29.9.09

nada é mais exactamente terrível

[ ix ]
NADA é mais exactamente terrível do que
estar sozinho em casa, com alguém e
com alguma coisa)

Partiste há risos

e o desespero imita uma rua

eu inclino-me à janela, contemplo espectros,
um homem
estreitando uma mulher num parque. Perfeito


e ao de leve (porquê? Ou para não compreendermos)
ao de leve eu estou ouvindo alguém
a vir para cima, cautelosamente
(cautelosamente subindo atapetado lanço após
atapetado lanço. serenamente, subindo
os atapetados degraus do terror)


e continuamente eu estou vendo alguma coisa

inalando suavemente um cigarro num espelho



e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & alvim

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o ócio torna lentas as horas…

O ócio torna lentas as horas e velozes os anos. A actividade torna rápidas as horas e lentos os anos. A infância é a actividade máxima, porque ocupada em descobrir o mundo na sua diversidade.

Os anos tornam-se longos na recordação se, ao repensá-los, encontrarmos numerosos factos a desenvolver pela fantasia. Por isso, a infância parece longuíssima. Provavelmente, cada época da vida é multiplicada pelas sucessivas reflexões das que se lhe seguem: a mais curta é a velhice, porque nunca será repensada.

Cada coisa que nos aconteceu é uma riqueza inesgotável: todo o regresso a ela a aumenta e acresce, dota de relações e aprofunda. A infância não é apenas a infância vivida, mas a ideia que fazemos dela na juventude, na maturidade, etc. Por isso, parece a época mais importante, visto ser a mais enriquecida por considerações sucessivas.

Os anos são uma unidade da recordação; as horas e os dias, uma unidade de experiência.



cesare pavese
ofício de viver - diário (1935-1950)
trad. alfredo amorim
relógio d´água
2004

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27.9.09

Incerto vale mais do que certo


NASCIDO no seio de uma família tradicional chinesa radicada em Singapura, Thomas Lim, hoje com 31 anos, tem uma vida marcada por uma fase caseira e outra itinerante. O realizador não deixou a ilha natal até aos 21 anos, mas depois disso não tem parado. As viagens por toda a Ásia e pela Europa “fizeram-lhe ver um mundo cheio de possibilidades no horizonte”. Desde o ano passado, Thomas vive com a mulher em Macau, onde encontrou um sítio acolhedor para desenvolver os seus projectos artísticos.
Mas é preciso recuar aos tempos de juventude ver como germinou a paixão pelos palcos. Em Singapura, Thomas estudava finanças na universidade quando se começou a envolver com grupos de teatro Numa altura em que “não havia muitas coisas interessantes para fazer em Singapura”, entrou em peças de teatro e conheceu actores profissionais, que o introduziram no meio.
Finda a universidade, em 2001, surgiu a altura de tomar uma decisão que seria marcante em todo o percurso futuro. Ou Thomas procurava um emprego estável na sua área de formação académica, ou iria prosseguir o sonho do teatro. “Os meus pais são conservadores, a minha mãe valoriza a segurança acima de tudo e queria para mim um trabalho estável”, recorda. Mas mesmo perante os desencorajamentos familiares, o jovem pendia para o mundo do espectáculo. Indeciso ainda, pegou numa mochila e foi sozinho conhecer a Ásia ao longo de seis meses. Primeiro esteve na Tailândia, a seguir percorreu todo o sudeste asiático. O périplo abriu-lhe os olhos. “Foi uma viagem que me fez ver que devia seguir o meu coração e procurar ser actor, por isso decidi ir para uma mestrado de representação em Londres
Em Inglaterra, numa cultura estranha, sentiu-se como que numa encruzilhada. “Falava chinês, mas não tão bem como os chineses, falava inglês, mas não como os ingleses, sentia que não me encaixava, que era demasiado genérico e que ali não me podia distinguir como actor.” Ciente das suas raízes chinesas, o singapuriano concluiu os estudos londrinos e foi para o centro do “império do meio” . Em Pequim permaneceu quatro anos, aperfeiçoando o seu chinês e, sobretudo, dedicando-se à aprendizagem de Kung Fu, uma paixão de infância e uma forma de se aproximar do teatro físico. Mas uma lesão grave nas costas, que o incapacitou durante um ano, afastou o desiderato de vir a ser um novo Bruce Lee. A vida na capital chinesa foi dura. “Singapura é uma ilha pequena, enquanto a China é um país imenso e quanto mais a conheço, mais descubro que nada sei da China”. Não foi fácil integrar-se numa cultura que, apesar das raízes comuns, lhe parecia estranha e tentar ganhar espaço na indústria teatral chinesa. A época trouxe a recompensa de ter-se apaixonado pela japonesa com quem vive hoje em Macau. No meio de desilusões e enganos profissionais, surgiu o seu primeiro contrato enquanto actor, para participar numa mini-série televisiva norte-americana e depois, em 2007, desempenhou um papel importante numa série chinesa.
Foi em Pequim, e através de actores amigos, que o perfilado foi convidado para dar alguns espectáculos em Hong Kong e Macau, que visitou pela primeira vez em 2004. Farto das dificuldades de Pequim, Thomas imprimiu então mais um volte face na sua vida, vindo com a companheira para Macau, corria o ano de 2008. “Decidimos vir juntos para um sítio onde pudéssemos encontrar uma pequena plataforma para os nossos trabalhos. Eu queria realizar os meus filmes, sempre senti que tinha histórias para contar”, descreve. A mulher tinha estudado pastelaria e Macau, com rendas mais acessíveis e um ambiente pacato, surgiu como o espaço indicado para abrir a Hoshizora, uma loja de bolos japoneses que funciona junto à igreja de São Lázaro.
Apesar da indústria de cinema estabelecida em Hong Kong, a preferência de Thomas também se inclinava pela “bela” Macau: “Cheguei a viver seis meses em Hong Kong. Mas uma das coisas que gosto mais na vida é conversar, conhecer pessoas e fazer com que me conheçam . Isso requer tempo, e em Hong Kong não há espaço para isso, nem físico nem mental. As pessoas em Hong Kong estão sempre muito atarefadas. Depois é uma cidade cara, demasiado povoada e mentalmente esgotante. Mas é claro que é uma das cidades mais importantes da Ásia e que uma das razões para a escolha de Macau se prende com a sua proximidade, posso ir lá trabalhar sempre que seja preciso.”
Em Macau foi germinando o guião de Roulette City, que conta a história de um chinês que vem para a cidade jogar, na esperança de uma melhor vida. Trata-se, de acordo com o autor , de uma reflexão sobre as escolhas que as pessoas têm ou não na vida: “Se olharmos para o mundo, apenas um grupo de privilegiados pode escolher. No filme, os casinos significam coisas diferentes para uma pessoa de Macau e outra da China. Para o chinês significa a única chance para ter uma vida melhor, enquanto a personagem de Macau hesita entre voltar à universidade, ou continuar a trabalhar no casino, onde sabe que pode ganhar mais dinheiro. Ele arrisca tudo o que tem, ela não precisa de o fazer.” Em fase de pós-produção, o filme de Thomas Lim deverá estar concluído em breve. O realizador pretende concorrer com a obra aos principais festivais de cinema. No horizonte está já a rodagem de uma curta metragem com uma cantora de Singapura, que estará em na RAEM nas próximas semanas.
Texto: P.B./Foto: António Mil Homens

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26.9.09

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24.9.09


José Pereira Coutinho, da lista Nova Esperança



Paul Chan Wai Chi, da lista Próspero Macau Democrático


Foram estes dois dos vencedores das eleições legislativas em Macau. Entrevistei e fotografei ambos, para o Ponto Final.

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23.9.09

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AS melhores ideias da campanha eleitoral:

BE: Criar um programa de reabilitação urbana suportado totalmente pelo Estado, para arrendamento jovem. A contrapartida dada pelos privados ao Estado seria que as rendas revertiam para o estado durante 10 anos. (Penso que o programa é exequível, mas teria que se ver que obras iam ser feitas. Em obras mais ligeiras, poder-se-ia prever um período menor de rendas revertíveis para o Estado, em obras de fundo, um tempo maior)

PP: Parte do rendimento mínimo seria dado em géneros, para evitar a fraude. Boa ideia. Se as pessoas têm carências básicas, que não lhes falte o que comer. Nada de dinheiro do Estado para drogarias. LOL... (a sério, a ideia é boa)

PS e PSD: Não ouvi nada de jeito, nada de novo.

Outros: O POUS tem a ideia mais utópica: "PROIBIR OS DESPEDIMENTOS" LOLOLOLOLOLOLOLOLOLOL

Alguém ouviu mais pérolas? Comentem.

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22.9.09


GATO Fedorento Esmiúça o Sufrágio: entrevista a Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, Paulo Portas, José Sócrates e Manuela Ferreira Leite.

Veja qual dos cinco tem mais fair play.

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21.9.09

DONT you love her face
Dont you love her as shes walkin out the door
Like she did one thousand times before
Dont you love her ways, tell me what you say

Dont you love her as shes walkin out the door

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20.9.09

Pensamentos do dia

AGOSTINHO da Silva:


"Deus não exige de nós nenhum culto; prestamos a nossa homenagem a Deus, entramos em contacto pleno com o Universo, quando desenvolvemos a nossa inteligência e o nosso Amor: um laboratório, uma biblioteca, são templos de Deus; uma escola é um templo de Deus, e o mais belo de todos. Todos podemos ser sacerdotes, porque todos temos capacidades de Inteligência e de Amor; e praticamos o mais elevado dos cultos a Deus quando propagamos a cultura, o que significa o derrubamento de todas as barreiras que se opõem ao Espírito. Estão ainda longe de Deus, de uma visão ampla de Deus os que fazem consistir o seu culto em palavras e ritos; mas dos que subirem mais alto não pode haver outra atitude senão a de os ajudar a transpor o longo caminho que ainda têm adiante. Ninguém reprovará o seu irmão por ele ser o que é; mas com paciência e persistência, com inteligência e com amor, procurará levá-lo ao nível mais alto.

Para que possa compreender Deus, para que possa, melhorando-se, melhorar também os outros, o homem precisa de ser livre; as liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização, social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito critico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio; ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura que a sua cultura se for alargando; para um bom governante, cada cidadão não é uma cabeça de rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte das preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de exploração e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a liberdade de Espírito dos outros. No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos.”

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PONTO Final com uma edição especial dedicada às eleições, feita em português, cantonês e inglês. Uma iniciativa que, tanto quanto sei, é inédita na imprensa de expressão portuguesa de Macau. Desta vez, o jornal pôde ser lido por todas as comunidades. Idealmente seria sempre assim, mas tal não é exequível, devido ao tempo que se perde com as traduções e aos meios que são necessários. Para se ter uma ideia, a edição fechou de manhã.

18.9.09

QUANDO estava a pregar no Pico dos Abutres, o Buda mostrou aos discípulos, em silêncio, uma flor. Apenas Kashyapa compreendeu, e sorriu. Assim lhe foi transmitido, à margem de qualquer doutrina ou de qualquer texto, o selo do espírito de Buda.



Na atitude de meditação, sentado de pernas cruzadas, mão esquerda no regaço, direita estendida para o solo, com a palma para dentro, Buda faz o gesto canónico de vitória sobre Mara. Mara, "a morte", é o maligno, soberano dos desejos e demónio tentador. Exerce sobre as criaturas vivas um poder incontestado e a sua força é imensa.
Na lenda búdica, Mara perturba a meditação de Buda, quando este se sentou impassivo sob a árvore da iluminação, em Bodhgaya, na Índia (um sítio magnífico, onde já estive). Primeiro, envia contra o Bodhisattva o seu exército de demónios com caras repulsivas e corpos monstruosos, mas as armas transformam-se em flores.

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17.9.09

Só na China

ENCONTRA-SE na recta final a campanha eleitoral para eleição de deputados à Asssembleia Legislativa da RAEM. Nesta "democracia condicionada", como lhe chama com simpatia a CIA no seu interessante "world factbook", são apenas eleitos menos de metade dos tribunos. Os restantes são nomeados.
Apesar de tudo, a campanha é um momento para discutir ideias sobre o futuro de Macau. Algumas das propostas são deliciosas. Como esta, da lista 15:

"Salvaguardar a benevolência do povo"



Mas, como é que se faz isso? Gostava de saber

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15.9.09

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13.9.09

O fim do chamado "comércio justo"

"DEZ anos após a abertura da primeira Loja de Comércio Justo, a crise chegou aos estabelecimentos que lutam contra o trabalho infantil e a exploração dos trabalhadores. Em Lisboa já não existe qualquer loja e muitas outras estão em risco de fechar.

Primeiro fechou uma no Porto, depois seguiu-se a única loja que existia em Lisboa. A loja de comércio justo da baixa de Coimbra também não conseguiu resistir à crise. Em Guimarães, Álvaro Dinis, da Cor de Tangerina, teme também pelo futuro do seu estabelecimento localizado no centro histórico "mesmo em frente ao Palácio dos Duques".

"Na hora de comprar, as pessoas questionam-se" e acabam por sair de mãos vazias, diz Álvaro Dinis. "A crise começou em Setembro do ano passado, quando sentimos uma redução de 20 a 30 por cento das vendas. Hoje, temos uma redução de 50 a 70 por cento. Já equacionámos o encerramento da loja", desabafou.

O responsável pela abertura da primeira loja em Portugal, Miguel Pinto, reconhece que a "situação é bastante difícil". "Chegámos a ter oito lojas e hoje temos apenas cinco: duas no Porto, uma em Guimarães, outra em Braga e em Amarante. Já fechámos uma loja em Lisboa outra no Porto e em Barcelos", contou à Lusa.

Quando em Agosto de 1999 Miguel Pinto abriu em Amarante a primeira loja de Comércio Justo em Portugal não imaginou que, passados dez anos, se iria confrontar com a actual situação. Depressa começaram a aparecer interessados num projecto que defendia os direitos dos pequenos produtores do sul do mundo assim como todos os trabalhadores marginais, desde os povos indignas às mães solteiras e viúvas.

No início, as pessoas "duvidaram da iniciativa", mas depressa perceberam que "era real", lembra Miguel Pinto. Um pouco por todo o país começaram a aparecer espaços que davam a garantia de que os produtos exóticos, oriundos de países pobres do Sul, eram produzidos respeitando o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores.

No entanto, "o consumidor responsável - disposto a pagar mais para ter a certeza de que se trata de comércio justo, sem exploração infantil e amigo do ambiente - representa apenas um por cento dos portugueses", lembrou João Fernandes, director executivo da Oikos referindo-se a um estudo europeu realizado há cerca de cinco anos.

Para João Fernandes é preciso que as pessoas percebam que "os seus valores éticos não podem estar dissociados do consumo e da forma como investem o seu dinheiro" e para isso é preciso haver um marketing social que mude a mentalidade dos portugueses.

No entanto, reconhece, "só quando há algum desafogo a nível económico é que é permitido às pessoas terem uma consciência responsável". Esta é uma ideia corroborada por Ana Luisa, da associação Reviravolta, no Porto: "em tempos de crise, as pessoas pensam primeiro nas suas necessidades básicas". Resultado: "temos quebras de 30 por cento de vendas em todas as nossas lojas", diz Miguel Pinto.

Apesar de haver menos consumidores, todos os responsáveis envolvidos nestes projectos acreditam que hoje os portugueses estão mais sensibilizados para a causa. Em Lisboa, onde a loja teve quebras de 50 por cento que não permitiram continuar com o projecto, Miguel Pinto continua a vender: "agora as pessoas fazem encomendas on-line e nós fazemos entregas ao domicílio por envio postal"."

*** Sílvia Maia, da agência Lusa ***

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12.9.09

Os chupistas

EAST Timor aid: where did billions go?

By ANTHONY DEUTSCH
Associated Press Writer


DILI, East Timor (AP) -- A decade after tiny East Timor broke from Indonesia and prompted one of the most expensive U.N.-led nation-building projects in history, there is little to show for the billions spent.

The world has given more than $8.8 billion in assistance to East Timor since the vote for independence in 1999, according to figures compiled by The Associated Press from the U.N. and 46 donor countries and agencies. That works out to $8,000 for each of East Timor's 1.1 million people, one of the highest per person rates of international aid.


But little of the money, perhaps no more than a dollar of every 10, appears to have made it into East Timor's economy. Instead, it goes toward foreign security forces, consultants and administration, among other things.

In the meantime, data from the International Monetary Fund, World Bank, World Food Program, U.N. Development Program and others show the money has done little to help the poor. In fact, poverty has increased. Roads are in disrepair, there is little access to clean water or health services, and the capital is littered with abandoned, burned-out buildings where the homeless squat.

(...)

Timor still faces grave challenges:

- Between 2001 and 2007, the number of Timorese living in poverty jumped nearly 14 percent to about 522,000, or roughly half the population, according to the World Bank.

- Children make up half of the poor, and 60 percent of those under 5 suffer malnutrition, the World Bank and World Food Program found.

- The Norwegian Agency for Development Cooperation concluded in a 2007 report that very little aid was channeled into "productive activities, including private sector development."

- The unemployment rate for 15- to 29-year-olds in the capital, who make up the vast majority of the national work force, was more than 40 percent in 2007, according to the IMF and the state.

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11.9.09

JORNAIS e jornalistas, por Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Insultar' (uma provocação)

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Cantão


Cantão, originally uploaded by BARBOSA BRIOSA.

Homens jogam às cartas, ao meio de um dia muito quente na cidade

10.9.09

Cantão


Cantão, originally uploaded by BARBOSA BRIOSA.

pensamento do dia

"I don't know, sometimes when I'm dancing I get into it so hard that I really forget who we are."

9.9.09

Voltar a casa

"RECEBI um pedido - de resto, vago - para escrever um guião (de cinema) sobre um romance de Camilo (no caso, O Esqueleto). Resolvi ler a obra toda - uma apreciável empreitada. Não me vou expandir em considerações literárias, para que não tenho competência. Embora não inteiramente analfabeto, três coisas me fizeram impressão. Primeira, a quantidade de palavras, que não conhecia e que fui obrigado a procurar em dicionários (os melhores do mercado), em que elas, para minha surpresa, não constavam. Segunda, as dificuldades da construção sintáctica, que já não me era familiar e quase me obrigou a decifrar certo português como latim. E, terceira, o já esperado embaraço - e também vergonha - de traduzir prosa para acção. Como dizia alguém a Scott Fitzgerald, por volta de 1930, não é possível fotografar adjectivos - nem verbos, nem preposições.
O empobrecimento da língua (não só devido à minha idade) custa. Não se lê interminavelmente uma prosa primária - na imprensa e nos livros que vão saindo - sem sofrer as consequências. Um dia, há pouco tempo, uma figura notável dos jornais (um director) resolveu declarar o meu "estilo" antigo. E, na medida em que usa mais de cem palavras, com certeza que é. Mas não me parece que o "estilo" SMS ou o "estilo" TV tenham aumentado consideravelmente a capacidade da expressão humana (e, em particular, da portuguesa). Sei muito bem, e tristemente, que a cultura das letras começa a desaparecer e está, a muito curto prazo, condenada. Mas não deixo de lamentar que o prazer de uma frase, de um parágrafo ou de uma vírgula maléfica se percam para sempre.
Este último ano que passei na televisão não foi feliz, sem culpa nenhuma para Manuela Moura Guedes, que me tratou com inalterável generosidade. À parte a minha má imagem (um understatement), a minha má voz, geral incoerência e péssima dicção, sucede que escrever (um ofício em que me eduquei) é exactamente o contrário de falar. Quem fala improvisa; quem escreve calcula, planeia, emenda, substitui. Os dois processos são contrários. Pior, são incompatíveis. Verdade que a prosa acabou por me levar à televisão: um compreensível acidente. Só que "um homem de letras", mesmo medíocre, nunca, no fundo, se transforma. Voltar a este privilegiado canto é, para mim, como voltar para casa."


Vasco Pulido Valente, In Público

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8.9.09

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7.9.09




"EIS, ó monges, a verdade mística sobre a dor: o nascimento é dor, a doença é dor, a morte é dor, a união com o que se destesta é dor, o afastamento daquilo que se ama é dor, a impotência em obter aquilo que se deseja é dor. Em resumo, os cinco agregados de apropriação são dor."





[primeira das "Quatro Nobre Verdades", enunciadas no sermão inaugural de Buda, em Sarnath, perto de Varanasi, magnífica cidade onde já estive, e que me inspirou o poema que se segue]


Varanasi


Um grande sábio budista

A civilização máquina do século

dentro da minha cabeça

Ouço cânticos e ladainhas lá fora, na margem do Ganges

Terra de ascetas, de adoradores de ídolos

As chamas dos crematórios aquecem-me

envolvem-me numa névoa mistificadora

Também eu serei cinzas, um dia

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6.9.09

pensamento do dia

VEMO-NOS no outro mundo, se Deus quiser.
O poder subversivo do humor gráfico é a melhor arma de defesa dos pobres e oprimidos. Em Portugal, na exposição "A liberdade é um risco", a China foi o país com maior participação. Os organizadores justificam esta adesão pela capacidade crítica do cartoon e do riso se afirmar como a arma mais eficaz contra os despotismos. O cartoonismo chinês mantém algumas estéticas locais mas a maioria das obras popularizou-se e a importância que o cartoon editorial e de imprensa chegou a alcançar antes da Revolução Cultural, hoje jâ não é a mesma. Depois de Mao e da abertura do país, nada voltou a ser como dantes.

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Todas as coisas têm o seu tempo auspicioso

"O espírito grego clássico, que ainda hoje domina a ciência e a filosofia no Ocidente, privilegia a função activa da inteligência, que, para compreender a realidade, decompõe-na segundo critérios criados pela própria inteligência.
Na filosofia tradicional chinesa, pelo contrário, a inteligência procura observar a realidade em toda a sua integridade, como os actuais sinólogos têm demonstrado.
Assim, os filósofos chineses, observadores argutos da realidade, preferiram que esta se revelasse por si própria sem tentarem impor-lhes critérios. Observando uma montanha, constataram o seu lado escuro e o seu lado soalheiro. É o yin e o yang, o começo de tudo. Ao mesmo tempo, a realidade transforma-se ciclicamente ao ritmo das quatro estações. Por isso, estas constituem um paradigma do processo da transformação. O ritmo sazonal não pode ser ignorado pelo Homem, sob pena de se cometerem erros. E aqui a filosofia chinesa e a Bíblia encontram-se: "Todas as coisas têm o seu tempo, e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora".
Foi devido a esta preocupação com a descoberta dos tempos certos para as acções que os chineses desenvolveram diversos sistemas para a descoberta dos tempos 'auspiciosos' para os diversos tipos de actividade. A multplicidade desses sistemas foi tal que o Imperador Qian Long (1736-1795) encarregou um grupo de sábios de organizarem um sistema unificado, que é o que ainda hoje é seguido no Tong Shu. Apesar da natural tentação de se ver o almanaque chinês como uma mera crença popular, ele é, na verdade, sustentado por todo um trabalho filosófico e de compreensão da realidade.
Os chineses preocupam-se mais com a harmonização das suas próprias acções com os ritmos naturais. Preferiram olhar a realidade tal como ela é (ou melhor, tal como ela se apresenta), sem tentar decompô-la. Ao passo que no Ocidente primeiro estabeleceram-se os princípios metafísicos e, num segundo passo, procurou-se analisar a realidade à luz desses mesmos princípios." (...)

in Revista Macau, pág. 67, Dezembeo 2008

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5.9.09

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4.9.09

[a canção do diabo]

YOU can never go a-hunting
With just a flintlock and a hound
You won't go home with a bunting
If you blow a hundred rounds

It takes much more than wild courage

Or you'll hit the tattered clouds
You must have just the right bullets
And the first one's always free

You must be careful in the forest
Broken glass and rusty nails
If you're to bring back something for us
I have bullets for sale

Two, three, four

Why be a fool when you can chase away
Your blind and your gloom
I have blessed each one of these bullets

And they shine just like a spoon

To have sixty silver wishes
Is a small price to pay
They'll be your private little fishes
And they'll never swim away

I just want you to be happy
That's my only little wish
I'll fix your wagon and your musket
And the spoon will have its dish




(Tom Waits/William Burroughs)
Now, George was a good straight boy to begin with
But there was bad blood in him someway
and he got into the magic bullets
that lead straight to the Devil's work
Just like marijuana leads to heroin
You think you can take them bullets and leave 'em, do you?
just save a few for your bad days, well...

Well, we all have those bad days when we can't hit for shit
And the more of them magics you use
the more bad days you have without them

So it comes down to finally
all your days being bad without the bullets
it's magics or nothing
Time to stop chippying around and kidding yourself
Kid, you're hooked, heavy as lead

And that's where old George found himself
Out there at the crossroads
molding the Devil's bullets
Now a man figures it's his bullets, so it'll take what he wants
But it don't always work out that way
You see, some bullets are special for a single target
a certain stag or a certain person
And no matter where you aim, that's where the bullet'll end up

And in the moment of aiming, the gun turns into a dowser's wand
and points where the bullet wants to go

George Schmid was moving in a series of convulsive spasms
Like someone in an epileptic fit
With his face contorted and his eyes wild like a lassoed horse
bracing his legs, but something kept pulling him on
Now he is picking up the skulls and making the circle

I guess old George didn't rightly know what he was getting himself into
The fit was on him and it carried him right to the crossroads


Tom Waits Crossroads lyrics, para o meu amigo e poeta Black Rider
Ride On, man, Come on along!

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3.9.09

pensamento do dia

"O futuro, de repente, virou passado, sem nunca ter sido presente."

Rodrigo de Matos

2.9.09


MUDEI de casa, agradecendo ao Carlos pelos votos de bem haja formulados ontem em editorial "a todos os que deixaram uns meses das suas vidas no HM", o que é uma coisa justa de se dizer. Para assinalar este novo passo em frente na minha carreira, eis o meu primeiro artigo no Ponto Final.

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O Presidente teve toda a razão no seu veto. Toda. Teve razão, teve bom-senso, teve lucidez e mostrou (já não foi a primeira vez...) ser capaz de reflectir para lá da espuma viscosa do politicamente correcto. Para aqueles que ainda não compreenderam que ser de esquerda não é apoiar entusiasticamente qualquer disparate 'fracturante', mas sim, e por exemplo, pagar todos os impostos devidos sem ocultar nada, o veto do Presidente foi execrado como manifestação de reaccionarismo e conservadorismo moral insuportáveis. Cheguei a ver escrito que Cavaco já tinha passado o seu prazo de validade ideológica e que não era deste século. Que tranquilo que deve ser viver assim, com tantas certezas prontas a vestir, sem necessidade de perder tempo a pensar ao menos nas consequências práticas daquilo que defendem! Foi assim, por exemplo, com a nova lei do divórcio, que o sempre 'moderno' José Sócrates apresentou como uma espécie de libertação definitiva das grilhetas do casamento por parte de quem não queria manter-se casado. Na prática, como não existia na lei e desde há muito, essa suposta 'prisão' matrimonial, o que se fez foi desproteger totalmente o lado mais fraco, mais pobre e mais vulnerável de um casamento acabado. Foi uma lei profundamente anti-social, mas que prestou tributo a essa cultura urbana, supostamente moderna e de esquerda, que vive de clichés e de verdades importadas.
Miguek Sousa Tavares, in Expresso

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yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay...

"MISTERIOSAS circunstâncias envolveram a morte de todos os elementos do grupo de música brasileira Mamonas Assassinas. (...) As somas fonéticas do prefixo do avição (PT LSD) e do nome Mamonas Assassinas dão sete; havia sete tripulantes a bordo do avião; o ciclo sete da numerologia estava a passar pelo mapa astral do vocalista, Dinho, que completaria sete dias depois do acidente 25 anos (dois e cinco dão sete). 'O sete simboliza a grande cruz do karma, sacrifícios e cobranças. É a casa da dor, da expiação e da perda', explicou a numeróloga Amabile Bouzon, em entrevista ao jornal Dia, do Rio de Janeiro, Esta opinião é reforçada no mesmo artigo pelo 'pai-de-santo' Josemar de Ogum, que afirma que a banda teve sete meses de sucesso: 'Somando os números do ano da morte de todos os elementos do grupo, 1996, o resultado é 25. E dois mais cinco dá sete. Além disso, o odu (destino) de Omolu, o orixá que rege o ano, é sete, número de sacrifício'".

1.9.09

DIZ-SE que Rimbaud, no tempo em que escrevia o seu “livro negro” (Une Saison en Enfer), terá afirmado: “O meu destino depende deste livro!” Nem o próprio Rimbaud sabia como era profundamente verdadeira essa afirmação. À medida que começamos a compreender o nosso próprio destino trágico, começamos também a perceber o que ele queria dizer. Tinha identificado o seu destino com o da época mais crucial de que o homem tinha conhecimento. Das duas uma, ou, como Rimbaud, renunciamos a tudo aquilo que a nossa civilização tem representado até aos nossos dias, e procuramos construir desde o princípio, ou destruímo-la com as nossas próprias mãos. Quando o poeta está no nadir, então não há dúvida de que o mundo está de pernas para o ar. Se o poeta já não pode falar em nome da sociedade, mas apenas em seu próprio nome, então é porque estamos encurralados na última trincheira. Sobre o cadáver poético de Rimbaud, começámos a levantar uma torre de Babel. Nada significa o facto de ainda haver poetas e de alguns deles ainda serem inteligíveis, capazes de comunicar com a multidão. Qual é o rumo da poesia e onde reside o elo entre o poeta e a sua audiência? Qual é a mensagem? Esta é a pergunta mais importante. Qual é a voz que hoje em dia se faz ouvir, a do poeta ou a do cientista? Andamos a pensar na Beleza, por amarga que seja, ou anda mos a pensar na energia atómica? E qual é a principal emoção que as nossas grandes descobertas inspiram? Pavor! Temos saber e não temos sabedoria, temos conforto e não temos segurança, acreditamos mas não temos fé. A poesia da vida expressa-se apenas em termos matemáticos, físicos, químicos. O poeta é um pária, uma anomalia. Caminha para a extinção. Quem é que hoje se preocupa com o facto de o poeta se tornar a si próprio monstruoso? O monstro anda à solta. Passeia-se pelo mundo. Fugiu do laboratório e está ao serviço de seja quem for que tenha coragem suficiente para lhe dar emprego. Na verdade, o mundo tornou-se número. A dicotomia moral, como todas as dicotomias, sofreu um colapso. Atravessamos uma era em que uma grande maré tudo arrasta ao acaso. Começou a grande deriva.
E os loucos falam de reparações, inquisições, retribuições, de alinhamentos e coligações, de comércio livre e de estabilidade e revitalização económicas. Nenhum deles acredita, no fundo, que a situação mundial possa ser regulada. Todos aguardam o grande acontecimento, o único acontecimento que nos preocupa dia e noite: a próxima guerra. Pusemos tudo em total desordem e ninguém sabe nem como nem onde procurar os meios de a controlar. Os travões ainda estão no sítio, mas será que funcionam? Sabemos que não. O demónio anda à solta. A era da electricidade já lá vai há tanto tempo como a Idade da Pedra. Esta é a Idade do Poder, do poder puro e simples. Agora a escolha é entre céu e inferno; já não é possível meio termo. E tudo indica que vamos escolher o inferno. Se o poeta vive o seu inferno, já não é possível ao homem comum escapar dele. Terei eu dito que Rimbaud era um renegado? “Todos somos renegados. Desde o alvorecer dos tempos que andamos a renegar. Finalmente, o destino consegue andar a par connosco. Todos, homens, mulheres e crianças, identificados com esta civilização, vamos entrar na nossa Estação no Inferno. É isso que temos andado a pedir; cá está. Aden ainda nos há-de parecer um local confortável. No tempo de Rimbaud ainda era possível deixar Aden e partir para Harare, mas daqui por cinquenta anos o mundo há-de parecer uma vasta cratera. Apesar do que em contrário possam dizer os cientistas, o poder que o homem tem hoje nas mãos é radioactivo, é permanentemente destrutivo. E nunca pensámos no poder em. termos de bem; apenas em termos de mal. Nada existe de misterioso no que toca à energia do átomo; o mistério reside no coração dos homens. A descoberta da energia atómica ocorre em sincronia com a descoberta de que nunca mais podemos confiar uns nos outros. Aqui, neste medo capaz de se multiplicar como as cabeças da Hidra, medo que nenhuma bomba consegue destruir, aqui é que reside a nossa fatalidade. O verdadeiro renegado é o homem que perdeu a fé no seu semelhante. E a perda da fé, hoje, é universal. Aqui, neste ponto, o próprio Deus é impotente. A nossa fé transpôs-se para a bomba e será a bomba a responder às nossas orações.”



O Tempo dos Assassinos
Henry Miller
Hiena Editora, 1983
Colecção Cão Vagabundo 8

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