3.11.08

«NA era dos 'comedy shows', o 'Daily Show' não é apenas mais um. Os estudos indicam que é uma das principais fontes de informação política para os jovens norte-americanos entre os 18 e os 29 anos. O caso é sério, e o 'Project for Excelence in Journalism' (PEJ), um 'think thank' sobre média sediado em Washington, analisou-o à lupa. O estudo traz muitos números e uma conclusão: 'Por vezes o 'Daily Show' faz mais do que humor (...) Cumpre uma função que tem uma natureza próxima do jornalismo - pôr as pessoas a pensar criticamente sobre a praça pública.'
'Não é jornalismo, mas tem elementos jornalísticos', resume Mark Jurkowitz, investigador do PEJ, em declarações ao 'Actual'. 'O Jon Stewart é livre de opinar, brincar, distorcer a realidade, se isso lhe convém, o que é incompatível com as regras jornalísticas'. Por outro lado, embora não tenha que ser imparcial e equilibrado (Stewart tem sido mais duro com os republicanos do que com os democratas - mas ninguém goza mais com Obama do que ele), Jurkowitz nota que 'ele tem a reputação de ser justo com quem lá vai, prepara bem as entrevistas, e a forma como usa as imagens de arquivo é uma técnica jornalística legítima'.
Mais: no 'Daily Show', 'há uma preocupação de 'accountability' e de ir à essência das questões, que os média tradicionais estão a descurar, diz o investigador. 'Os canais de informação têm recorrido muito à técnica de colocar frente a frente pessoas que pensam de maneira diferente e deixá-las discutir. Dizem que isso é equilíbrio e objectividade. Mas não chega, porque o principal objectivo do jornalismo é descobrir o que se passou, distinuir o certo do errado. Às vezes, Jon Stewart cumpre esse propósito melhor do que os jornalistas.'
Walter Dean, jornalista veterano ligado a outro 'think thank' (Committee of Concerned Journalists) vai mais longe: 'Podemos aprender muito com Stewart. Ele usa puras técnicas jornalísticas para descobrir contradições, mostra gravações antigas e actuais, aponta coisas que são mesmo estúpidas, ou escandalosas, e que os jornalistas tendem a ignorar. Em algumas histórias, ele está a trabalhar melhor do que nós. Devíamos ter vergonha', diz ao Actual.
Rodrigo Guedes de Carvalho concorda: a capacidade do Daily Show para 'ir ao que interessa e cortar a treta é uma lição de jornalismo'. O pivô da SIC já 'várias vezes' sentiu que gostaria de fazer perguntas ou pegar numa notícia como Stewart faz. 'Há uma mais valia jornalística no programa que me entristece que tenha passado para o lado do entertenimento: a capacidade de denúncia, de não aceitar o 'bullshit'. O jornalismo tornou-se politicamente correcto. Stewart não tem essa mordaça.
(...)'Para além do talento, ele tem meios que nem todos os programas portugueses juntos conseguiriam', constata Ricardo Araújo Pereira. Não são só os meios, também é o meio: 'Nos EUA há 200 Marcelos e 300 Vitorinos. Cá, se houvesse mais um Marcelo era uma benção. Há 3 meses ninguém sabia quem era a Sarah Palin; cá o Alberto João é o mesmo há 30 anos', lamenta o humorista do Gato Fedoernto, para quem basta esta diferença de dimensão para matar a pretensão de um 'Daily Show' à portuguesa.
(...)De audiências não se queixa Stewart nos EUA. Tanto o 'Daily Show' como o seu derivado 'Colbert Report' têm batido recordes,. Em Setembro, Stewart chegou quase a 2 milhões de espectadores por dia, ultrapassando o programa de Conan O'Brien em canal aberto (NBC).»


[Excertos de um artigo sobre Jon Stewart publicado no suplemento Actual do Expresso da semana passada. Autor: fcosta@expresso.pt]

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