30.7.08

"QUANDO um país precisa escrever na bandeira "Ordem e Progresso" é impossível não suspeitar que alguma coisa está errada.
De Gaulle dizia que o Brasil não era um país sério e não tinha futuro. Jorge Amado respondeu-lhe dizendo que o Brasil é sério. Só que é surrealista.
Uma coisa é certa. O Brasil é um país fascinante. Tem um jeito próprio, um andamento único, uma alegria de viver imcomparável. Não admira que tantos estrangeiros cheguem aqui e não queiram regressar.
O Brasil é independente há cerca de duzentos anos. Existe como país à mais tempo que os EUA. É bagunçado, desorganizado, com grandes problemas sociais. O crime e a violência são quase endémicos. A corrupção e a impunidade assumem níveis inaceitáveis para padrões ocidentais. Até aí nada de novo. A grande questão é esta: poderia o Brasil ser um país tão fascinante e divertido, tão atraente e mágico se fosse organizado e sério? Se não sofresse de tantos males? Sinceramente, tenho grandes dúvidas.
Um amigo meu diz que no Brasil o português se libertou de todas as amarras e preconceitos que a sociedade católica dominada pela Inquisição lhe impunha. Se pensarmos que a essa atitude libertadora devemos juntar a música e a magia dos africanos e a indolência e permissividade dos índios, percebemos melhor porque a vida por aqui tem que ser sempre uma festa.
Tim Maia dizia que 'o Brasil nunca poderia dar certo: um paíss onde prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme e traficante se vicia'. Para mim, é o oposto. É por tudo isso que o Brasil vai dar certo. Sociedades cinzentas onde tudo tem regras, onde tudo é previsível e está organizado não asseguram mais felicidade para ninguém. Países onde o consumismo é o fim, e não o meio, não nos fazem mais felizes. Tem muito espaço para o Brasil crescer dando melhores condições de vida à maioria da população que ainda sofre carências básicas a vários níveis. Mas não precisa de se transformar num país ocidental sem alma nem alegria.
O Brasil não se enquadra bem nas regras e classificações do mundo actual. Alguém dizia que a maioria dos países são do primeiro, do segundo ou do terceiro mundo. Mas só o Brasil é um país do outro mundo.
Eu estou por aqui há cinco anos. Vou passar alguns meses fora e já começo a ter saudades deste estilo despojado e bem disposto de viver. Tim Maia disse uma vez: 'Viver no exterior é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil é uma merda, mas é muito bom!'
Daqui a uns meses digo-vos se ele tinha razão."

João Mesquita, Ecos do Rio, crónica publicada no Semanário Económico de 25 de Julho (Joaomesquita@globo.com)

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