Ai a gripe suína ai ai
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão, Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha, Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sózinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
António Lobo Antunes
Etiquetas: Crónica
3 Comentários:
Há uma versão deste poema cantada pelo Vitorino, pertencente a um album quase todo ele escrito pelo Lobo Antunes, chamado "Eu que me comovo por tudo e por nada" (não encontrei no youtube, parece que o Vitorino não é muito popular por aquelas bandas...
Olá Agostinho! Não conheço esse álbum, mas fiquei curioso. É que o Lobo Antunes está no topo das minhas preferências literárias (embora ache que os últimos livros dele são ilegíveis)
Um abraço
PB
Caro Paulo,
O álbum deve encontrar-se facilmente (no site da fnac, por acaso, não o achei), mas apareceu no Yahoo música: http://yahoo.imusica.com.br/album.aspx?id=21589
O cd, também do Vitorino, A Canção do Bandido, também tem algumas letras do Lobo Antunes. E há um cd da Kátia Guerreiro com letras da mesma autoria.
Como tu, também tenho o Lobo Antunes no meu top 5. E também tenho tido mais dificuldade em entrar nos livros mais recentes, embora o Arquipélago da Insónia até esteja a "correr" bem.
(se tiveres dificuldade em encontrar os cds, avisa, que tudo se resolve!)
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