3.9.11

"ENQUANTO me sentir parte activa, algo interveniente, na sociedade de Macau, jamais me cansarei de, na minha pequenez, tentar influenciar no sentido de as comunidades de língua portuguesa consumirem e utilizarem de forma viva, crítica ou colaborante, os meios de comunicação social de língua portuguesa que possuem ao dispor. Não estou bem certo das razões que levam uma significativa fatia destas comunidades a nem sequer se lembrar da existência desses jornais, rádio ou televisão. Sei de cidadãos residentes em Macau há vários anos que nunca compraram um jornal, nunca leram uma reportagem local, um texto sequer. De passagem rápida, ouvem umas musiquinhas na rádio, meramente por acaso, e a televisão serve para algum futebol de quando em quando. Magazines impressos com temática local, literatura abordando a história ou outro qualquer aspecto de Macau, é como se não existisse; um livrinho de receitas de gastronomia macaense, possivelmente recebido como prenda de aniversário, e muitas vezes sem nunca ter sido folheado, é o máximo a que chegaram. Parece inacreditável, mas não é. Assim procedem, como anteriormente já o fizeram em outros lados. Não existe nem sequer o intuitivo desejo do conhecimento para lá do valor da moeda.
Há pessoas que estão em Macau como se estivessem em Nairobi ou em Maastricht. Dez, quinze ou mais anos depois, para essas pessoas a comida chinesa ainda é um mistério, o ponto geográfico onde vivem é quase uma incógnita, tudo o que respeita para além de três ou quatro quarteirões à volta da residência ou do local de trabalho, é um mundo desconhecido. Quando se lhes pede uma opinião, não têm, por muito básico que seja o assunto. Cada um é como é, mas entristece-me muito quando sou testemunha desta insistente ignorância militante. São conhecidas estas atávicas criaturas, lamentavelmente tão famosas como as tais outras que, em passadistas e parolos heroísmos de meia-tijela, vociferam por tudo e por nada, despejando invencionices e fel, num frustrado passadismo fascistóide esquizofrénico e inconsequente. Quando comento estes aspectos com gente local, garantem-me que com a comunidade chinesa chegada na última década, por exemplo, acontece, muitas vezes, coisa muito semelhante. Para não falar de outras comunidades residentes.
Nesta especial região de Macau há, para mencionar este aspecto, uma imprensa de língua portuguesa que é livre, dentro do que os parâmetros de aferição podem significar local ou mesmo internacionalmente; e dentro de um país que, como é sabido, não tem tido vocação para liberdades de expressão. Com o devido respeito, os jornais “lusófonos” desta região, não são jornais do emigrante, são jornais de Macau em língua portuguesa. Cada um com seu estilo e ideias próprias, são órgãos profissionalmente interventivos, mesmo com as várias dificuldades, algumas delas naturais. Só esse aspecto, dentro deste contexto, já oferece extraordinária relevância a esta realidade. Os leitores que nos honram com a sua leitura, sabem que é assim.
Do mesmo modo é muito reconfortante, a atenção dispensada pelos leitores fora de Macau, que lêem os jornais nas versões PDF, site ou blog. Como estimulante também é a interactividade com os ouvintes de rádio, dentro e fora da região, pelo telefone, pelo endereço electrónico ou pela rede social. É isso que faz os profissionais não se sentirem sozinhos entre quatro paredes de um estúdio fechado ou numa redacção de jornal."
Hélder Fernando, in Hoje Macau

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