8.12.08

Cidadão do Mundo

Foto: António Falcão, Bloom

QUE Macau prefere o designer de multimédia Miguel Khan: o da sua infância, ou aquele que acha tão mudado em pleno século XXI? “É difícil responder. Na infância Macau parecia um sítio com muito mais espaço, mas não oferecia tantas oportunidades como hoje. Acho que gosto dos dois, mas como saí e tenho informação lá de fora também posso gostar lá de fora”. Assim respondem os cidadãos do mundo, que se sentem em casa em muitos sítios e por diferentes motivos.
Nascido em Macau, Miguel ficou por cá até aos 16 anos. Em 1996 deu-se a sua primeira partida para Lisboa, onde acabou o liceu. Foi depois admitido no Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing (IADE), onde iniciou os estudos na área do design gráfico. Nessa altura ainda não pensava em animações, mas depois entrou paralelamente no curso da Escola de Comunicação e Imagem (Etic), e foi aí que viria a aprofundar os seus conhecimentos informáticos. Percebeu que gostava de trabalhar para além das simples fotografias ou imagens e começou a mexer em animações e produtos interactivos, como DVDs. Foi através do curso da Etic que arranjou o seus primeiros trabalhos (num pequeno estúdio de design e depois numa multinacional), ainda em Lisboa, com o objectivo de ver as diferenças entre o mercado de trabalho e a escola. Não tardou muito para que começasse a pensar em alargar horizontes e partir para outras paragens.
Apesar de na altura não falar inglês, surgiu a ideia de ir para Inglaterra e partiu em 2002. “Quando lá cheguei, não tinha bem a ideia do que iria encontrar, embora, pelo que lia em livros e via na comunicação social, aquele fosse um meio que me interessava em termos de referências profissionais.”
Miguel encontrou em Londres um meio “mais acessível do que em Portugal, mais à base de coisas práticas” e ficou com um maior conhecimento dos meandros do design, não só graças à escola – onde completou o curso de “Moving Image Design” no Ravensbourne College - , mas talvez principalmente pela vivência na cosmopolita capital inglesa. “Em Londres anda-se a uma outra velocidade”, conta. “Conheci muitas pessoas que trabalhavam no regime de free-lance. Havia trabalho, mas a concorrência é tal que é difícil lá chegar.”
Na escola leccionavam vários professores que trabalhavam na British Broadcasting Corporation (BBC) e o estudo era muito baseado nas animações gráficas aplicadas à televisão. Uma aprendizagem que depois foi importante quando regressou de visita a Macau, em 2005, após ter estado três anos fora. O designer ouvia os amigos dizerem que o desenvolvimento da RAEM no período das suas andanças pelo estrangeiro “era uma coisa do outro mundo”. Os contrastes eram tais que, ao contemplar o enorme casino Sands, Miguel nem se apercebeu que estava a chegar a Macau. Depois olhou para a imponente silhueta do Grand Lisboa e constatou que o desenvolvimento económico e imobiliário de que os amigos lhe falavam era um facto inegável.
Nessa altura vinha rever a terra natal e não fazia planos de regressar da “enorme” Londres. Pensava que o design em termos de animações de vídeo não existia ainda aqui. Mas, mal pisou terra, reparou nos ecrãs gigantes dos casinos e decidiu investigar quem estava por detrás daqueles efeitos visuais. Soube casualmente que procuravam alguém para a animação multimédia do Sands e, mesmo “sem estar muito virado para isso”, foi a duas entrevistas para o lugar.
Assim se traçou o seu regresso. Ainda voltou a Londres, agora já um pouco dividido. Continuava a achar que a Inglaterra “era o sítio para se estar”, mas não conseguia arranjar por lá um trabalho fixo e já fazia planos de regresso a Macau, depois de lhe dizerem que tinha um emprego à espera dele no Sands.
Vindo em 2006 com a experiência acumulada de Portugal e da Inglaterra, assustou-se com uma certa desorganização que veio encontrar em Macau. “Mas é natural, porque aqui esta indústria está a dar os primeiros passos. Em termos criativos, em Londres eram muito mais exigentes do que o que se pede cá.” Começou por desenvolver as animações dos mega-ecrãs do Sands e hoje é também responsável pela gestão da equipa que foi criando (actualmente são sete pessoas) e tem o cargo de gestor de multimédia no departamento de marketing do Venetian/Sands.
No seu “day job”, Miguel Khan confessa que não pode explorar a criatividade a 100% . Tem com base os objectivos da empresa e faz um trabalho com uma forte componente técnica. Sobra-lhe a vontade para explorar espaços de maior liberdade criativa, que materializa na colaboração com os Dóçi Papiáçam e nas festas em que faz sessões vjaying (manipulação de imagens em consonância com a música). No grupo macaense de música e teatro ajuda na concepção dos sketches e na forma de os registar em filme. As festas com vjaying são ainda pouco comuns em Macau, onde “não há discotecas do género das que existem, por exemplo, em Hong Kong, embora haja público para elas e um espaço a preencher”. Recentemente participou num concurso de logótipos para o Museu da Ciência, tendo ganho um prémio honorário. Fez também uma incursão no cinema, trabalhando nos créditos finais do filme de Sérgio Perez, que está ainda por estrear.
Para quando puder usufruiu um pouco mais desse bem escasso que é o tempo, pensa em levar a cabo um projecto que “tem que ser feito” em Macau, porque “estamos numa terra em que há muito para contar pelos lados positivo, negativo e até neutro”. Gostaria também de dar aulas e workshops de animação gráfica, até porque hoje há um mercado em Macau para os jovens que querem enveredar por essa área. Mas o bichinho de voltar ao estrangeiro está sempre presente. “Agora já vi o que se passa cá, portanto é de novo uma boa altura de ver o que há lá fora que possa ser trazido para cá. Estes mega-casinos e resorts são empresas com muito dinheiro e podem tornar as coisas mais sofisticadas e criativas em termos de marketing. Com dinheiro e criatividade podem-se fazer muitas coisas nesta área”, remata.

Texto: PB, Hoje Macau, 4/12/08

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