4.8.09

Sempre de viola atrás

A viver há meio ano em Macau, Ladislau Monteiro, mais conhecido como Zico, recorda-se que o seu interesse pela guitarra surgiu quando tinha 12 anos e se encantou com as guitarradas que um colega brasileiro. “Fui logo chatear o meu pai para me comprar uma guitarra”, afirma o músico, prestes a completar 29 anos de idade.
Desde então, o percurso de Zico, que nasceu em Angola e chegou a Lisboa com dois anos, passou a ser feito sempre “com a viola atrás”, com uma pausa para fazer o serviço militar. Quando saiu da tropa, não teve grandes dúvidas em relação ao que queria fazer da vida. Prestou provas de audição na Escola de Jazz do Hot Club de Portugal e o seu talento ficou patente. “Na sequência da audição, eles queriam pôr-me num grau superior, mas eu quis começar do início, como se não soubesse nada de guitarra.”
Entre 2001 e 2004, o guitarrista frequentou os três anos do curso do prestigiado clube de jazz lisboeta, que pagou trabalhando no período estival como barman na ilha de Tavira. Foi nesta cidade algarvia que começou a conhecer mais músicos, em jam sessions que se prolongavam pela madrugada fora. “As pessoas gostavam da minha música e começaram-me a arranjar bares para tocar no Algarve”, relembra. Zico estava saturado de Lisboa e decidiu então viver para Tavira, aos 27 anos, onde acabou por formar uma banda. O passa-palavra fez com que os concertos na região se sucedessem, para além de bares foi tocando a solo em vários hotéis.
Apesar de ter estudado no Hot Club, Zico não se considera um músico de jazz. Na opinião deste intérprete, “não se trata apenas de dominar a técnica, só se é músico de jazz quando se chega aos quarenta ou cinquenta anos, porque prodígios do jazz há poucos”. Para se ser músico de jazz é preciso “andar muitos anos a correr os clubes e a tocar”, assevera. Ainda segundo a sua visão, jazz é uma música que surge com o amadurecimento das pessoas. “Eu há uns anos não gostava, achava uma música estranha”.
O certo é que o género musical não está muito difundido em Macau, apesar de já ter existido um clube dedicado parcialmente ao jazz, o Clube de Jazz, que muitos locais recordam com saudade. Para Zico, este espaço de música ao vivo “não pegou, porque as pessoas aqui querem música mais mexida, vão aos bares para tomar um copo e gostam de ouvir um pouco de blues, ou de rock.”




O seu gosto musical amplo - que vai de B.B. King a Jimi Hendrix, passando por Bon Jovi, Bob Marley, ou Cyndi Lauper - aliado à formação da escola de jazz resulta em performances musicais multifacetadas. “Eu posso tocar pop introduzindo escalas de jazz pelo meio, o que resulta numa maior riqueza musical. Por vezes, os clientes dos hotéis vinham-me dizer que gostavam das minhas versões das músicas, por terem um toque diferente, que nem sempre conseguiam identificar. Aqueles com maiores conhecimentos de música comentavam que eram versões ‘meio ajazalhadas’”.
A recente vinda para Macau surgiu através de um convite feito à sua mulher para trabalhar no território. Zico pensou que, tal como vingou no Algarve, o poderia fazer em Macau. Mal chegou, no fim do ano passado, começou a conhecer músicos, a frequentar as jam sessions do bar Old Taipa Tavern (onde toca todas as semanas, às segundas-feiras) e a tentar arranjar outros locais para tocar. Entretanto, vai começar a actuar em eventos institucionais – tal como já fazia em Portugal – e tem animado as quintas feiras do Sports Bar, na Taipa, para além de dar aulas particulares de guitarra.
Um dos seus objectivos actuais passa por encontrar músicos radicados em Macau que lhe permitam formar uma banda que cruze estilos musicais, tais como o jazz, o blues e o pop-rock. “Quero chegar com uma banda a vários ambientes Em Macau e em Hong Kong há mercado para isso, há muitos hotéis, restaurantes, bares e eventos empresariais onde me poderia apresentar com um projecto desses”, comenta. Outro plano passa por gravar um álbum de originais, algo que ainda não fez. A sua única colaboração discográfica aconteceu em Portugal, através da participação num álbum a solo de Beto Medina, um músico que fez parte dos Black Out.
Zico pretende continuar pela RAEM “a conhecer mais pessoas e a ver o que é que se pode fazer musicalmente”. E sempre praticando a sua arte, não só enquanto músico de bar, mas também trabalhando em todas as áreas para se possa expandir, tais como as bandas sonoras e a música ambiente. “Tocar em vários géneros de eventos faz crescer musicalmente. É preciso adaptar o repertório às circunstâncias”, conta.
Para além da música, o único hobby que Zico cultiva é o futebol, que tem praticado em Macau. Mas o músico confessa que “passa a maior parte do tempo com a guitarra, tocando ou estudando”.
Texto: P.B., Foto: António Falcão, artigo publicado no Hoje Macau.

Etiquetas: ,

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial

Em Macau: Em Lisboa:
www.flickr.com
This is a Flickr badge showing public photos and videos from BARBOSA BRIOSA. Make your own badge here.
Bookmark and Share