Rescaldo do GP de Macau
AOS 47 anos, Gabriele Tarquini tornou-se ontem no campeão mundial mais velho das competições organizadas pela Federação Internacional Automóvel (FIA), batendo um recorde que anteriormente pertencia ao mítico pentacampeão mundial argentino Juan Manuel Fangio. O italiano sagrou-se na RAEM campeão do Mundo no Campeonato do Mundo de Carros de Turismo da FIA (WTCC), ao conquistar 127 pontos, mais quatro que o seu companheiro de equipa Yvan Muller.
A idade foi, no entanto, um factor desvalorizado por Tarquini, que, fazendo um balanço da época, referiu que “talvez a experiência valha, mas foi uma época muito dura, enfrentando competição cerrada por parte do Yvan e do Augusto Farfus”. E chegou mesmo a brincar com o facto de estar próximo de chegar aos cinquenta anos. Quando um jornalista lhe perguntou-lhe se pretende agora juntar-se à equipa da Ferrari na Fórmula 1, o ex-piloto de Fórmula 1 retorquiu que “talvez seja demasiado novo para conduzir” naquela disciplina do automobilismo.
A boa disposição, em jeito de fim-de-época, reinava na sala de imprensa, com o italiano a confessar que este “foi o seu primeiro fim-de-semana bom” na pista de Macau, que considerou de “muito difícil”. “Em ocasiões anteriores, tinha ido quatro vezes ao hospital”, gracejou. Mas mesmo esta participação começou atribulada, com uma batida e uma nova ida ao hospital para uma análise física de rotina. Motivo para elogios do novo campeão aos mecânicos da SEAT, que “foram fantásticos e reconstruíram o carro” e à própria marca espanhola, que “se tornou na equipa a bater”.
Yvan Muller, que chegou a Macau com boas hipóteses para reter o seu título mundial, era um piloto conformado “Tentei fazer o meu melhor, infelizmente não conteceu, mas Tarquini é um bom competidor, há muito respeito entre nós e ele é um bom campeão do mundo”.
Referindo-se à interrupção a 3 voltas do fim, causada por um aparatoso acidente que envolveu o carro do piloto de Macau André Couto, Muller declarou que as voltas que ficaram por correr poderiam ter feito a diferença: “Claro que prejudicou, em 2007 gostaria de ter três voltas a menos também [quando Muller perdeu o título para o BMW de Andy Priaulx, também em Macau, devido a uma falha na válvula de combustível que aconteceu quando liderava, na última volta da corrida]. Não se sabe o que iria acontecer, ele poderia ter batido, ou eu, não se sabe nem vale a pena pensar nisso. Ele é campeão, eu fiquei em segundo, a Seat é campeã, o que é perfeito”, afirmou.
Ganhar mais não chega
Fazendo as contas findo o campeonato, o brasileiro Augusto Farfus, da BMW, foi o piloto que obteve mais vitórias no campeonato (6), mas revelou alguma falta de consistência ao longo da época. “Não me importava de dar as minhas vitórias ao Tarquini e ser eu o campeão mundial, ironizou após ter ganho a última das duas corridas de Macau. “Não fomos sempre o carro mais rápido na pista ao longo da época, houve oscilações”, declarou, lamentando que o objectivo de levar a BMW ao título de construtores não tenha sido alcançado.
O holandês Tom Coronel repetiu o título do ano passado no troféu Independent´s (uma subcategoria para carros que não são de fábrica), o que considerou ser a conquista de “desafio muito difícil, com competição cerrada por parte de Félix Portero”, que ganhou a segunda corrida, mas teve que ir visitar o hospital, após o aparatoso acidente da última volta. “Terminámos todas as corridas, às vezes nos primeiros lugares, fomos regulares”, resumiu o líder da equipa Sunred Engineering, que conduz um Seat Léon.
Monteiro em nono
O português Tiago Monteiro, que ontem ainda rodou em segundo lugar na primeira manga e podia ter subido ao pódio, fechou o campeonato com 44 pontos, no nono lugar, fruto da estratégia da Seat, que desenhou uma prova para ganhar não só o campeonato de pilotos como também o de construtores. Para o piloto, a prova de Macau “foi a melhor corrida do ano, com o comportamento do carro a revelar-se bom, especialmente nos arranques. Monteiro confessou que não teve preferência na luta pelo título entre os “amigos Mulller e Tarquini e afirmou-se satisfeito por conseguir estar na equipa campeã, onde, no entanto, teve “que se resignar ao papel de ajudar o colectivo”.
Para a próxima época, o português não sabe ainda o que vai fazer estando dependente da decisão da SEAT continuar ou não no WTCC. “O mais provável é não continuarem mas ainda está tudo em aberto”, disse Tiago Monteiro, que tem “outras opções” para a sua carreira. “Para o ano, tudo está em aberto, quero competir numa equipa profissional e competitiva”, declarou
Já André Couto explicou que um problema mecânico na primeira corrida prejudicou os objectivos de lutar por um lugar no pódio entre as equipas independentes. O piloto de Macau disse ainda que foi impossível evitar o choque na segunda manga, já que os carros dos seus adversários estavam na linha de trajectória dos pilotos. Na próxima época, Couto deverá continuar a correr nos carros de Turismo no Japão, mas só mais tarde tomará uma decisão relativamente ao seu futuro.
No “paddock”, enquanto a maioria das equipas começava o trabalho de empacotamento de carros e peças de volta para os países de origem, na garagem, da SEAT o clima era de festa, graças ao pelo título de Tarquini e à consagração como equipa mais pontuada no campeonato mundial de construtores.
[texto e fotos: P.B., com excepção da primeira]
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