Sobre os portugueses no estrangeiro
"AH, os portugueses no estrangeiro, essa odisseia. Ponha-se dois homens oriundos da mesma terra beirã a partilhar vizinhança em Lisboa e a única coisa que se lhes conseguirá arrancar da garganta durante anos a fio é um “bom dia” ladrado à queima-roupa, com maus modos e contrariedade.
Mas ponha-se um portista gelatinoso e bairrista e um lisboeta frequentador do Lux e da Cinemateca num mesmo resort turístico no estrangeiro e eles tornam-se instantaneamente amigos. Parece magia. No estrangeiro, os portugueses atraem-se como magnetos com o cio. Toda a gente quer dizer de onde veio, para onde vai e quais os efeitos da gastronomia local nas respectivas tripas. Em destinos tropicais “tudo incluído” o “Macaco” seria amigo do “Barbas”, o Vasco Pulido Valente leria a obra completa do Miguel Sousa Tavares enquanto lhe afagava a nuca e o capuchinho vermelho e o lobo mau abririam em parceria um lar de geriatria. Nos resorts os portugueses são todos comparsas, filhos do Rectângulo, descendentes directos do Henriques, o conquistador."(...)
[Excerto de uma crónica da talentosa Susana Ribeiro]
Mas ponha-se um portista gelatinoso e bairrista e um lisboeta frequentador do Lux e da Cinemateca num mesmo resort turístico no estrangeiro e eles tornam-se instantaneamente amigos. Parece magia. No estrangeiro, os portugueses atraem-se como magnetos com o cio. Toda a gente quer dizer de onde veio, para onde vai e quais os efeitos da gastronomia local nas respectivas tripas. Em destinos tropicais “tudo incluído” o “Macaco” seria amigo do “Barbas”, o Vasco Pulido Valente leria a obra completa do Miguel Sousa Tavares enquanto lhe afagava a nuca e o capuchinho vermelho e o lobo mau abririam em parceria um lar de geriatria. Nos resorts os portugueses são todos comparsas, filhos do Rectângulo, descendentes directos do Henriques, o conquistador."(...)
[Excerto de uma crónica da talentosa Susana Ribeiro]
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