A bonomia dos ilhéus
NATURAL de São Roque do Pico, Hugo Melo tem a bonomia dos ilhéus. Gosta de tocar guitarra, ou, pelo menos, de “pensar que toca” – quando estudou em Lisboa fez parte de um grupo interpretava temas regionais na Casa dos Açores - e de “pegar em computadores que aparentemente são lixo e tentar dar alguma utilidade àquilo”. Conviver com os amigos e viajar são as outras actividades favoritas do engenheiro electrotécnico, que fala com entusiasmo da mais recente viagem que fez, seguindo por comboio através da China até ao Norte do Vietname.
Macau surgiu na vida do açoriano um pouco por acaso. Chegou em 2004, acabado de sair da faculdade. Findos os sete anos de estudos e “actividades paralelas” no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, respondeu a um anúncio de emprego para Macau. Um território que desconhecia quase completamente. “Nem sabia bem o que era, tinha ouvido falar nos livros da escola”, conta. Nunca mais recebeu retorno da sua candidatura e, seis meses passados, quando já nem se lembrava mais do assunto, foi chamado
Passado um mês, estava a chegar ao Rio das Pérolas. Foi para Coloane estagiar na Companhia de Electricidade de Macau (CEM) durante um ano. Terminado o estágio, decidiu tentar permanecer na RAEM, porque em Portugal o cenário em termos de mercado laboral não era muito animador e queira utilizar a “plataforma espectacular que é Macau para conhecer melhor a Ásia”. “Para além disso – comenta -, “estar em Lisboa ou aqui não é bem a mesma coisa, mas de qualquer das formas não estou perto da família: há sempre um avião pelo meio, embora de lá a Lisboa sejam duas horas de voo, enquanto para aqui são umas doze”
Se é verdade que os açorianos têm uma diáspora considerável, com comunidades de amigos espalhadas por muitos cantos do mundo, em Macau não vivem muitos naturais dos Açores. Hugo conhece dois ou três apenas, mas nem por isso se sente sozinho. A verdade é que com o tempo foi criando laços em Macau e conhecendo muitos portugueses que começaram a voltar a partir de 2004 e que tinham um percurso paralelo em relação ao dele: também haviam deixado as suas terras para estudar em Lisboa e daí vieram para Macau.
Encontrou então a empresa Técnica e Projectos de Engenharia (Tecproeng), uma empresa de capitais lusos com escritórios em Portugal, Angola e Macau, onde permanece até hoje, trabalhando em projectos eléctricos e instalações electro-mecânicas. Trata-se de uma função feita em parceria com os arquitectos. Estes dão forma aos projectos e depois Hugo e a sua equipa concebem o projecto de instalações electro-mecânicas e, já em fase de execução, fazem o acompanhamento de obra. Um acompanhamento nem sempre fácil, dado que as empresas são quase todas chinesas e “a comunicação é muito importante quando se faz o interface entre o plano que está desenhado e aquilo que é efectivamente executado”.
No futuro a curto-prazo, Hugo irá ficar por Macau pelo menos mais um ano ou dois. Depois disso, e tendo em conta que trabalha com uma linguagem técnica, que é universal, pondera voltar a mudar o local de residência e de trabalho. A concretizar-se essa mudança, a África lusófona e o Brasil serão os destinos mais prováveis. PB, Hoje Macau (Janeiro 08; Foto: António Falcão)
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