"É o Outono do meu segundo ano em Paris. Fui mandado para cá por uma razão que ainda não consegui compreender.
Não tenho dinheiro, nem recursos, nem esperanças. Sou o homem mais feliz que existe. Há um ano, há seis meses, pensava que era um artista. Agora já não penso nisso: sou. Tudo o quanto era literatura me abandonou. Não há mais livros a escrever, graças a Deus.
E então isto? Isto não é um livro. É líbelo, calúnia, difamação. Não é um livro na acepção corrente da palavra. Não. É um insulto prolongado, uma cuspidela na cara da Arte, um pontapé no cu de Deus, do Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, da Beleza...do que quiserem. Vou cantar para vocês. Um pouco desafinado, talvez, mas cantarei. Cantarei enquanto esticam o pernil, dançarei em cima do vosso sórdido cadáver...
Para cantar é preciso primeiro abrir a boca. Há que ter um par de pulmões e um pequeno conhecimento de música. Não é necessário possuir acordeão ou guitarra. O essencial é querer cantar. Isto é, pois, uma canção. Estou a cantar.
É para ti, Tânia, que canto. Gostaria de saber cantar melhor, mais melodiosamente, mas nesse caso talvez nunca consentisses em escutar-me. Tens ouvido os outros cantar e eles têm-te deixado fria. Cantam ou bem demais, ou insuficientemente bem.
(...)
Oh Tânia, onde está agora essa tua cona quente, esses jarretes gordos e pesados, essas coxas macias, bojudas? Há um osso na minha picha com quinze centímetros de comprimento. Mandrilarei todos os refegos da tua cona, Tânia grávida de semente. Mandar-te-ei para casa, para o teu Sylvester, com dor de barriga e o útero virado do avesso. O teu Sylvester! Sim, ele sabe atear um fogo, mas eu sei inflamar uma cona! Disparo raios ardentes dentro de ti, Tânia, deixo-te os ovários incandescentes. O teu Sylvester está agora um bocadinho ciumento? Sente qualquer coisa, não sente? Sente os restos da minha grande picha. Alarguei um bocadinho as margens, alisei os refegos. Depois de mim podes receber garanhões, touros, carneiros, patos, são-bernardos...Podes enfiar pelo cu acima sapos, morcegos e lagartos. Podes cagar arpeggios, se te apetecer, ou passar as cordas de uma cítara de lado a lado do teu umbigo. Fodo-te, Tània, para que permaneças fodida. E se tens receio de ser fodida publicamente, foder-te-ei privadamente. Arrancar-te-ei alguns cabelos da cona e colá-los-ei no queixo do Boris. Cravarei os dentes no teu clítoris e cuspirei moedas de franco."
Henry Miller, Trópico de Câncer
Etiquetas: literatura
1 Comentários:
amanhã vamos cantar por aqui, estejam atentos...
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