"Sinais de Fogo"
FIGUEIRA da Foz, 25 Mar (Lusa) - Um roteiro que siga os passos do escritor Jorge de Sena e das personagens de "Sinais de Fogo", romance passado na Figueira da Foz, nos anos 30 do século passado, constam de um projeto ambicionado pela Câmara da cidade.
O romance relata as vivências do personagem principal na Figueira da Foz da segunda metade da década de 1930, cidade onde se refugiou uma grande comunidade espanhola fugida à Guerra Civil.
“A ideia é pegar no 'Sinais de Fogo' e seguirmos os passos físicos das passagens da obra em que são mais diretas as referencias à Figueira da Foz”, disse à agência Lusa António Tavares, vereador com o pelouro da Cultura no Município local.
O autarca admite que o roteiro possa ir beber inspiração aos próprios passos do escritor: “andar por onde ele andou, porque ele andou por cá. Grande parte do romance, ao que se presume, é autobiográfico”, lembrou.
Na época retratada na obra, Jorge de Sena, então um jovem no final da adolescência, passou férias na Figueira da Foz, em casa de um tio, Jaime Teles Trigo.
A casa onde se hospedou - residência da personagem Justino, tio do protagonista Jorge - ainda hoje existe, perto da biblioteca municipal, a dois passos da igreja matriz de São Julião.
A propriedade, onde também chegou a residir a professora e escritora Cristina Torres, opositora ao regime salazarista, foi mais tarde escola primária e está hoje fechada e à venda.
No local, atapetado por heras que crescem desordenadas, António Tavares imagina como seria, há quase 80 anos, aquela pequena casa e luxuriante jardim, ponto de partida no caminho de Jorge até ao Bairro Novo, o do Casino, dos bailes e do vício de jogo, das esplanadas e cafés apinhados ou das pensões que hospedavam os veraneantes.
“Este jardim deve ter sido de uma beleza enorme. Era um espaço que está fora do Bairro Novo, onde se desenrola grande parte da ação do Sinais de Fogo, mas facilmente acessível”, argumenta o autarca.
Em defesa do projeto do roteiro de "Sinais de Fogo" está o “desconhecimento absoluto” que subsiste no país, “e na Figueira muito mais”, sobre o romance póstumo de Jorge de Sena “tão importante na literatura portuguesa do século XX”.
Por outro lado, a ação do romance, centrada na Figueira da Foz, está relacionada com uma “mística muito própria” que a cidade detinha naquela época.
“E é bom dar a conhecer e lembrar essa mística da Figueira, porque faz parte da nossa própria identidade”, sublinha António Tavares.
Nos anos 30 a Figueira da Foz assumia-se como uma cidade hospitaleira e a comunidade local mantinha boas relações com os espanhóis que ali demandavam, relembra, aos 102 anos, António Ferro, figueirense e testemunha desses tempos.
“Dávamo-nos muito bem com os espanhóis e eles connosco. E nós, rapazes novos, zangávamo-nos com as nossas namoradas para namorar as espanholas”, assegura, com um sorriso matreiro.
Da convivência recorda os bailes em vários locais da cidade, mas também as regatas no rio Mondego, resumindo que a afluência de espanhóis à Figueira da Foz - na época, por via da linha férrea de ligação à fronteira em Vilar Formoso, era a praia mais próxima de Salamanca - deu “outra vida” à cidade.
“Até aí as nossas senhoras, portuguesas, não iam para os cafés e depois passaram a ir e fazer o que as outras faziam. A vinda dos estrangeiros para cá modernizou a Figueira”, diz António Ferro.
*** José Luís Sousa, da Agência Lusa ***
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
O romance relata as vivências do personagem principal na Figueira da Foz da segunda metade da década de 1930, cidade onde se refugiou uma grande comunidade espanhola fugida à Guerra Civil.
“A ideia é pegar no 'Sinais de Fogo' e seguirmos os passos físicos das passagens da obra em que são mais diretas as referencias à Figueira da Foz”, disse à agência Lusa António Tavares, vereador com o pelouro da Cultura no Município local.
O autarca admite que o roteiro possa ir beber inspiração aos próprios passos do escritor: “andar por onde ele andou, porque ele andou por cá. Grande parte do romance, ao que se presume, é autobiográfico”, lembrou.
Na época retratada na obra, Jorge de Sena, então um jovem no final da adolescência, passou férias na Figueira da Foz, em casa de um tio, Jaime Teles Trigo.
A casa onde se hospedou - residência da personagem Justino, tio do protagonista Jorge - ainda hoje existe, perto da biblioteca municipal, a dois passos da igreja matriz de São Julião.
A propriedade, onde também chegou a residir a professora e escritora Cristina Torres, opositora ao regime salazarista, foi mais tarde escola primária e está hoje fechada e à venda.
No local, atapetado por heras que crescem desordenadas, António Tavares imagina como seria, há quase 80 anos, aquela pequena casa e luxuriante jardim, ponto de partida no caminho de Jorge até ao Bairro Novo, o do Casino, dos bailes e do vício de jogo, das esplanadas e cafés apinhados ou das pensões que hospedavam os veraneantes.
“Este jardim deve ter sido de uma beleza enorme. Era um espaço que está fora do Bairro Novo, onde se desenrola grande parte da ação do Sinais de Fogo, mas facilmente acessível”, argumenta o autarca.
Em defesa do projeto do roteiro de "Sinais de Fogo" está o “desconhecimento absoluto” que subsiste no país, “e na Figueira muito mais”, sobre o romance póstumo de Jorge de Sena “tão importante na literatura portuguesa do século XX”.
Por outro lado, a ação do romance, centrada na Figueira da Foz, está relacionada com uma “mística muito própria” que a cidade detinha naquela época.
“E é bom dar a conhecer e lembrar essa mística da Figueira, porque faz parte da nossa própria identidade”, sublinha António Tavares.
Nos anos 30 a Figueira da Foz assumia-se como uma cidade hospitaleira e a comunidade local mantinha boas relações com os espanhóis que ali demandavam, relembra, aos 102 anos, António Ferro, figueirense e testemunha desses tempos.
“Dávamo-nos muito bem com os espanhóis e eles connosco. E nós, rapazes novos, zangávamo-nos com as nossas namoradas para namorar as espanholas”, assegura, com um sorriso matreiro.
Da convivência recorda os bailes em vários locais da cidade, mas também as regatas no rio Mondego, resumindo que a afluência de espanhóis à Figueira da Foz - na época, por via da linha férrea de ligação à fronteira em Vilar Formoso, era a praia mais próxima de Salamanca - deu “outra vida” à cidade.
“Até aí as nossas senhoras, portuguesas, não iam para os cafés e depois passaram a ir e fazer o que as outras faziam. A vinda dos estrangeiros para cá modernizou a Figueira”, diz António Ferro.
*** José Luís Sousa, da Agência Lusa ***
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Etiquetas: literatura, Portugal
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