20.3.09

Dar o salto


A vinda para Macau de Catarina Bandeira começa por uma inscrição de última hora no Programa Contacto, após ter concluído o curso de Publicidade e Marketing na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa. Alfacinha de gema, Catarina passou os verdes anos entre a casa paterna no centro da capital e os verões passados em Tróia ou no Algarve. Com os estudos universitários concluídos, a jovem “quis dar o salto e provar que não tem medo de se fazer à aventura”. E assim tentou a sorte no programa INOV Contacto, através do qual o Ministério da Economia apoia a formação de quadros qualificados em contexto internacional.
Para sua surpresa, a lisboeta soube que tinha sido seleccionada para uma das vagas no estrangeiro numa altura em que estava a estagiar numa empresa de “marketing” infantil. Tudo apontava que fosse colocada em Madrid, uma hipótese que não lhe agradava muito, devido à proximidade entre Lisboa e a capital espanhola. Era “ir embora sem efectivamente ir”, numa experiência que não implicaria o envolvimento numa cultura muito diferente. Mas os planos acabaram por não se concretizar e surgiu Macau, “de que nada sabia”, descreve Catarina. “Ainda tinha a ideia de que havia muita gente a falar português. Quando comecei a trabalhar, apercebi-me de uma coisa curiosa. Os meus amigos que estiveram no programa Erasmus fizeram amigos das mais variadas nacionalidades. Pensava que aqui seria semelhante, mas logo vi que não é assim. Os portugueses dão-se com os portugueses, os chineses dão-se com os chineses e não há muitas pessoas de outras nacionalidades. Fiquei conjecturar se isso não se deveria a resquícios de uma mentalidade colonialista. Depois entendi que o contacto é complicado, não só devido à barreira linguística, mas também pelas diferentes formas de ver o relacionamento interpessoal. É difícil uma pessoa comunicar e fazer a ponte com os chineses, o que já não acontece em Hong Kong, onde se vê toda a gente misturada.”


Barreira linguística que leva a episódios caricatos. Nos primeiros dias de estada, Catarina e uma amiga quiseram apanhar um táxi para casa, mas quando já estavam a entrar lembraram-se de que não sabiam explicar a morada. Catarina recorreu a um estratagema ardiloso: aproveitando o facto de os endereços estarem escritos em português e em chinês nas paragens de autocarro, desenhou os caracteres que correspondem à rua onde mora. “A minha amiga Inês ria-se muito e só dizia que o homem não ia perceber nada e nos ia mandar para Coloane. Mas o taxista entendeu e fomos parar a casa, o que foi um sucesso estrondoso”, graceja. “Há sempre maneira de dar a volta.”
É a primeira vez que Catarina Bandeira está a morar fora de Portugal e a primeira vez que está na Ásia. Situação que a leva a observar com particular pertinência certos aspectos desagradáveis – como o costume de cuspir para o chão, que leva à necessidade de haver anúncios na via pública contra essa prática – e também contrastes favoráveis para a civilização sínica. “Por exemplo, no Ocidente temos muito o culto do corpo, eles aqui têm o culto da saúde, o que é diferente. Novos e velhos fazem exercícios na rua, Tai-Chi nos jardins, o que é impensável em muitos países.”
A jovem está por seis meses a trabalhar nas instalações da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) localizadas no consulado português, dando apoio às empresas portuguesas que querem entrar no mercado chinesas e também para as asiáticas que pretendam actuar em Portugal. “Disponibilizamos informações sobre os mercados e facilitamos os contactos. Estou a gostar imenso do trabalho, porque interagimos com muitas empresas diferentes.”
A paixão mais recente de Catarina é o surf, que praticava na Costa da Caparica, próximo de Lisboa e sente falta de não poder surfar em Macau, onde “só há ‘swell’ [ondulação propícia] quatro ao cinco dias por ano”. Leituras e filmes são outros interesses que cultiva, mas que tem relegado para segundo plano desde que chegou à RAEM, onde aproveita a “localização privilegiada para ir a sítios, onde, de outra forma, dificilmente iria”. Das andanças asiáticas que já fez, a portuguesa destaca Xangai, “uma cidade que não para, onde há um arranha-céus numa esquina e na outra um bairro chinês, com pessoas a coser as calças na rua e com tascas de aspecto terrível, num contraste muito giro.”
Voltando para Portugal, Catarina parece saber o que quer do futuro, “pelo menos numa base quinquenal”, refere. Pretende evoluir para mestrado, concretizando eventualmente o sonho de estudar na Austrália. Depois de ganhar experiência numa empresa com dimensão, “para aprender como se fazem as coisas”, deseja abrir uma empresa de gestão de marcas, particularmente em comércio tradicional. “A maior parte das agências em Portugal trabalham com os grandes nomes, e gostava de criar marcas de comércio tradicional e cultivar essas marcas, ajudando negócios que estão a cair na falência a serem competitivos”, descreve a jovem. Outro projecto passa por fazer voluntariado em países carenciados de apoio, depois de em Portugal já ter ganho alguma experiência através da colaboração com o Banco Alimentar Contra a Fome e de outras acções de solidariedade social.
P.B.

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