época e, sobremaneira, no passado domingo no Estádio Nacional foram tudo isto, e muito mais. E se um jogo de futebol não deve ser mais do que isso: uma luta digna e leal pela vitória. A luta pela dignidade essa continua (e, também, estava presente naquele cartaz: «Mãe estou desempregado») e estes homens de hoje honraram a coragem dos jogadores de 1969 que entraram em campo de capa traçada em sinal de luto contra a repressão da contestação estudantil e a situação de ausência de liberdades e de democracia no país."