27.1.09

Sede de palco



COM apenas 21 anos, Germano Guilherme já teve direito a mais do que os quinze minutos de fama que Andy Wahrol previa que todos teríamos um dia. O macaense cantou nas cerimónias de abertura dos Jogos da Lusofonia, em 2006 e nos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto, no ano passado, perante uma audiência oriunda de mais de 40 países. “Foi uma alegria e uma grande oportunidade de estar num palco muito grande e poder representar Macau, com muita gente a ver”, recorda o jovem.
Germano é oriundo de uma família poliglota, em cuja casa se fala o português, mas também o chinês, o inglês e, frequentemente, se misturam as línguas. “Temos aquela pancada de falar português misturado com palavras em chinês, ou vice-versa: falamos em chinês e metemos pelo meio o português”, conta. Essa versatilidade faz com que domine o cantonense, o mandarim e o português. Por isso decidiu escolher a área da linguística para estudar. Após ter passado por várias escolas, entre as quais a Escola Portuguesa, está agora no Instituto Politécnico a estudar no terceiro e penúltimo ano do curso de tradução de português-chinês. Considera que essa é uma “boa aposta” que abre perspectivas de trabalho.
Mas mais do que tradutor, Germano quer ser artista, se tiver a oportunidade para isso. “Por enquanto, ponho os estudos em primeiro lugar , depois verei mesmo o que quero fazer. É provável que comece pela área da tradução, se conseguir arranjar emprego. Mas tenho grande interesse no palco, gosto de cantar, de teatro, de ser modelo. Tudo o que seja palco eu gosto”, diz com entusiasmo. O certo é que os primeiros passos nesse sentido estão dados. Já desfilou em diversos eventos como modelo, já posou para revistas e é dono de uma voz afinada, cantando em jantares e em espectáculos esporádicos, sempre que é convidado.
Canta também no grupo de teatro e coro musical macaense Doci Papiaçám, que recentemente celebrou o décimo quinto aniversário. Antes de ingressar no grupo não dominava o patuá, dialecto em que o grupo se expressa, mas entrou pelo gosto de experimentar o palco. A primeira peça em que participou foi “Vila Paraíso”, em 2006 e desde então tem entrado em todas as encenações de Miguel Senna Fernandes. Descreve o ambiente dos ensaios como descontraído e, ao mesmo tempo, profissional. “Aquilo é uma festa, um grupo de amigos que é capaz de brincar mas também é capaz de se concentrar com seriedade. Trabalhamos como se fôssemos profissionais, todos sabemos os nossos lugares e aquilo que temos que fazer. E há sempre comida, bebida e boa disposição.
O jovem artista tem aprendido as expressões características do patuá aos poucos e defende que é responsabilidade dos mais novos conservar o crioulo e evitar que ele desapareça. Por isso, é um dos mais novos elementos dos Doci Papiaçám e tenta convencer os amigos a participarem. “Dizem que querem entrar, mas depois não aparecem nos ensaios, acho que têm vergonha”, analisa
Em temos incertos como os de hoje, Germano está consciente de que o seu futuro dependerá das propostas que lhe fizerem e até dos acasos da vida. Por enquanto, não pensa muito em sair de Macau para seguir uma carreira artística. “Gostava de sair, mas também gostava muito de permanecer na minha terra”, confessa. “É tudo pertinho, já tenho amigos aqui, a família está toda aqui, Se emigrar, tenho medo de não me conseguir adaptar às pessoas e ao clima”. O seu lema de vida revela uma maturidade que nem sempre se encontra num rapaz da sua idade: “Devagar se vai ao longe. Aquilo que vem eu recebo, se não gostar não recebo, é assim.”
PB

[Relativamente a este artigo, estava no café e topei a empregada filipina a pedir a um português habitué da casa que lhe dissesse em inglês o texto. Ele ia contando e ela susprirando, "oh, he's very beautiful, he usually comes here to have coffee" - realmente o rapaz é bonito. E eu senti que ali o jornalismo estava a cumprir um dos seus mais nobres papéis, o de alimentar o imaginário romântico de meninas núbeis. É sempre interessante receber feedback do nosso trabalho, principalmente quando não fazem ponta de ideia de que fomos nós que o fizemos.]

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